quarta-feira, 24 de julho de 2013

Papa desafia sonho dos jovens

Para Leonardo Boff o cristão tem que começar a refletir e ser antissistema, anti-marketing, anti- consumista. Ser contra a diminuição da maioridade penal completa esse raciocínio. A opção pelos pobres está inserida nessa reflexão e é a mensagem do papa Francisco. 
Matéria do Jornal Brasil de Fato
 
 
Papa desafia sonhos dos jovens”, diz Boff

23 julho, 2013 - 12:01 — vivian

Para o teólogo, papa Francisco poderá engajar juventude por transformações

sociais
23/07/2013

Vivian Virissimo

do Rio de Janeiro (RJ)

Aos 74 anos, o teólogo da libertação Leonardo Boff está entusiasmado com

as possíveis transformações da Igreja Católica. Segundo ele, desde que Jorge

Mario Bergoglio tornou-se o papa Francisco, muita coisa mudou na estrutura

milenar da instituição. “Os dois papas anteriores eram centrados na disciplina,

agora o centro são os pobres”, define.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o teólogo não economiza elogios ao papa


argentino.“Ele é diferente. Papa Francisco vem de um cristianismo engajado

nas transformações sociais”. Em tempos de Jornada Mundial da Juventude

(JMJ), Boff também condenou a possibilidade de redução da maioridade penal,

denunciou o extermínio da juventude pobre nas periferias do país e criticou os

movimentos carismáticos da Igreja Católica.

Confira a entrevista:
Brasil de Fato - O papa Francisco defende que pobreza não se combate

com filantropia, mas com justiça social. Qual o potencial que essa

visão tem de transformar a Igreja?

Leonardo Boff - Essa é a tese da Teologia da Libertação, de Paulo Freire, e


de todos os que trabalham na base com o pobre. Ou seja, nenhuma solução

é eficaz se não incluir os pobres. O papa entendeu isso e está seguindo

a tradição da Igreja latino-americana. Isso pode modificar muita coisa e

significar um desafio para movimentos carismáticos que não seguem o

evangelho social. As declarações de Francisco mostram esse rompimento: ele

disse que o verdadeiro cristão tem que ser revolucionário, que todos têm que

atuar na política. Ele também disse que preferia uma Igreja machucada porque

foi à rua, do que uma Igreja doente e asfixiada que ficou no templo. Eu estou

muito entusiasmado.
O Papa disse que “Cristo bota fé na juventude”. Que papel a Jornada

Mundial da Juventude pode desempenhar na melhoria da qualidade de

vida dos jovens?

Grande parte da juventude é conservadora, porque os movimentos

carismáticos trabalhavam apenas com o conceito de piedade, e nunca falavam

de desempregados, das desigualdades, da matança de índios, da destruição

das hidrelétricas, por exemplo. É só “o pai nosso e nunca o pão nosso”.

Agora com esse papa é diferente. Ele vem de um cristianismo engajado

nas transformações sociais. Ele tem clara mensagem para o cristianismo

comprometido e quer desafiar a capacidade de sonho dos jovens. Não basta

ser cristão, tem que começar a refletir, tem que ser anti-sistema, anticonsumista,

não pode ser vítima do marketing. É como o peixe de piracema

que nada contra a corrente: cristão verdadeiro tem que ser contra esse

sistema.
Ao mesmo tempo que o Brasil promove a JMJ, congressistas avaliam a

possibilidade de reduzir a maioridade penal. Qual sua opinião sobre o

encarceramento de jovens na prisão?

Na prisão quem não é bandido, vira bandido. É a pior escola de integração

da sociedade. Reduzir a maioridade penal significa prender pobres e colocar

junto com bandidos. É dentro das carceragens que se tramam assaltos e se

aprende a estratégia de criminalidade. No sentido humanitário, precisamos

criar alternativas, punindo de outras maneiras.
A Pastoral da Juventude denuncia o extermínio da juventude,

sobretudo pobre e negra. Como essa pauta pode avançar com a JMJ?

Durante a jornada, o papa vai defender a vida. Ele conhece de perto esta

situação da criminalização da juventude, até porque isso também acontece

na Argentina, e o cenário é até pior do que no Brasil. Aqui, especialmente a

polícia no Rio e em São Paulo, sobe o morro e não prende mais, eles matam.

Pequisas mostram que a maioria dos jovens mortos levam tiro na cabeça, são

execuções, ou seja, crimes contra a humanidade. O Estado não pode tolerar

isso.
Sobre as recentes manifestações populares, papa Francisco comentou

que são justas e que seguem o evangelho. Por que este discurso inova

diante da antiga conjuntura da Igreja Católica?

Os dois papas anteriores eram centrados na disciplina, agora o centro são os

pobres. Isso fica bem claro em seu discurso. Ele não se entende como papa,

mas como bispo de Roma. Isso significa que é um bispo entre outros bispos.

Ele preside na caridade e não no direito canônico. A grande novidade é que

ele se propõe a fazer uma reforma da Cúria, uma instituição de mais de mil

anos. Agora são oito cardeais para governar junto com ele e fazer as reformas

necessárias.

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