terça-feira, 15 de abril de 2014

A política externa de um Nobel da Paz

A política externa de um Nobel da Paz

Jornal Brasil de Fato

Os governos e os organismos internacionais, como a ONU, mostram-se relutantes e amedrontados, quando não totalmente submissos, à politica do big stick (grande porrete)
3/04/2014
Editorial da edição 579 do Jornal Brasil de Fato
“Não temos interesse em ficar rodeando a Rússia. E não temos nenhum interesse na Ucrânia a não ser deixar o povo ucraniano tomar as próprias decisões sobre suas vidas”. Estas palavras do presidente dos Estados Unidos da América prima pela  mentira e pela hipocrisia.
Mentira atestada por Jack F. Matlock Jr., ex-embaixador dos EUA na antiga União Soviética, de 1987 a 1991, nomeado pelo ultraconservador Ronald Reagan. Em recente artigo publicado em seu blog Matlock Jr. foi enfático ao afirmar que a entrada da Ucrânia à Otan era um objetivo declarado governo Bush-Cheney e não foi abandonado pela administração Obama. No mesmo artigo, o ex-embaixador desmascara a hipocrisia do presidente estadunidense quando afirma que a maioria dos ucranianos não quer a adesão à Otan.
Aparentar uma virtude, um sentimento que não se tem, é a essência da hipocrisia. E, se há algo que a política externa dos EUA não permite é deixar os povos, e entre eles o ucraniano, tomar as próprias decisões sobre suas vidas.
É do conhecimento de todos que Viktor Ianukovich, legitimamente eleito pela maioria dos ucranianos, foi deposto da presidência por se recusar a assinar um acordo de adesão à União Europeia. Para alcançar esse objetivo, o governo de Obama e a União Europeia – contando sempre com a conivência da mídia ocidental – não hesitou em incentivar e financiar meses de manifestações comandadas por grupos neonazistas.
O escritor paquistanês Tariq Ali lembra que os ultranacionalistas da Ucrânia, aliados às tropas nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, mataram 30 mil soldados russos e comunistas. Esses são os aliados de Obama na Ucrânia.
Enquanto presidente Ianukovich, ao recusar a adesão com a União Europeia, significava um entrave para a ofensiva imperialista de expandir a Otan ao leste, chegando à fronteira com a Rússia. Expansão que já era temida por Mikhail Gorbachev, último presidente da União Soviética, quando assinou o acordo de reunificação da Alemanha. O então Secretário de Estado dos EUA, James Baker, assegurou, na ocasião, que não haveria expansão da jurisdição
da Otan nem uma polegada para o leste”. Bush e Obama colocaram suas palavras na lata do lixo.
A hipocrisia do presidente Barack Obama, Prêmio Nobel da Paz, se acentua ainda mais ao não reconhecer o resultado do referendo em que 96,77% dos votos decidiu a favor da reunificação com a Rússia. O mesmo desprezo foi destinado ao parlamento da Crimeia que, seguindo a resultado do referendo, se declarou independente da Ucrânia e solicitou oficialmente a anexação da península à Rússia.
O resultado do referendo popular foi saudado por M. Gorbachev como a correção de um erro cometido em 1954 por Nikita Kruschev, presidente da URSS, quando cedeu a Crimeia, parte integrante da Rússia desde o século 18, à Ucrânia. Onde está o presidente Obama quando a população da Crimeia toma as próprias decisões sobre suas vidas?
Há que se fazer uma justiça com Barack Obama: a violência que comete contra os povos de todas as partes do planeta não é nenhuma novidade na política externa dos EUA, e muito menos uma marca singular do seu governo.
O escritor e jornalista Nicolas J.S. Davies produziu uma lista de 35 países em que o governo dos EUA promoveu golpes de Estado, derrubou governos legítimos, apoiou ditaduras ou participou de massacres e genocídios. O estudo refere-se apenas às intervenções entre pós-II Guerra Mundial até hoje. E certamente é uma lista incompleta.
Ainda de acordo com o escritor e jornalista, na Venezuela, tanto o ex- -presidente Hugo Chávez quanto seu sucessor, Nicolas Maduro, promovem políticas de unidade latino--americana que incomodam Washington.
Por isso, seriam, naturalmente, “autoritários”. E, tanto na Ucrânia quanto na Venezuela, os Estados Unidos têm interesse geopolítico claro na queda dos governantes e agiram – agem contra Nicolas Maduro – para provocá-la.
O argentino Atilio A. Boron faz a mesma leitura da contraofensiva sediciosa incentivada pela governo Obama contra a Venezuela Bolivariana.
Está sendo implementado “à concepção de novas estratégias para a “mudança de regime”, que apela para o chamado modo “não violento” de derrubar governos insubmissos aos ditames de Washington. Os casos da Líbia, Síria, Ucrânia e agora Venezuela ilustram didaticamente o que quer dizer a expressão “não violento” para os estrategistas e intelectuais do império.”
Os governos e os organismos internacionais, como a ONU, mostram-se relutantes e amedrontados, quando não totalmente submissos, à politica do big stick (grande porrete) atualizada para os tempos atuais pelo governo Obama. Resta aos povos reagir e lutar contra o poder do império.

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