terça-feira, 6 de agosto de 2013

Haddad e os protestos: quem não quer diálogo

Publicado em 06/08/2013
Matéria do conversa Afiada

Haddad e os protestos:
Quem não quer diálogo

Haddad não fugiu da Ley de Medios
Estreou ontem, segunda-feira (05), o programa online “Contraponto”.

É uma parceria entre o Instituto de Mídia Alternativa Barão de Itararé e o Sindicato dos Bancários de São Paulo.

Ele se propõe a realizar debates que não tem espaço no PiG (*). Irá ao ar, via webTV, toda primeira segunda-feira do mês, com transmissão ao vivo em blogs, entre eles, o Conversa Afiada.

Na estreia, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), foi entrevistado pelos blogueiros Altamiro Borges; Eduardo Guimarães; Luiz Carlos Azenha e Paulo Henrique Amorim.


Veja pontos da entrevista com as perguntas do Edu e do PHA:

A redução das passagens de ônibus


Eduardo Guimarães, pai da ideia do “Contraponto”, fez a primeira pergunta: se a redução dos R$ 0,20 nas passagens de fato favoreceu a população.

Disse Haddad:

“Em março desse ano, muito antes das manifestações de junho, eu dei uma entrevista à Folha de São Paulo defendendo o aumento do subsídio para o ônibus. Eu dizia: o Brasil é um país que subsidia pouco o transporte público, nós temos que aumentar o subsídio, mas nós temos que ter uma fonte de financiamento para isso.

E eu defendi publicamente que o imposto que incide sobre a gasolina fosse destinado a financiar o transporte público sobre pneus, a CIDE […]

Eu achei que aquilo teria muita repercussão, mas, para minha surpresa, não teve nenhuma […]

(É que ninguém lê a Folha, interrompeu o PHA)

Meses depois [em meio as manifestações], o Movimento Passe Livre, na carta aberta a presidente Dilma, defende a CIDE para o subsídio do transporte público.

Por que nós estávamos buscando uma fonte de financiamento?

Porque é justo que o subsídio aumente, é importante para a cidade ter um transporte público barato [...]

Mas por que eu não considero justo manejar o dinheiro do orçamento para isso?

Porque metade do subsídio beneficia o empregador que paga o vale-transporte.

Metade do subsídio vai para o bolso do empregador, não vai para o bolso do trabalhador, vai para o bolso do patrão do trabalhador.

Então, nos vamos tirar dinheiro da Educação, da Saúde, da Moradia e até do Transporte Público, no que diz respeito a investimento, para beneficiar alguém que está subsidiando a compra do vale-transporte.”


O prefeito se comprometeu ainda a abrir a chamada “caixa preta” das empresas de transporte e reafirmou seu compromisso em estabelecer o bilhete único mensal até o fim deste ano.

Segundo ele, com a redução da tarifa, ”a conta ficou mais difícil de fechar”, mas o calendário do bilhete único mensal está mantido.

Manifestações de Junho


Paulo Henrique Amorim perguntou o que aconteceu (ele se referia às manifestações de junho):


“Esse movimento tem muitas sobreposições que nós precisamos entender.

O primeiro deles é que a América Latina vive um momento de alinhamento entre governos focados no combate à miséria, à pobreza, à democratização de oportunidades, e isso incomoda.

Incomoda na Argentina, na Venezuela, na Bolívia, no Equador e incomodava também no Brasil, sem que os setores incomodados tivessem encontrado um caminho para extravasar esse sentimento […]

Tem um pessoal cobrando serviços públicos de mais qualidade, eles estão na rua também e não se confundem com os primeiros, é uma outra tribo.

Tem um pessoal que está olhando para política, e isso acontece no mundo inteiro, com mais desconfiança.

Existe um certo humor negativo com relação à democracia representativa, como se a representação não tivesse dando conta do recado. Há muito distanciamento entre o poder público e a população.

Essa, me parece, é a parte mais interessante desse processo todo: há uma exigência, um desejo, de aproximação.

Eu dizia inclusive para a presidenta Dilma, na última semana, quando ela esteve em São Paulo lançando o PAC São Paulo. Ela me perguntou se eu estava saindo às ruas e o que eu estava sentindo na rua.

Eu disse: olha, eu estou saindo, duas ou três vezes por semana, e o que eu percebo é que há uma indisposição inicial, mas que é facilmente quebrável. Porque o povo quer conversa, ele próprio quer entender para onde nós vamos caminhar.

Então, tem jogo, como se diz, tem conversa. “


Paulo Henrique: Mas, inclusive com esses, que estavam incomodados e que não extravasavam o seu incomodo, tem conversa?

Haddad: Não, ai eu acho que tem uma camada, que não é a maioria da população, que quer uma mudança de rumo.

Porque quando eu saio, eu saio para as periferias, Guaianazes, M’boi Mirim.

Esse pessoal que tem sintonia com o programa nacional que está em curso há dez anos ele quer entender melhor qual o passo que o Brasil vai dar agora.

Ele inclusive reconhece os avanços. Reconhece a liderança do Lula, reconhece a liderança da Dilma, ele quer conversar.

