sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O que Stedile disse ao Papa

Publicado em 09/12/2013
Matéria do Conversa Afiada  

O que Stedile
disse ao Papa

Todo homem tem direito ao trabalho !
O Papa Francisco convidou Stedile para um seminário no Vaticano sobre os excluídos.

(D. Odilo Scherer não foi visto lá.)
Clique na imagem para assistir
 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Os aviões não pilotados: a violação mais covarde dos direitos humanos

16.12.2013

OS AVIÕES NÃO PILOTADOS: A VIOLAÇÃO MAIS COVARDE DOS DIREITOS

HUMANOS

Vivemos num mundo no qual os direitos humanos são violados, praticamente em todos os

níveis, familiar, local, nacional e planetário.

O Relatório Anual da Anistia Internacional de 2013 com referência a 2012 cobrindo 159

países faz exatamente esta dolorosa constatação. Ao invés de avançarmos no respeito

à dignidade humana e aos direitos das pessoas, dos povos e dos ecossistemas estamos

regredindo a níveis de barbárie. As violações não conhecem fronteiras e as formas desta

agressão se sofisticam cada vez mais.

A forma mais covarde é a ação dos "drones”, aviões não pilotados que a partir de alguma

base do Texas, dirigidos por um jovem militar diante de uma telinha de televisão, como se

estivesse jogando, consegue identificar um grupo de afegãos celebrando um casamento e

dentro do qual, presumivelmente deverá haver algum guerrilheiro da Al Qaeda. Basta esta

suposição para com um pequeno clique lançar uma bomba que aniquila todo o grupo, com

muitas mães e crianças inocentes.

É a forma perversa da guerra preventiva, inaugurada por Bush e criminosamente levada

avante pelo Presidente Obama que não cumpriu as promessas de campanha com

referência aos direitos humanos, seja ao fechamento de Guantánamo, seja à supressão

do "Ato Patriótico” (antipatriótico) pelo qual qualquer pessoa dentro dos USA pode ser

detida por suspeita de terrorismo, sem necessidade de avisar a família. Isso significa

sequestro ilegal que nós na América Latina conhecemos de sobejo. Verifica-se em termos

econômicos e também de direitos humanos uma verdadeira latino-americanização dos

USA no estilo dos nossos piores momentos da época de chumbo das ditaduras militares.

Hoje, consoante o Relatório da Anistia Internacional, o país que mais viola direitos de

pessoas e de povos são os Estados Unidos.

Com a maior indiferença, qual imperador romano absoluto, Obama nega-se a dar qualquer

justificativa suficiente sobre a espionagem mundial que seu Governo faz a pretexto da

segurança nacional, cobrindo áreas que vão de trocas de e-mails amorosos entre dois

apaixonados até dos negócios sigilosos e bilionários da Petrobrás, violando o direito à

privacidade das pessoas e à soberania de todo um país. A segurança anula a validade dos

direitos irrenunciáveis.

O Continente que mais violações sofre é a África. É o Continente esquecido e vandalizado.
Terras são compradas (land grabbing) por grandes corporações e pela China para nelas


produzirem alimentos para suas populações. É uma neocolonização mais perversa que a

anterior.

Os milhares e milhares de refugiados e imigrantes por razões de fome e de erosão de

suas terras são os mais vulneráveis. Constituem uma subclasse de pessoas, rejeitadas por

quase todos os países, "numa globalização da insensibilidade”, como a chamou o Papa

Francisco. Dramática, diz o Relatório da Anistia Internacional, é a situação das mulheres.

Constituem mais da metade da humanidade, muitíssimas delas sujeitas a violências de

todo tipo e em várias partes da África e da Ásia ainda obrigadas à mutilação genital.

A situação de nosso país é preocupante dado o nível de violência que campeia em

todas as partes. Diria, não há violência: estamos montados sobre estruturas de

violência sistêmica que pesa sobre mais da metade da população afrodescendente,

sobre os indígenas que lutam por preservar suas terras contra a voracidade impune do

agronegócio, sobre os pobres em geral e sobre os LGBT, discriminados e até mortos.

