terça-feira, 6 de agosto de 2013

BLACK BLOCS já se articulam em 23 ESTADOS DO PAÍS

2013-08-03
BLACK BLOCS já se articulam em 23 ESTADOS DO PAÍS
Texto para Luciano


No Maranhão, os integrantes da página dos Black Blocs no Facebook contam a



história da Balaiada, movimento popular rebelde formado por "escravos aquilombados

e caboclos" que tomou a segunda maior cidade do Maranhão no século 19. Os de São

José dos Campos colocaram na internet a imagem da "mãozinha do curtir" segurando um

coquetel molotov.

Já os goianos, assim como os demais, se dizem anarquistas e afirmam que "sua "pátria

é o mundo inteiro" e "sua lei é a liberdade". No Pará, a bandeira brasileira está pintada

de preto e vermelho, com o "A na bola", símbolo do anarquismo, no lugar do Ordem e

Progresso.

Quase dois meses depois do começo dos protestos do Movimento Passe Livre (MPL),



discussões virtuais e presenciais sobre o uso da violência como estratégia política nas

manifestações de rua já são feitas em 23 Estados. Por enquanto, só Amapá, Tocantins,

Sergipe e Acre ainda não têm fóruns de internet dos Black Blocs.

A página mais popular dos Black Blocs no Facebook é a do Rio, com mais de 18 mil



seguidores. Em São Paulo, além da capital e de São José dos Campos, outras cinco

cidades têm fóruns de discussão anarquistas (Ribeirão Preto, Rio Preto, Rio Claro,

Piracicaba e Sertãozinho). Os cearenses fizeram o documentário Com violência, sobre as

ações do grupo na Copa das Confederações, com mais de 50 mil acessos no YouTube.

A reportagem é de Bruno Paes Manso e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo,



04-08-2013.

No 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil, eles pretendem promover

um "badernaço" nacional. A articulação vem sendo feita na página do Black Bloc Brasil,



com quase 40 mil seguidores. "Muitos dos jovens que estão usando essa estratégia

da violência nas manifestações vieram das periferias brasileiras. Eles já são vítimas

da violência cotidiana por parte do Estado e por isso os protestos violentos passam a

fazer sentido para eles", afirma o professor Rafael Alcadipani Silveira, coordenador

de pesquisas organizacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). Silveira tem



acompanhado as discussões virtuais dos anarquistas e esteve nos últimos dois protestos.

História


Inspirada inicialmente em ativistas alemães, que atuavam de preto e com máscaras de

gás como segurança nas manifestações nos anos 1990, a estética e ação Black Bloc

se fortaleceu principalmente depois de ganhar os Estados Unidos, onde o pacifismo era

discurso hegemônico graças às vitórias nas lutas pelos direitos civis, lideradas por Martin

Luther King Júnior, e às passeatas hippies contra a Guerra do Vietnã, sob o lema "faça



amor, não faça guerra".

Atos de depredação em Seattle, em 1999, que impediram diversos delegados de

chegarem à reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), conseguiram provocar



o debate sobre o papel da violência nas manifestações. Uma das referências do

debate foi o livro Como a não-violência protege o Estado, do ativista americano Peter

Gelderloos, que já passou duas temporadas em prisões americanas e espanholas.



Esses manifestantes passaram a argumentar que depredação não é violência, mas

uma intervenção simbólica que atinge o cerne do capitalismo: a proteção à propriedade.

De acordo com essa filosofia, seriam atos violentos somente as ações que ferem os

indivíduos.

"Depois de Seattle, os movimentos sociais passaram a aceitar a violência como

uma das estratégias políticas e a debater abertamente a questão", explica o filósofo

Pablo Ortellado, coautor do livro Estamos Vencendo! (Conrad), sobre os movimentos

autonomistas no Brasil. Além da estratégia dos Black Blocs, há nos movimentos globais



as ações lúdicas e festivas (chamadas de Pink Blocs), estratégias no Brasil representadas

pelas Paradas Gays, Marchas da Maconha e das Vadias, e as pacifistas (White Blocs).

"Não se pode dizer que alguém é do grupo Black Bloc, já que se trata de uma estratégia

de ação. Ainda que seja adepta da violência nas manifestações, a pessoa pode variar

suas atitude conforme a situação. As ações nas ruas podem ser de resistência e

pacifistas, conforme a necessidade. O integrante de um coletivo, por exemplo, pode usar

essas diferentes formas de ação de acordo com o protesto", explica um integrante do

coletivo Desentorpecendo a razão, que pediu para não se identificar. "Não há repressão

na Parada Gay, por exemplo. Por isso, nunca haverá Black Blocs nesse evento."

Na atual fase brasileira, onde o Estado está em descrédito, a moda da violência e da

anarquia acabou pegando mais do que as outras, contagiando rapidamente a nova

geração de jovens. Ortellado acredita que é só uma fase, já vivida pela Argentina e pela



Espanha em épocas de crise política. "São momentos de indignação", diz. A violência, no

entanto, costuma escurecer qualquer bola de cristal.


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