25 de novembro de 2013
"O PT TROCOU UM PROJETO DE BRASIL POR UM PROJETO DE PODER", DIZ FREI
BETTO
“Os governos Lula e Dilma são os melhores da nossa história republicana, mas eu
esperava muito mais. Lula teria condições, no primeiro ano de governo, com todo o apoio
popular que recebeu, de ter feito uma reforma agrária. É uma demanda histórica, até hoje
não cumprida. Estamos com 10 anos de governos do PT, com todos os avanços que teve,
com a inclusão econômica de milhões de brasileiros miseráveis e pobres, mas não tivemos
nenhuma reforma de estrutura", afirma Frei Betto, em entrevista publicada no jornal Zero
Hora, 24-11-2013.
Ele especifica; "Nem a (reforma) agrária, nem a tributária, nem a política, nem a
previdenciária, nem a de educação, nem a da saúde" e, apesar dos avanços, não
houve a redução da desigualdade social. "Segundo o Ipea, dado de outubro de 2013,
a desigualdade no Brasil entre os mais ricos e os mais pobres é de 175 vezes, e isso é
escandaloso”, constata.
Segundo ele, "o PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder. Permanecer no
poder passou a ser mais importante do que criar uma alternativa civilizatória para a nação
Brasil".
Lula 2018
Analisando a conjuntural eleitoral de 2014, Frei Betto diz estar convencido "de que, se
a Dilma não apresentar bons índices de possibilidade de vitória eleitoral em 2014, Lula
voltará. E, se ela for eleita, também estou convencido de que ele volta a ser candidato em
2018”.
Despolitização da sociedade brasileira
Para o frei dominicano, "paradoxalmente, os 10 anos de governo do PT foram 10 anos
de despolitização da sociedade brasileira. Então, os jovens, agora, querem ter esse
protagonismo político, estão ocupando as ruas, querem participar. Acreditou-se que a
política era um privilégio do andar de cima, que as coisas se resolveriam entre os partidos,
numa total indiferença para com o povo, com os jovens”.
Altruísmo
Narrando aspectos da sua trajetória de vida, Frei Betto afirma: "Sou de uma geração que
tinha 20 anos nos anos 60 e os nossos ídolos eram pessoas altruístas: Jesus, Francisco
de Assis, Che, Gandhi, Luther King. E quem são hoje os ídolos da garotada? Sebastian
Vettel, Lady Gaga..."
Buraco no coração
E continua:
“São os valores do capitalismo neoliberal. E aí? Você vai querer que o adolescente
se levante no ônibus para mulher idosa? Ele fica com o fone no ouvido e faz de conta
que ela é invisível, ele nem a enxerga. Enquanto escola, Igreja e família querem formar
cidadãos, a grande mídia e a publicidade querem formar consumistas. O sistema quer
formar consumistas. Daí porque muitos jovens hoje estão fixados em quatro "valores":
poder, dinheiro, beleza e fama. Quanto maior a ambição, maior o buraco no coração.
E quanto maior o buraco no coração, maior o número de farmácias em cada esquina,
para tentar cobrir a frustração. Estamos indo para a barbárie, se continuar predominando
como paradigma dessa pós-modernidade incipiente que estamos entrando, o mercado, a
mercantilização de todas as dimensões da vida”.
Teologia da Libertação
Ao refletir sobre a realidade da Igreja no Brasil, o religioso dominicano, constata
que "quando a Teologia da Libertação e as comunidades eclesiais de base eram
valorizadas pela Igreja no Brasil, os nossos templos estavam cheios. Depois que
começaram a ser discriminadas e reprimidas, dando lugar ao espiritualismo do "aleluia,
aleluia", os nossos templos começaram a esvaziar. Então, é caso de perguntar: quem
tem culpa? Quem está esvaziando a Igreja? A Teologia da Libertação ou essa Igreja
espiritualista que fica de frente para Deus e de costas para os pobres?”
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