Porque nunca fizemos uma reforma agrária, nem política, nem tributária assistimos nossas

cidades se cercarem de centenas e centenas de "comunidades pobres” (favelas) onde os

direitos à saúde, educação, à infraestrutura e à segurança são deficitariamente garantidos.

A desigualdade, outro nome para a injustiça social, provoca as principais violações.

O fundamento último do cultivo dos direitos humanos reside na dignidade de cada pessoa

humana e no respeito que lhe é devido. Dignidade significa que ela é portadora de espírito

e de liberdade que lhe permite moldar sua própria vida. O respeito é o reconhecimento de

que cada ser humano possui um valor intrínseco, é um fim em si mesmo e jamais meio

para qualquer outra coisa. Diante de cada ser humano, por anônimo que seja, todo poder

encontra o seu limite, também o Estado.

O fato é que vivemos num tipo de sociedade mundial que colocou a economia como seu

eixo estruturador. A razão é só utilitarista e tudo, até a pessoa humana, como o denuncia

o Papa Francisco é feita "um bem de consumo que uma vez usado pode ser jogado fora”.

Numa sociedade assim não há lugar para direitos, apenas para interesses. Até o direito

sagrado à comida e à bebida só é garantido para quem puder pagar. Caso contrário,

estará ao pé da mesa, junto aos cães esperando alguma migalha que caia da mesa farta

dos ‘epulões’.

Neste sistema econômico, político e comercial se assentam as causas principais, não

exclusivas, que levam permanentemente à violação da dignidade humana. O sistema

vigente não ama as pessoas, apenas sua capacidade de produzir e de consumir. De resto,

são apenas resto, óleo gasto na produção.

A tarefa além de humanitária e ética é principalmente política: como transformar este tipo

de sociedade malvada numa sociedade onde os humanos possam se tratar humanamente

e gozar de direitos básicos. Caso contrário a violência é a norma e a civilização se degrada

em barbárie.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Comunidades Eclesiais de Base preparam-se para 13º Intereclesial

Terça, 17 de dezembro de 2013

Comunidades Eclesiais de Base preparam-se para 13º Intereclesial


Com a finalidade de partilhar as experiências e reflexões das Comunidades Eclesiais de

Base (CEBs) do Brasil, nasceram, na década de 70, os Intereclesiais. A 13ª edição do

encontro será de 7 a 11 de janeiro de 2014, na cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará.

O evento terá como tema “Justiça e profecia a serviço da vida” e lema, “Romeiras do

Reino no campo e na cidade”. A expectativa é de que 4 mil pessoas, representando as



comunidades de todo o Brasil e de vários continentes, participem do encontro.

A informação é divulgada pelo Boletim da CNBB, 15-12-2013.

De acordo com o bispo da diocese de Crato (CE), dom Fernando Panico, várias paróquias



e comunidades já estão envolvidas na preparação do evento. “Temos certeza de que toda

a fase de preparação é para a diocese de Crato uma grande benção. Podemos constatar

todo o movimento nas nossas comunidades que estão se organizando para acolher os

delegados”, disse o bispo.

A programação baseia-se no método “Ver”, “Julgar” e “Agir”. Na ocasião, haverá visitas

às paróquias e comunidades, testemunhos de luta, desafios e esperança, momentos de

celebrações, oficinas e plenárias, que contarão com a participação de diversos assessores

nacionais, além de uma Feira de Economia Solidária e Comércio Justo.



As CEBs, por meio dos Intereclesiais, mantêm o elo entre as comunidades do Brasil. Tratase

de um momento para reafirmar o papel das CEBs dentro da Igreja, que define sua

importância como propulsora de mudanças em diversas realidades brasileiras.


