Medicina Cubana: humanitária, socialista (não visa lucro)
e internacionalista
Márcia D´Angelo
Cuba é um país socialista e gera indivíduos diferentes. A medicina
cubana possui um outro conceito,ou seja, formação de médicos de ciência e consciência.
Os jovens que escolhem ser médicos não vão fazê-lo porque é uma profissão
rentável. Eles sabem que não vão ganhar dinheiro ou vão ter status com a
carreira de médico. A medicina cubana tem como referencial que o mais
importante é o paciente e não o médico. O paciente é tratado de maneira
integral; exemplo: uma pessoa diabética não vai ser tratada apenas do seu
diabetes, mas vai ser investigado porque fica descompensado esse diabetes, e
considerada como um ser que tem direitos e que tem dor. Quem proporciona essa
visão do ser humano de forma integral, humanitária sem considerá-lo um objeto
de pesquisa ou de lucro é o projeto de desenvolvimento humano que está presente
em todas as áreas da sociedade cubana. Os professores educam as crianças dentro
desses princípios, os pais educam seus filhos dentro dessa filosofia e quando
os estudantes escolhem ser médicos (ou outra profissão) eles o fazem com
paradigmas de solidariedade e consideração ao próximo e não pensando em status
e lucro.
Solidariedade humanitária e internacionalismo
Além do
princípio da solidariedade humanitária que não visa ganhos materiais, há também
dentro da filosofia socialista o paradigma do internacionalismo Para José Martí,
líder cubano da guerra de independência contra a Espanha, pátria é humanidade.
A dor do brasileiro é a mesma dor do cubano, do argentino, do guineense, do
haitiano do francês, etc. ou seja: a dor é inerente a todo ser humano. O que
importa é o mundo. Quem criou fronteiras foi o capitalismo, o socialismo é
internacionalista. Os cubanos são educados dessa forma. Quem livrou a África do
Sul do apartheid foram os cubanos (ver batalha de Cuito Cuinavale - 1987). Quem
negociou a libertação de Nélson Mandela foi o embaixador cubano. Para os
cubanos o conceito do internacionalismo é cultivado desde a infância. Para eles
não importa somente Cuba, mas o resto do mundo. Os jovens são permanentemente
educados nesse sentido.
Pátria é a Humanidade: missões de socorro
Para o
internacionalismo do cubano a pátria é a humanidade. Imaginem um ser humano,
uma criança educada com esses referenciais. Se ela escolhe a profissão de
médico ela vai ser formada num tipo de medicina integral e humanitária porque
socialista. O médico em Cuba não cobra consulta do paciente, tudo é gratuito,
consulta, remédio, exames. Se o médico ou o farmacêutico cobrarem pela consulta
ou remédio eles vão presos (crime hediondo). Tudo é subsidiado pelo Estado e da
melhor qualidade. A medicina é pública em Cuba, não há medicina privada.
Por sua proposta socialista e internacionalista Cuba (governo) entende
as dificuldades dos países vizinhos da América Latina, Ásia, África e envia
missões de socorro na área médica quando solicitada. Ela já enviou suas
brigadas para o Paquistão, Haiti, Venezuela, Nicarágua, Venezuela, etc. É um
erro achar que o governo cubano envia seus médicos para o exterior visando
lucro, haja vista que esses profissionais de medicina recebem o seu salário do
próprio governo cubano. Do Haiti, por exemplo, os médicos cubanos ainda não se
retiraram e continuam
recebendo seus salários de Cuba, mesmo com todas as dificuldades e os bloqueios
econômicos que os Estados Unidos impõem a esse país (Cuba).
É claro que existem acordos firmados entre Cuba e outros países, como a
Venezuela. Os acordos comerciais podem até inserir a ida de médicos também para
a Venezuela (outros profissionais também podem ir), e os cubanos, no caso
médicos que se deslocam para outro país são recompensados pelo governo cubano
com um pequeno aumento no salário, porque ele está levando para outro país a
experiência vitoriosa de Cuba e que pode curar e salvar vidas para além do
espaço cubano.
De acordo com Ana Rosa Sant`Anna Tavares (brasileira, formada em
Medicina em Cuba que trabalhou 1 ano como médica responsável por um policlínico
na aldeia indígena dos guaraus no Estado do Delta Amacuro, às margens do Rio
Orenoco na Venezuela e agora trabalha como coordenadora estadual de saúde
indígena nesse Estado) a diferença salarial é pouca, pode significar trazer
algum bem de consumo para sua família em Cuba ou a isenção de impostos. O
período de missão em geral não pode exceder 2 anos.
Dessa forma, o maior orgulho para o cubano é sentir-se cumpridor de uma
missão internacionalista para combater a violência, a miséria, a catástrofe.
Sentir que fez um bem para outro povo; esse é o objetivo e o efeito motivador.
Relação Cuba e Venezuela: a questão do petróleo
A Venezuela é um dos países mais ricos do mundo na produção e refinaria
de petróleo. A relação da Venezuela com Cuba pode ser considerada de cooperação
e não exatamente uma relação capitalista. Cuba auxilia a Venezuela enviando
profissionais de todas as áreas (engenheiros elétricos, advogados,
especialistas em educação, advogados, atletas, médicos, etc.) e a Venezuela
envia à Cuba energia, petróleo, alimentos que Cuba não produz. É uma relação de
dois países irmãos.
A Venezuela e o Socialismo do século XXI
A Venezuela está construindo um socialismo do século XXI, não como Cuba
ou a URSS cuja população teve que pegar em armas para construir outro sistema
político. A Venezuela constrói o socialismo todos os dias e também pelo voto e
pelas reformas que os governos eleitos promovem. Um exemplo disso é a região já
citada de Delta Amacuro cuja capital é Tucupita. Havia há 2 anos apenas um
hospital nessa capital para uma população de 180 mil habitantes, incluindo a
terra seca e a via fluvial com aldeias ribeirinhas às margens do Rio Orenoco.
