Momento de refluxo e reflexão
Márcia
D´Angelo
16/07/2013
A sensação
que se tem é de que aguardam-se respostas para os protestos ocorridos nas ruas
nas jornadas de junho e para as reivindicações estabelecidas nas paralisações
de julho pelas Centrais Sindicais. Essas respostas não devem partir apenas do
Poder Executivo brasileiro como devem pensar os menos avisados. Na realidade
todos os poderes estão envolvidos numa possível reforma para o melhoramento dos
serviços básicos para a população incluindo as demandas trabalhistas. Houve uma trégua dos movimentos de massa, mas
muitos concordam que se nada ou pouco for efetivado, os “anônimos apartidários” ou a população
novamente podem voltar a se manifestar.
A voz das
ruas é muito importante para avaliar o desempenho dos representantes políticos
dos brasileiros e podemos entender que essa avaliação está muito negativa a
ponto de se perceber que o clamor popular é até contra qualquer político,
contra qualquer instituição, Estado, partido ou sindicato. Já analisamos em
texto anterior que apesar de exigirem o fim dos partidos, sindicatos, políticos
em geral e até do Estado, essa população como manifestação política de massa
está exigindo sim é mais atuação do Estado para resolver as demandas populares
concernentes à educação, saúde, saneamento, transporte, etc.
A grita contra a corrupção é por demais difusa
e desfocada porque não considera, por exemplo, a privatização dos serviços
públicos, sua piora e o destino do dinheiro público resultante dessas vendas
para a iniciativa privada (privatizações) na era Fernando Henrique Cardoso (houve
grande corrupção: bilhões de reais resultantes da venda de instituições
públicas foram parar nos offshores das
Ilhas Virgens Britânicas). Fora isso, e também por isso parece que somente a
presidenta Dilma está empenhada em reformar os serviços públicos para oferecer
melhores condições às classes populares haja vista que o Congresso não
manifesta vontade política para transformações já que não aceita nem o
plebiscito.
Não é fácil
fazer reformas estruturais em países capitalistas periféricos (que o diga o ex-presidente
João Goulart que sofreu um golpe civil militar em 1964), mas parece que agora
ou se modifica o sistema político democratizando o judiciário, os meios de
comunicação, o financiamento de campanhas políticas e se dá condições para
melhorar o sistema educacional, a saúde, o transporte ou a qualquer momento o
país pode ser palco de mobilizações e protestos. Esse é o exercício da
democracia.
A inclusão
de 40 milhões de brasileiros na classe C gerou uma demanda de serviços básicos
para uma população de 200 milhões de pessoas e parece que a grande questão é
essa. Nem o PT, nem Lula ou Dilma poderiam imaginar o que o empoderamento da população que emergiu poderia ocasionar. A
situação é complicada porque exige soluções rápidas que não dependem apenas das
decisões do poder Executivo, mas do empenho do Legislativo e do Judiciário, na
medida em que novas leis teriam que estar tramitando em regime de urgência. Com
um Judiciário absolutista porque vitalício e retrógrado e um Legislativo em sua
maioria conservador a possibilidade dessas reformas fica complicada.
De qualquer
forma, o processo democrático já está em andamento e não é muito difícil o povo voltar às ruas exigindo mudanças e assim sensibilizar o
Legislativo que só se move com o esse tipo de ação.
O tempo é curto e mesmo assim medidas já foram tomadas como o
programa Mais Médicos que objetiva atender às demandas populares no setor da
saúde nas periferias dos Estados Brasileiros. Podemos constatar os inimigos
desse processo de mudança na área da saúde (os médicos) por suas manifestações
através de suas entidades de classe e
suas mobilizações nas ruas, contrários que são ao trabalho no SUS por dois anos
depois de formados e à contratação de médicos estrangeiros. O
Interessante é que o último Revalida (2011?) revelou que apenas 7% dos médicos
brasileiros foram aprovados no exame enquanto o nível de aprovação foi de 27%
para os venezuelanos e 25% para os cubanos. Esse é só um exemplo das
dificuldades que sofre o governo (diga-se o poder Executivo) para implementar
reformas e atender aos clamores populares.
Em suma, o
governo do PT em suas versões Lula e Dilma, ao diminuir a pobreza, aumentar o
nível de emprego e incrementar o ensino técnico e o acesso à universidade
através do PROUNI e o programa de cotas
não foi suficiente para resolver as demandas populares; antes pelo contrário,
gerou uma demanda maior ainda, uma vez
que a juventude agora um pouco mais escolarizada sabe se comunicar pela
internet e exige melhores condições para sobreviver no inferno urbano com o
passe livre e outras modificações que sua dignidade de cidadão exige.
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