quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Além da conjuntura BELLUZZO

Terça, 13 de agosto de 2013

Além da conjuntura
BELLUZZO
O Brasil está em condições de restabelecer uma
macroeconomia da reindustrialização, a partir do pré-sal. O
comentário é de Luiz Gonzaga Belluzzo, economista, em
artigo na Carta Capital, 12-08-2013.
Eis o artigo.
Desde meados dos anos 80 do século XX, a estrutura
e a dinâmica da produção e do comércio globais foram
transformadas pela concomitância entre os movimentos
da grande empresa dos países centrais e as políticas
nacionais dos emergentes, particularmente as da China. O
Brasil, protagonista das décadas anteriores, ficou fora do
jogo, golpeado pela crise da dívida externa dos anos 80,
depois paralisado pela política cambial e de abertura sem
estratégia na posteridade da estabilização dos anos 90.
Entorpecido pelas trapaças ideológicas dos economistas
comprometidos com a finança, o País não conseguiu
acompanhar a reconfiguração espacial e tecnológica dos
núcleos manufatureiros globais.
O leitor de CartaCapital, imagino, está incomodado com
minhas insistências. Mas não custa repetir. Desde meados
dos anos 70 do século XX as transformações na morfologia
da grande empresa transnacional deram origem a uma
estruturação dos mercados e às formas contemporâneas de
concorrência de escala global.
O movimento da grande empresa promoveu a
reconfiguração do ambiente internacional. A metástase
do sistema empresarial da tríade desenvolvida – Estados
Unidos, Europa e Japão – determinou uma impressionante
mutação na organização das cadeias produtivas e nos
fluxos de comércio. É crescente a importância do comércio
intrafirmas e decisivo o papel do global sourcing, fenômeno
acentuado a partir da década de 90.
A nova concorrência engendrou simultaneamente: 1. A centralização do controle, mediante as ondas de
fusões e aquisições observadas desde os anos 80.
2. A nova distribuição espacial da produção, ou seja, a
internacionalização das cadeias de geração de valor.
Centralização do controle e descentralização da
produção: esse movimento de dupla face afetou a natureza
e a direção do investimento direto em nova capacidade,
reconfigurou a divisão do trabalho entre produtores de
peças e componentes e os “montadores” de bens finais.
E, como já foi dito, alterou a participação dos países nos
fluxos de comércio. O propósito da competição entre os
grandes blocos de capital é assegurar simultaneamente
a diversificação espacial adequada da base produtiva da
grande empresa e o “livre” acesso a mercados.
Depois da crise de 2008 e de suas consequências, os
países que perderam posição na disputa competitiva da
manufatura, sobretudo os EUA, acenam com uma nova
rodada de inovações, aquelas que seriam classificadas de
“poupadoras de mão de obra”.
Na primeira década do terceiro milênio, o Brasil valeuse da dotação de recursos naturais (água, energia,
terras agriculturáveis e base mineral) e do dinamismo
do agronegócio para assumir uma posição defensiva no
comércio mundial. A situação benigna das commodities
provocou o descuido com a persistência dos fatores que
determinaram o encolhimento e a perda de dinamismo da
indústria: câmbio valorizado, tarifas caras dos insumos de
uso geral e carga tributária onerosa e kafkiana.
O Brasil está em condições de restabelecer uma
macroeconomia da reindustrialização, mediante o uso
inteligente de suas vantagens e das promessas que se
revelaram recentemente nas áreas de petróleo e gás. Não
basta concentrar os esforços na manutenção de um câmbio
real competitivo ou esperar a queda dos juros produzir
automaticamente a recuperação do investimento industrial.

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