Hoje só a região de florestas possui 2 hospitais para atender a população
indígena. O governo cubano colabora nessa empreitada, enviando missões de
engenheiros, médicos, arquitetos, professores, atletas, etc. Pode-se dizer que
sem Cuba não haveria a Revolução Bolivariana.
O Batalhão 51
O Batalhão 51 Dra Migleides Campos Goatache foi criado por Hugo Chavez
em 2005 a partir dos primeiros médicos venezuelanos formados em Cuba na Escola
Latino Americana de Medicina (ELAM). Era a graduação de 51 venezuelanos. Chavez
considera essa primeira graduação de médicos formados em Cuba “Nova Medicina ou
Medicina Revolucionária da Venezuela” e denominou-a Batalhão 51: Médicos de
Ciência e Consciência e
teriam por missão cuidar da população venezuelana a partir daí. Esse episódio
só foi o início. Depois disso Chavez foi para Cuba, conversou com Fidel e abriu
o Batalhão 51 para todos os médicos formados em Cuba que quisessem trabalhar
para a Revolução Bolivariana na Venezuela. Dessa forma, abriu espaço para os
não nascidos na Venezuela. Hoje a maioria do Batalhão 51 é formada por pessoas
internacionalistas já que o que importa
é que a saúde e o bem estar de todas as pessoas independem da nacionalidade.
Médicos Cubanos no Haiti
Quando Fidel Castro criou a Escola Latino Americana de Medicina (ELAM)
ele o fez para formar médicos para trabalhar para o povo com outro conceito de
medicina. Quando ocorreu o terremoto no Haiti o governo cubano enviou médicos
para o Haiti. Em seguida ele enviou mais médicos para se estabelecerem no país
e também médicos formados na ELAM, cubanos ou não. Eles vão como cubanos a mais com a Brigada de Medicina Cubana.
Médico de Família em Cuba
O médico de família em Cuba é responsável pela promoção da saúde,
prevenção de doenças e também realiza interconsultas com especialistas. Cada
médico de Família é responsável por 250 pessoas que moram vizinhas a ele e a
enfermeira. Exemplo: 2.a. feira o pediatra vai até o ambulatório dele e atende
todas as crianças, às quartas feiras o especialista em ginecologia e
obstetrícia é que atende os moradores da região e assim o médico de medicina
interna (clínico geral), o especialista em odontologia e também o psicólogo,
nos vários dias da semana.
As demandas para outras especialidades as quais não podem ser resolvidas
pelo médico de família ou o especialista são encaminhadas para os hospitais os
quais são altamente qualificados internacionalmente. Os hospitais são específicos
para cada especialidade. Há Hospitais especializados em psiquiatria, em
oncologia, neurologia, etc.
Em suma, a medicina em Cuba conta com uma infra-estrutura inigualável.
Possui um Centro Médico com enfermaria onde fica o consultório do médico de família
(para cada 250 habitantes); possui inúmeros hospitais (um para cada escola de
medicina) centros de especialidade e várias UBS.
Salários e gastos em Cuba
Se os salários dos médicos em Cuba são inferiores aos dos países
capitalistas devemos considerar que se gasta muito pouco também para se viver
em Cuba. São gratuitos: médicos, remédios, internação hospitalar, educação,
transportes, alimentação (é subsidiada pelo Estado), aluguel de casas. O que é
pago é o cinema, teatro (muito baratos) sorveteria, bens de consumo.
Brasil: Governo Dilma e o Programa Mais Médicos
O Programa Mais Médicos da presidenta Dilma Rousseff revela que o Brasil
está em condições históricas de implementar mudanças, reformas com caráter
popular que visam atender as demandas no setor da saúde pública. É um Programa
que abrange brasileiros e não brasileiros na medida em que visa deslocar
médicos formados no Brasil ou em países com mais de 1,6 médicos por mil
habitantes para as periferias e regiões brasileiras onde não há médicos. Os
médicos brasileiros depois de formados terão que trabalhar 2 anos no SUS
(Sistema Único de Saúde) e atender a população brasileira. É um outro paradigma
para a medicina brasileira cujos profissionais não são formados com a
perspectiva de atender demandas populares, mas seguirem carreira na medicina
privada, apesar da excelência estar nos hospitais públicos de qualidade.
Aceitar o CRM de médicos formados em Cuba (Escola Latino Americana de
Medicina), por exemplo, já representa um avanço, um outro campo de mentalidade
do governo brasileiro. É começar a perceber que existe um outro conceito de
medicina, não mais mercantilista, mas humanista, solidário e internacionalista.
A população brasileira agradece o Programa Mais Médicos e espera que ele
consiga ser implementado o mais urgente possível.
Seria interessante considerar também que os países capitalistas centrais possuem 40 a 17% de médicos estrangeiros. A Inglaterra possui 40% de médicos
estrangeiros, o Canadá possui 17%, a Austrália 22%, os Estados Unidos 25%
enquanto no Brasil eles não chegam a 2%.
Alguns caracterizam essa situação no Brasil como uma ação xenofóbica e
corporativista (site Tudorondonia.com.br). Inclusive em Rondônia espera-se 6
meses para uma cirurgia ou até em São Paulo chega-se a esperar 2 anos por uma
cirurgia. Altair Donizete (presidente do Sintra Compov) cita a situação dos
trabalhadores da construção civil em Rondônia vítimas de acidentes de trabalho.
Até em hospital privado a espera por cirurgia é muito longa.
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