Quatro décadas depois, protestos relembram o golpe contra Salvador Allende
Matéria do Jornal Brasil de Fato
11/09/2013
da RedaçãoO golpe militar no Chile, que derrubou e ocasionou a morte do presidente socialista Salvador Allende, completa 40 anos nesta quarta-feira (11). A data é marcada pelo início da ditadura militar de Augusto Pinochet (1973-1990), que segundo organizações não-governamentais, deixou mais de 3 mil mortos e 37 mil vítimas que sofreram prisões e torturas.
Os traços do golpe ainda reverberam no país e a lembrança da data tem gerado um clima de instabilidade há dias no país, principalmente entre civis e forças de segurança. Na semana passada, por exemplo, uma manifestação estudantil que cobrava mudanças no sistema educacional foi reprimida fortemente por policiais. O cenário voltou a se repetir no final de semana posterior nas ruas de Santiago, a capital do país, quando ativistas que manifestavam em memória das vítimas de Pinochet foram novamente reprimidos.
A noite dessa terça-feira (10) também foi bastante tumultuada. Várias barricadas foram instaladas pelos manifestantes em várias localidades do país e vários momentos de confrontos foram noticiados. Segundo alguns sites de notícias, até agora 13 manifestantes foram presos pelos “caribenhos do Chile”, como a polícia é conhecida. Segundo autoridades do país, cerca de 8 mil policiais foram mobilizados só em Santiago.
Na contrapartida dos confrontos, liderados pela professora María José Contreras da Universidade Católica, um grupo de estudantes de artes cênicas lembraram o golpe do dia 11 de setembro de 1973 de forma pacífica. Intitulada como #quererNOver a intervenção artística do grupo reuniu, nessa terça-feira (10), mais de mil pessoas que estenderam-se em fila no chão no centro do país.
Segundo o blog do grupo, a ação foi convocada “diante das constantes declarações de alguns setores do país que afirmam ter ignorado as sistemáticas violações dos direitos humanos no Chile exercidas pelo aparelho do Estado durante a ditadura militar”.
O golpe também foi lembrado por personalidades políticas na segunda-feira (09). Duas cerimônias foram convocadas: uma no Palácio La Moneda, convocado pelo presidente Sebastián Piñera, e outra no Museu da Memória e dos Direitos Humanos, na qual a ex-presidente e candidata à presidência, Michelle Bachelet, este presente e discursou. Ela cobrou que os crimes da ditadura sejam investigados. “Não existe reconciliação que se construa diante da ausência da verdade, da justiça e do luto”, disse.
O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) convocou uma massiva mobilização na cidade de Caracas, capital venezuelana, para recordar os 40 anos do golpe. Já no Brasil, vários partidos e organizações populares também promovem atos e debates sobre o tema.
Antes do golpe
Eleito democraticamente em 1970, o socialista Salvador Allende (1908-1973) obteve vitória com 36,2% dos votos. Desde a eleição, foi ameaçado várias vezes de perder o posto. A primeira tentativa resultou de uma aliança entre o Patria y Libertad e militares chilenos, em 29 de junho de 1973.
Pouco tempo depois, em 11 de setembro do mesmo ano, liderados pelo general Augusto Pinochet e financiados pelo governo dos Estados Unidos, militares contrários ao governo Allende declaram o golpe certeiro. O presidente permaneceu dentro do palácio e chegou a fazer pronunciamentos públicos em rede nacional pelo rádio.
À tarde, as portas do Palácio La Modena foram derrubadas e os militares invadiram o local. Allende foi encontrado morto. Em 2011, após a realização de exames foi confirmada que o ex-presidente do Chile se matou com um tiro na cabeça durante o golpe de Estado, derrubando as suspeitas de que ele tivesse sido assassinado.
Pouco antes de o Palácio La Moneda perder a comunicação, Allende fez seu último discurso: “Colocado em uma transição histórica, pagarei com minha vida a lealdade do povo. E os digo que tenho a certeza de que a semente que entregaremos à consciência de milhares e milhares de chilenos não poderá ser cegada definitivamente. Trabalhadores de minha Pátria! Tenho fé no Chile e em seu destino. Superarão outros homens nesse momento cinza e amargo onde a traição pretende se impor. Sigam vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.”
Foto: Reprodução
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