Eu até dizia para o presidente Lula no começo do ano: nós precisamos lançar programas sociais 3.0, de nova geração, porque como as carências históricas são enormes, a população assimila os avanços muito rapidamente as conquistas, ela quer avançar.

Como nós vivemos uma crise internacional, há uma queda do vigor econômico, isso coloca dúvidas para o trabalhador sobre se esse projeto tem vigor para mais tempo, e você tem que responder afirmativamente, porque o nosso projeto tem folego para mais tempo.

Nós tivemos dez anos exitosos, com o desemprego nos menores patamares da História, mas nós precisamos continuar dando respostas políticas à população. Se não, as pessoas começam a ter dúvida sobre a direção do caminho que você está tomando.

Agora, respondendo ao Paulo, tem uma camada que não quer o revigoramento desses dez anos, quer uma mudança de rumo, inclusive colocando em risco algumas conquistas importantes.”


(Esse pessoal quer derrubar a Dilma, interrompeu o PHA.)

O papel da Globo nas manifestações e a regulação mídia



Paulo Henrique: ”qual foi o papel da Globo nas manifestações ?”

“A modernidade se caracteriza pela inovação, e existem três áreas que precisam de constante mudança: a ciência; as artes e a política.

Não há como avançar nessas três áreas sem contestar os paradigmas vigentes. Agora, essa contestação não se dá contra os cientistas, contra os artistas e nem contra os políticos. A negação da política é o arbítrio […]

Eu penso que, quando você resvala para a negação de uma atividade que, quando exercida com honradez, deve ser enaltecida, você concorre para o obscurantismo.

Eu penso que muitas vezes, as pessoas que deveriam promover esse discernimento concorrem para misturar as estações. O joio e o trigo ficam misturados.”


PHA: O senhor é a favor de uma ‘Ley de Medios’?

Olha, eu já me manifestei diversas vezes sobre isso. Eu acho que qualquer tipo de regulação no conteúdo…
PHA: Não, mas dos projetos que estão em curso, inclusive o projeto do FNDC, que é uma evolução do projeto que o ministro Franklin Martins deixou para o presidente Lula – e que o ministro Paulo Bernardo, eu tenho a impressão, extraviou, perdeu no caminho, é preciso chamar os Correios para ver se localiza …  – ninguém trata ali de conteúdo. Quando trata de conteúdo é assim: ‘não pode mostrar o BBB ou a Fazenda para crianças de 5 anos de idade’. Mas, essa discriminação de conteúdo é uma exigência da Constituição.
(Clique aqui para ler “Como a Dilma fugiu da Ley de Medios”)

O Marco Regulatório é para tratar da indústria, do monopólio. Eu não sei se o senhor sabe, mas a Rede Globo controla 80% do mercado de publicidade do Brasil.

Eduardo Guimarães: Inclusive, a Rede Globo não poderia existir nos Estados Unidos.

Paulo Henrique: Claro que não ! Lá, ela teria que pagar o Imposto de Renda.
Haddad: A regulamentação da propriedade cruzada, a democratização do acesso à informação pela pluralidade, isso tá dentro do mundo liberal, são valores liberais.

Quando alguém diz que tem que regular o setor, é justamente para impedir que uma determinada visão de mundo se sobreponha as outras pelo poder econômico.

Uma visão de mundo tem que se impor pelo melhor argumento, pelo duelo leal na arena pública.

O Brasil, do ponto de vista político-partidário, tem um espectro ideológico incrível, tem gente organizada defendendo todo o tipo de coisa. Mas isso é mediado por um setor monopolizado, que não dá expressão a toda diversidade que o Brasil vive, sobretudo hoje em dia.

Se eu fosse resumir em um ponto, seria sobre essa questão da concentração. Ninguém é contra que o mais competente tenha mais audiência, mas a concentração excessiva de diversas linguagens entorno de um império só pode enfraquecer a democracia.


Eleições de 2014



PHA: O senhor acha que o Padilha seria um outro poste bem sucedido ?
“Seria um ótimo candidato. Eu não sei se o PT já bateu o martelo, temos bons nomes.

PHA: Mas,  vamos imaginar o Padilha.

Haddad: Seria um ótimo candidato.

PHA: O senhor foi eleito com uma agenda positiva, que foi seu ótimo desempenho no Ministério da Educação. O Padilha tem uma agenda pesada que é o problema da Saúde é no Brasil, mesmo assim, dá para sair de 3% e ganhar a eleição?

Haddad: Bom, eu saí de 3% … O Padilha teve menos tempo que eu à frente do Ministério da Educação. Mesmo assim, ele está colocando questões da maior importância.

Ele está tendo a coragem de colocar o dedo na ferida. De ir para negociação, de ceder, de avançar de construir um novo marco regulatório para o SUS, de levar médicos para o interior para a periferia. Ele tá colocando o dedo onde precisa por.

Tem sempre o debate das condições de trabalho que é pra não falar da questão mais importante da saúde que são os recursos humanos. Que médico nós estamos pondo no SUS? Que médicos nós estamos formando? Qual o perfil do profissional que estamos formando?


(Sobre as perguntas e respostas dos dois blocos com Miro e Azenha, clique aqui e  acompanhe no vídeo.)


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

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