quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O ataque dos Estados Unidos à Síria e a história da carochinha


O ataque dos Estados Unidos à Síria e a história da carochinha

Márcia D`Angelo

quarta-feira, 04 de setembro de 2013

Desde 1823, com o discurso da Doutrina Monroe o presidente estadunidense James Monroe já propugnava “A América para os americanos” numa ofensiva às pretensões da Santa Aliança (união de países monarquistas/absolutistas europeus) que objetivava restaurar os governos depostos pelas “terríveis e subversivas idéias republicanas francesas”  e pretendiam apoiar os países que perderam suas colônias como a Inglaterra ou mesmo interferir nos países americanos em franco processo de independência política de suas metrópoles no século XIX. É interessante lembrar que os governos estadunidenses sempre colocaram em prática essa  idéia de apropriação da América como se somente eles fossem americanos.   

Os Estados Unidos já tinham conquistado sua independência desde 1776 numa guerra contra a Inglaterra, sua metrópole. Posteriormente, a Doutrina do Destino Manifesto complementou a proposição anterior da Doutrina Monroe.  Agora, já no final do século XIX com a posse dos territórios pertencentes à França (Luisiânia), Flórida (Espanha)  ao México (Califórnia e Texas) e o Alaska (Rússia) o darwinismo social de Spencer (filósofo inglês) justificava a predominância do branco, protestante e dominador submetendo os índios e mexicanos. Isso significava que  para além do Pacífico esses brancos colonizadores dos Estados Unidos da América do Norte não teriam fronteiras para suas conquistas. O mundo talvez nem fosse o limite como nos coloca Leo Huberman (nem o universo seria o limite para o imperialismo estadunidense). Com esse argumento todas as nações do Caribe e da América Central e Sul foram alvo dos ataques dos marines estadunidenses nos séculos XIX E XX, incluindo-se aí a Operação Condor responsável pelas ditaduras ocorridas na América Central e Sul nas décadas de 1960, 1970, 1980. O processo é sempre o mesmo: satanizar o governo como comunista ou ditador, desestabilizá-lo armando pesadamente a oposição local.

O Oriente Médio nunca deixou de ser objeto de cobiça e o Canal de Suez já garantia uma rota de comércio e armamento para a ambiciosa potência que se notabiliza após a Primeira Guerra Mundial. Muamar Gadafi era considerado persona non grata porque apesar de ter industrializado (com refinarias de petróleo) a Líbia tão repleta de deserto e sua população da reconhecesse  os valores de Gadafi para o país, era notória a opção de Gadafi pela União Soviética e esse fator foi fundamental para a imprensa ocidental liderada pela  ideologia de guerra fria estadunidense marcasse o governo da Líbia como um grande inimigo. Para além da Líbia e de Gadafi temos a aliança da CIA com Sadam Hussein do Iraque e com Osama Bin Laden ligado a AL-KAEDA.

Essas questões geopolíticas devem ser enriquecidas com a conscientização do que representa o complexo industrial militar estadunidense como fator axial na recuperação da crise que ocorre ciclicamente no sistema capitalista financeiro cujo padrão produtivo atual,  toyotista/ taylorizado subjaz desde a primeira década do século XXI e principalmente a partir de 2008.

Em 2001 George W. Bush nem sabia se havia vencido a eleição disputada por ele e Al Gore. Os Estados Unidos estavam em grande recessão econômica. Entretanto, ao atacar o Afeganistão Bush subiu nas pesquisas para 90% de aceitação pela população estadunidense e a economia dos Estados Unidos se recuperou graças às vendas de armas e equipamentos eletrônicos, ou qualquer outro objeto para abastecer a Guerra do Afeganistão. Aliás, para que os ataques fossem possíveis, houve a necessidade tão “histórica” de fortalecer a oposição local através de armamentos e treinamentos militares. O mesmo ocorreu no Iraque acusado injustamente de produzir armas de destruição em massa. Depois foi a vez da “primavera árabe” cujos governos considerados ditatoriais foram derrubados pela população local armada pelo mesmo complexo industrial militar estadunidense, como também pela  Arábia Saudita. Assim sendo, vão caindo sucessivamente os governos da Tunísia, Egito (Mubarak), da Líbia (Kadafi). Questões com o Irã e a Coréia do Norte (como também a Venezuela, Equador, Bolívia) também são constantemente ventiladas no sentido de também representarem o eixo do mal pelo Império em decadência e ávido como uma águia para fazer suas vítimas renderem lucros para sua venda de armamentos e produtos para a guerra e também representarem rotas oportunas para o encaminhamento desses produtos para a aliada Israel (no caso dos países do Oriente Médio). É claro que a questão do petróleo e gasoduto também são questões relevantes e fundamentais para as potências ocidentais como Inglaterra, Estados Unidos para decretarem ataques e se apropriarem desses combustíveis fósseis. A Arábia Saudita (família Saud) é um aliado estratégico e basilar.

Em suma, atacar a Síria só requeria um fator ideológico que seria satanizar Assad como autor dos ataques à população de seu país com gás sarin, o mesmo utilizado pelos EUA na população vietnamita no final da década de 1960. Não precisa nem haver provas contundentes porque elas podem ser forjadas, haja vista que a mídia ocidental acolhe como verdadeira qualquer declaração do Pentágono. Entretanto, o modus operandi é conhecido: houve treinamento e envio de armas via Arábia Saudita para os grupos rebeldes da Síria uma vez que o governo laico de Assad não é bem visto pela Irmandade Muçulmana da Síria, pelos sunitas e até pelos elementos da Al-QAEDA (recrutado por força externas) que combatem em nome de um Estado religioso muçulmano e em nome de potências interessadas no gasoduto, na venda de produtos do complexo industrial militar e na perspectiva de destruir a população civil e tornar o país refém das forças da OTAN. Inclusive, a Síria é riquíssima em combustíveis fósseis com seus gasodutos.

Para aqueles que acreditam na versão da imprensa ocidental do gás sarin ter sido investido pelo governo Assad em seu próprio povo poderíamos dizer que esse filme é muito conhecido e pode ser caracterizado como a história da carochinha.

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