A CHINA E A REVOLUÇÃO BLOQUEADA

Terça, 17 de dezembro de 2013

A CHINA E A REVOLUÇÃO BLOQUEADA


"O que existe na China é um regime autoritário, baseado num intercâmbio de interesses

entre o Partido Comunista Chinês, que controla o aparato de Estado e exerce uma plena



hegemonia cultural – em termos de valores, produção científica e artística - e a ampla

maioria do povo chinês, cuja vida melhorou muito nos últimos trinta anos, após as reformas

dirigidas pelo Presidente Deng Hsiau-ping", escreve Tarso Genro, governador do Rio

Grande do Sul, em artigo publicado por Carta Maior, 15-12-2013.



O governador lembra que "em 8 de agosto de 1966 o “Pekin Informa” n.33, publicou a

seguinte nota: “A luta levada a cabo pelo proletariado contra o pensamento, a cultura, os

hábitos, os costumes antigos, transmitidos por todas as classes exploradoras durante

milênios, durará necessariamente um período extremamente longo. Assim, os grupos,

comitês e congressos da revolução cultural, não devem ser organizações temporárias, mas

organizações de massa permanentes, destinadas a atuar durante longo tempo.”

Segundo Tarso Genro, "levada a sério esta visão do PC chinês, naquela oportunidade,

poder-se-ia concluir que os velhos hábitos e costumes antigos ganharam na China de Deng

Hsiao-ping e que a contra-revolução venceu. Mas, se a contra-revolução venceu e tirou da



miséria trezentos milhões de chineses até os dias de hoje e tirará mais duzentos milhões

até o ano de 2023, não foi bom a contra-revolução ter vencido? Ou, quem sabe, não era

uma contra-revolução? Os velhos, as crianças antes famintas, os jovens antes pobres e

desempregados, as milhões de mães que não mais viram seus filhos se esvaírem na febre e

na miséria são concretos".

Eis o artigo.


Compartilho, com este artigo, uma pequena reflexão sobre a Revolução Chinesa e seu



estado atual, pois creio que ela é, ao mesmo tempo, a grande virada do século XXI e o

“canto do cisne” de uma certa visão socialista, extraída mecanicamente, tanto do marxismo

economicista, como do idealismo voluntarista, que caracteriza algumas posições da

esquerda socialista. Fica claro que estes comentários não pretendem transmitir nenhuma

lição sobre o tema, nem impugnar linhas de abordagem já definidas dentro do espectro

da esquerda sobre o assunto, mas manifestar uma opinião marginal sobre o tema para

colaborar com um debate que será, creio eu, um dos mais importantes deste século.

A grave contradição entre instaurar relações de produção socialistas sem ter conhecido a

revolução industrial, tendo que cumprir - com forças produtivas extremamente atrasadas -

agendas de desenvolvimento e promoção social, muito além das possibilidades oferecidas

pela técnica e pela ciência, pela consciência de classe e pelo contingente de trabalhadores

envolvidos nestas tarefas, é a base, na minha opinião, do drama chinês para o progresso

e, ao mesmo tempo, a demonstração da força extraordinária de um povo que se ergueu da

miséria e do atraso e está construindo um grande país.

A China será a grande potência econômica e militar do Século XXI, superando os grandes



países colonizadores e imperialistas do Ocidente industrializado, que deram as cartas ao

mundo dos pobres nos últimos duzentos anos. Rússia, Estados Unidos, Inglaterra, talvez

União Européia, estarão também no centro do tabuleiro mundial, olhando e interferindo



numa nova relação de forças para promover seus interesses.

Assim como a crise americana atual interessa ao mundo, da mesma forma que o

keinesianismo interessou a todos, para responder à crise de 29, o destino da China



interessa-nos, também, em função de duas questões adicionais: sua crise ambiental e a

originalidade do seu modelo de desenvolvimento. Eles condensam tanto os problemas

originários do desenvolvimento capitalista típico, assim como os ambientais de um

desenvolvimento socialista tradicional, ambos baseados numa exploração irracional

da naturalidade, seja para a aceleração da acumulação (privada ou estatal), seja para

concentrar lucros ou reparti-los.

