16.12.2013
OS AVIÕES NÃO PILOTADOS: A VIOLAÇÃO MAIS COVARDE DOS DIREITOS
HUMANOS
Vivemos num mundo no qual os direitos humanos são violados, praticamente em todos os
níveis, familiar, local, nacional e planetário.
O Relatório Anual da Anistia Internacional de 2013 com referência a 2012 cobrindo 159
países faz exatamente esta dolorosa constatação. Ao invés de avançarmos no respeito
à dignidade humana e aos direitos das pessoas, dos povos e dos ecossistemas estamos
regredindo a níveis de barbárie. As violações não conhecem fronteiras e as formas desta
agressão se sofisticam cada vez mais.
A forma mais covarde é a ação dos "drones”, aviões não pilotados que a partir de alguma
base do Texas, dirigidos por um jovem militar diante de uma telinha de televisão, como se
estivesse jogando, consegue identificar um grupo de afegãos celebrando um casamento e
dentro do qual, presumivelmente deverá haver algum guerrilheiro da Al Qaeda. Basta esta
suposição para com um pequeno clique lançar uma bomba que aniquila todo o grupo, com
muitas mães e crianças inocentes.
É a forma perversa da guerra preventiva, inaugurada por Bush e criminosamente levada
avante pelo Presidente Obama que não cumpriu as promessas de campanha com
referência aos direitos humanos, seja ao fechamento de Guantánamo, seja à supressão
do "Ato Patriótico” (antipatriótico) pelo qual qualquer pessoa dentro dos USA pode ser
detida por suspeita de terrorismo, sem necessidade de avisar a família. Isso significa
sequestro ilegal que nós na América Latina conhecemos de sobejo. Verifica-se em termos
econômicos e também de direitos humanos uma verdadeira latino-americanização dos
USA no estilo dos nossos piores momentos da época de chumbo das ditaduras militares.
Hoje, consoante o Relatório da Anistia Internacional, o país que mais viola direitos de
pessoas e de povos são os Estados Unidos.
Com a maior indiferença, qual imperador romano absoluto, Obama nega-se a dar qualquer
justificativa suficiente sobre a espionagem mundial que seu Governo faz a pretexto da
segurança nacional, cobrindo áreas que vão de trocas de e-mails amorosos entre dois
apaixonados até dos negócios sigilosos e bilionários da Petrobrás, violando o direito à
privacidade das pessoas e à soberania de todo um país. A segurança anula a validade dos
direitos irrenunciáveis.
O Continente que mais violações sofre é a África. É o Continente esquecido e vandalizado.
Terras são compradas (land grabbing) por grandes corporações e pela China para nelas
produzirem alimentos para suas populações. É uma neocolonização mais perversa que a
anterior.
Os milhares e milhares de refugiados e imigrantes por razões de fome e de erosão de
suas terras são os mais vulneráveis. Constituem uma subclasse de pessoas, rejeitadas por
quase todos os países, "numa globalização da insensibilidade”, como a chamou o Papa
Francisco. Dramática, diz o Relatório da Anistia Internacional, é a situação das mulheres.
Constituem mais da metade da humanidade, muitíssimas delas sujeitas a violências de
todo tipo e em várias partes da África e da Ásia ainda obrigadas à mutilação genital.
A situação de nosso país é preocupante dado o nível de violência que campeia em
todas as partes. Diria, não há violência: estamos montados sobre estruturas de
violência sistêmica que pesa sobre mais da metade da população afrodescendente,
sobre os indígenas que lutam por preservar suas terras contra a voracidade impune do
agronegócio, sobre os pobres em geral e sobre os LGBT, discriminados e até mortos.
Porque nunca fizemos uma reforma agrária, nem política, nem tributária assistimos nossas
cidades se cercarem de centenas e centenas de "comunidades pobres” (favelas) onde os
direitos à saúde, educação, à infraestrutura e à segurança são deficitariamente garantidos.
A desigualdade, outro nome para a injustiça social, provoca as principais violações.
O fundamento último do cultivo dos direitos humanos reside na dignidade de cada pessoa
humana e no respeito que lhe é devido. Dignidade significa que ela é portadora de espírito
e de liberdade que lhe permite moldar sua própria vida. O respeito é o reconhecimento de
que cada ser humano possui um valor intrínseco, é um fim em si mesmo e jamais meio
para qualquer outra coisa. Diante de cada ser humano, por anônimo que seja, todo poder
encontra o seu limite, também o Estado.
O fato é que vivemos num tipo de sociedade mundial que colocou a economia como seu
eixo estruturador. A razão é só utilitarista e tudo, até a pessoa humana, como o denuncia
o Papa Francisco é feita "um bem de consumo que uma vez usado pode ser jogado fora”.
Numa sociedade assim não há lugar para direitos, apenas para interesses. Até o direito
sagrado à comida e à bebida só é garantido para quem puder pagar. Caso contrário,
estará ao pé da mesa, junto aos cães esperando alguma migalha que caia da mesa farta
dos ‘epulões’.
Neste sistema econômico, político e comercial se assentam as causas principais, não
exclusivas, que levam permanentemente à violação da dignidade humana. O sistema
vigente não ama as pessoas, apenas sua capacidade de produzir e de consumir. De resto,
são apenas resto, óleo gasto na produção.
A tarefa além de humanitária e ética é principalmente política: como transformar este tipo
de sociedade malvada numa sociedade onde os humanos possam se tratar humanamente
e gozar de direitos básicos. Caso contrário a violência é a norma e a civilização se degrada
em barbárie.
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