A diferença quantitativa na ocupação do
espaço público nas atuais manifestações brasileiras
Márcia D´Angelo
As
manifestações de ontem (dia 11/07/2013) convocadas pelas Centrais Sindicais e Movimentos
Populares como o MST foram numericamente bem inferiores às mobilizações do
Outono Brasileiro (metade de junho e inícios de julho). Poderíamos argumentar
que ontem eram trabalhadores que estavam nas ruas colocando sua pauta de reivindicações a todas as esferas do governo da União, Estados e Municípios, portanto aos
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, uma vez que as 40 horas semanais sem
diminuição salarial, a postura contra o PL 4330 sobre as terceirizações, fim do
fator previdenciário, 10% do PIB para a Educação, 10% do orçamento da União para
a Saúde , transporte público de qualidade, valorização das aposentadorias,
reforma agrária, suspensão dos leilões de petróleo dependem de legislações
específicas e o cumprimento das mesmas.
Poderíamos inferir também que as reivindicações foram bem
pontuais e que já acumularam um nível expressivo de discussões tanto em termos
dos trabalhadores nos demais setores elencados como nas instâncias
governamentais dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Os
trabalhadores apareceram no cenário público com suas bandeiras e propostas para
reformar o país que está exercitando o seu jovem processo democrático.
Entretanto, foram várias as análises, tanto da grande imprensa
como de outras fontes no sentido de que o esvaziamento da manifestação sindical
se deve a um anacronismo do modo de fazer sindicalismo, da mesma forma que os
partidos também estão decadentes e necessitam se reestruturar para acompanhar a
onda cibernética que consegue aglutinar milhões com palavras de ordem que
surgem no calor dos passos das caminhadas, bradando reformas e repudiando qualquer
forma de organização que os represente (partidos, sindicatos, governo,
políticos, etc.).
Ora, é fundamental tentar entender o fascínio que exerce na população algo não organizado, espontâneo, não elaborado, com sabor de novo e sem direção. Pede-se reformas de um Estado, ou seja, mais Estado negando a necessidade do Estado (governo nos planos executivo, legislativo e judiciário), representatividade popular organizada em movimentos articulados, partidos políticos e sindicatos. É uma atitude contraditória.
Segundo o sociólogo Paolo Gerbaudo, as Assembléias Populares que o Movimento dos Anônimos (Espanha, Nova Iorque, Turquia, Egito e agora Brasil) convocam porque apartidárias e com representação individual de vários matizes ideológicos têm seus limites, pois apesar de fazerem tremer as instituições do país, elas podem refluir da mesma maneira que foram convocadas e como rejeitam qualquer forma de organização efetiva podem colocar em risco o processo democrático, pois expõem as fissuras ou fragilidades do governo em algumas áreas e assim oferecem espaço aos mais organizados para comandar o processo, mesmo que essa organização represente um retrocesso, como foi ocaso da Irmandade Muçulmana no Egito (que por sinal já foi derrubada do poder por um setor estruturalmente mais organizado que é o Exército Egípcio).
Ora, é fundamental tentar entender o fascínio que exerce na população algo não organizado, espontâneo, não elaborado, com sabor de novo e sem direção. Pede-se reformas de um Estado, ou seja, mais Estado negando a necessidade do Estado (governo nos planos executivo, legislativo e judiciário), representatividade popular organizada em movimentos articulados, partidos políticos e sindicatos. É uma atitude contraditória.
Segundo o sociólogo Paolo Gerbaudo, as Assembléias Populares que o Movimento dos Anônimos (Espanha, Nova Iorque, Turquia, Egito e agora Brasil) convocam porque apartidárias e com representação individual de vários matizes ideológicos têm seus limites, pois apesar de fazerem tremer as instituições do país, elas podem refluir da mesma maneira que foram convocadas e como rejeitam qualquer forma de organização efetiva podem colocar em risco o processo democrático, pois expõem as fissuras ou fragilidades do governo em algumas áreas e assim oferecem espaço aos mais organizados para comandar o processo, mesmo que essa organização represente um retrocesso, como foi ocaso da Irmandade Muçulmana no Egito (que por sinal já foi derrubada do poder por um setor estruturalmente mais organizado que é o Exército Egípcio).
De qualquer forma a pouca representação numérica dos
trabalhadores ontem comparada à presença em massa da população não vinculada a
partidos político e nem a sindicatos que preencheram as cidades no Outono Brasileiro,
pode suscitar outras interpretações. Para além dos resultados da submissão às
políticas neoliberais que aprofundaram a decadência dos serviços públicos no
Brasil, que provocaram as privatizações, terceirizações e precarização do
trabalho, que submeteram a atual classe
operária brasileira (os call-centers, os operadores de telemarketing) ao mais
brutal taylorismo, deve-se considerar também que os sindicatos e os partidos políticos de esquerda estão realmente defasados.
Essas instituições potencialmente representativas da classe que vive do trabalho não conseguem congregar, conscientizar, atrair, organizar essa população que labora nas empresas de comunicação, que são numericamente muito superiores aos trabalhadores do setor produtivo. O indicativo do anacronismo dos sindicatos e partidos é que além de não conseguirem mobilizar essa nova classe trabalhadora, permanecem na velha estrutura vertical baseada no centralismo democrático e na hierarquia que privilegia elites partidárias e sindicais que se afastam da base. Talvez estejam aí os fatores que favorecem a decadência numérica dos participantes que no caso não foram convocados pela internet, não são anônimos e têm pautas objetivas.
Essas instituições potencialmente representativas da classe que vive do trabalho não conseguem congregar, conscientizar, atrair, organizar essa população que labora nas empresas de comunicação, que são numericamente muito superiores aos trabalhadores do setor produtivo. O indicativo do anacronismo dos sindicatos e partidos é que além de não conseguirem mobilizar essa nova classe trabalhadora, permanecem na velha estrutura vertical baseada no centralismo democrático e na hierarquia que privilegia elites partidárias e sindicais que se afastam da base. Talvez estejam aí os fatores que favorecem a decadência numérica dos participantes que no caso não foram convocados pela internet, não são anônimos e têm pautas objetivas.
Talvez estejamos vivendo um período histórico em que as
estruturas políticas estejam completamente decadentes e o novo ainda está
emergindo. Antônio Gramsci (filósofo italiano morto nas prisões de Mussolini em
1938) chamava esse período de interregno e concluía que é uma fase difícil
porque o novo se apresenta como que um monstro pois as suas feições não são
reconhecidas e além disso há uma enorme luta de classes atuando nessa conjuntura. Assim sendo, não se sabe se o lado progressista, reformador ou revolucionário é que irá conduzir
o processo e ganhar o poder. Na realidade, o setor mais organizado é que tende
a conquistar o poder e pode ser um setor reacionário e não democrático.
Em suma, há uma necessidade urgente de que os partidos de
esquerda se reestruturem para que possam dar conta dessa nova realidade (se não
o fizerem podem sucumbir), assim como os sindicatos devem reformular sua
estrutura e organizar os diversos trabalhadores. Os anônimos deram um chacoalhão
no Brasil, mas não têm e nem pretendem formular uma estrutura necessária e nem uma
organização para viabilizar o governo de uma sociedade, até mesmo socialista a qual
também precisa de mediação e eles são contra a mediação, embora reclamem mais Estado
para a melhoria dos serviços públicos.
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