Terça, 10 de dezembro de 2013
TEÓLOGOS ALERTAM SOBRE A "FARSA" DO DESINDIVIDAMENTO
O "desindividamento" dos países da América Latina é "uma farsa que oculta os disfarces
que a dívida externa assumiu nesses países", alertou o professor de Teologia Sistemática
da Faculdades EST, Valério Schaper.
A reportagem foi publicada no portal da Agência Latino-Americana e Caribenha de
Comunicação (ALC), 02-12-2013.
Acrescentado ao volume da dívida o valor dos juros que ela gera "o endividamento
brasileiro é o mais oneroso do mundo", apontou a auditora fiscal e coordenadora da
organização brasileira Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lúcia Fatorelli, em entrevista
ao Instituto Humanitas (IHU) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.
Em dezembro do ano passado, a dívida externa brasileira alcançou 442 bilhões de dólares
(cerca de 995 bilhões de reais) e a dívida interna atingiu o patamar de 2,8 trilhões de reais,
82% do PIB do país. "É verdade que parte dessa dívida é privada, porém, possui a garantia
do governo brasileiro e, dessa forma, constitui uma obrigação que deve ser computada em
sua integralidade", explicou Maria Lúcia.
O endividamento dos países em desenvolvimento foi tema de encontro que reuniu em São
Leopoldo, dias 15 a 17 de novembro, professores da Faculdades EST e do ISEDET, de
Buenos Aires. A iniciativa foi do Programa de Incidência sobre a Dívida Ilegítima e Justiça
Ecológica, vinculado à Federação Luterana Mundial (FLM).
Os disfarces da dívida e a sua extensão no corpo da sociedade e da igreja, admoestou
Schaper, exigem da Teologia uma radicalização dos seus posicionamentos éticos. “É
preciso alertar a sociedade e as igrejas para que retomem e acentuem o tema da justiça
econômica”, frisou.
Na entrevista ao IHU, a auditora fiscal explicou que a dívida pública é um dos principais
alimentos do capitalismo, que favorece a concentração de renda no setor financeiro,
aumentando ainda mais o seu poder.
"O custo da dívida é transferido diretamente para a sociedade, em particular os mais
pobres, tanto por meio do pagamento de elevados tributos incidentes sobre tudo o que
consomem, quanto pela ausência ou insuficiência de serviços públicos a que têm direito -
saúde, educação, assistência social, previdência - e, ainda, entregando patrimônio público
mediante as privatizações e a exploração ilimitada de riquezas naturais, com irreparáveis
danos ambientais, ecológicos e sociais", arrolou Maria Lúcia.
O grande paradoxo é que o Brasil representa a sétima economia do mundo e ocupa o 85.
lugar no Índice de Desenvolvimento Humanos (IDH) medido pela ONU. Assim, diz a
auditora, o Brasil é "um dos países mais injustos do mundo".
Há 30 anos a FLM mantém o compromisso reflexivo a respeito do endividamento. Ela
advoga a anulação da dívida ilegítima e reivindica a formulação de um novo modelo
econômico-financeiro e de desenvolvimento.
Um dos coordenadores do Programa da FLM, o pastor argentino Angel Furlan, explicou
que o projeto pretende conscientizar, buscar a incidência pública, incentivar auditorias
e apoiar tanto iniciativas populares quanto governamentais a favor da anulação de toda
dívida ilegítima.
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