terça-feira, 19 de novembro de 2013

METADE DAS ESCOLAS FORMA POLICIAL EM ATÉ SEIS MESES

METADE DAS ESCOLAS FORMA POLICIAL EM ATÉ SEIS MESES

FSP 2013-08-19

É o que mostra pesquisa de ONG com 44 instituições de ensino em todo o país
Para autores, formação de policiais militares e civis é curta demais e focada em
áreas de pouco uso no cotidiano
AFONSO BENITES DE SÃO PAULO
Um estudo que analisou 57 escolas de formação de policiais em todo o Brasil
concluiu que o tempo de treinamento desses profissionais é abaixo do ideal e
focado em áreas que são pouco usadas no cotidiano deles.
Enquanto nos países europeus o tempo médio de formação dos policiais é de
dez meses, aqui a maioria das instituições forma seus profissionais em até seis
meses.
Das 44 unidades de ensino que responderam ao questionamento dos
pesquisadores da ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 20 declararam
que em um semestre o policial já pode trabalhar na linha de frente do combate
à criminalidade.
Outros dois centros de ensino afirmaram que o curso de formação é opcional,
mas não detalharam como o policial é instruído.
Os nomes das instituições ou os Estados onde se localizam não foram
divulgados.
Os dados se referem a todos os quadros iniciais das polícias Civil (agentes,
investigadores, escrivães e delegados) e Militar (soldados e tenentes).
'BACHARELESCA'
Para os pesquisadores, os policiais têm muitas aulas de direito e poucas de
sociologia ou de resolução de conflitos.
"A formação é muito bacharelesca e militarista. Em alguns casos, os alunos
têm mais aulas do que os de engenharia", afirma um dos coordenadores
da pesquisa, o professor José Vicente Tavares dos Santos, da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
ONDA DE PROTESTOS "A escola, muitas vezes, não leva em conta que o policial vai se envolver em
situações em que tanta teoria não basta."
Para Santos, uma das provas de que o treinamento das polícias está defasado
foi a forma que elas atuaram na onda de protestos enfrentados pelas principais
cidades brasileiras desde junho.
"Aconteceram atos que nenhuma polícia conseguia prever. As escolas precisam
se adequar à essa realidade."
O estudo foi elaborado a pedido da Secretaria Nacional da Segurança Pública e
tem como objetivo dar subsídios à elaboração de planos estratégicos para essa
área.
INGRESSO
Ao interpretar os dados do estudo, o sociólogo Renato Sérgio de Lima, membro
do fórum, concluiu também que as carreiras policiais precisam passar por
reestruturação.
Para ele, a estrutura de ingresso e promoção das polícias Civil e Militar deveria
ser semelhante à da Polícia Rodoviária Federal.
Nela, todos os policiais iniciam a carreira no mesmo posto, o de policial
rodoviário federal. Com o passar dos anos, ele pode chegar ao cargo de
inspetor, o que equivale ao máximo da carreira.
"Hoje, na Polícia Civil temos delegados de 25 anos de idade dando ordens
para investigadores com 20 anos de carreira. Na Militar, não é diferente. Isso
causa uma segregação e uma série de divergências internas que poderiam ser
superadas com a reestruturação das polícias."

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