Se a China vai desenvolver alguma semelhança com um socialismo tipo “soviético” -



pensado por Lenin nos anos 20 do século passado - ou vai se encaminhar para uma

espécie de “social-democracia” novo tipo, baseada na tradição milenar da centralização

imperial chinesa, ainda é cedo para dizer. O que se pode afirmar, porém, é que a

Revolução Cultural, iniciada nos anos 60, foi derrotada, e que a Revolução Nacional

Popular, vitoriosa nos anos 50, não inaugurou qualquer estrada reta em direção ao que se



pensava ser o socialismo, seja nos moldes do marxismo-leninismo tipo soviético, seja com

fundamento na dogmática da Revolução Cultural.

Se compararmos o que está acontecendo na China nos dias de hoje, com os processos



históricos mais próximos - em termos de desenvolvimento industrial e organização estatal

moderna - como a Revolução Industrial Inglesa, a colonização interna dos EEUU e a



sua modernização industrial como sucedâneo da dominação imperialista, o grande salto

industrial da União Soviética a partir dos anos 30, chegaremos à conclusão que a formação



da China atual - independentemente dos nossos juízos sobre as formas mais ou menos

humanistas como estes processos se realizaram - é o mais formidável salto que um governo

e um povo realizaram para melhorar a vida das pessoas e combater a miséria e a fome.

Como diz Edward Said, “o mundo, hoje, não existe como espetáculo sobre o qual possamos



alimentar pessimismo ou otimismo, sobre o qual nossos ‘textos’ possam ser interessantes

ou maçantes. Todas essas atitudes supõem o exercício de poder e interesses”. O otimismo

voluntarista espelhado na violência da Revolução Cultural Chinesa (a revolução como



estímulo moral para formação do homem novo desligado do passado e da tradição) e

o pessimismo - de certa forma apologético - inspirado na “teoria da dependência” (que

na política torna-se defesa do desenvolvimento subordinado aos países centrais) estão

bloqueados.

De um lado, este “bloqueio” dá-se pela impossibilidade concreta da solidariedade entre os

trabalhadores no plano internacional e, de outro, pela necessidade de que os países mais

fortes - em termos econômicos e militares - disputem a melhor possibilidade para, na relação

com países ricos em matérias primas e em terras, obter melhores condições para fortalecerse

perante os seus rivais militares e econômicos.

A impossibilidade da solidariedade “classista” nas lutas dos trabalhadores do mundo vem

de que a fragmentação no processo produtivo e a concorrência intra-classe (entre os

nacionais e imigrantes), impede programas comuns de luta contra as dominações internas

e exacerba o corporativismo economicista.

Acresça-se a isso o fato que os países que ainda se mantém com a retórica do

internacionalismo proletário veem, na verdade, uma revolução nos países mais débeis

- supostamente amigos - como uma instabilidade que pode bloquear “relações de

cooperação”.

Os grandes movimentos anti-sistema da atual década, com sentido ainda que espontaneísta

contra os poderes (sejam eles quais forem) vem dos jovens sub-empregados e

desempregados, de uma pequena-burguesia ressentida por não poder fruir de maiores

níveis de consumo, dos servidores públicos ainda com razoável nível de vida (comparados

com os mais excluídos), vem de setores libertários de certas frações de classe, sendo quase

nula a ação anti-sistema dos trabalhadores “com carteira”, ou seja, daqueles que numa

virada revolucionária tomariam conta não só da produção, mas do poder político.

Lembremos: na visão marxista e tradicional da revolução, a classe operária (ou os

“trabalhadores”) sujeitos da revolução, passariam a dominar, tanto o Estado, como a

impulsionar a dirigir a revolução na produção, para não mais trabalharem como escravos

modernos do capital. A esfinge chinesa nos indaga sobre tudo isso: de uma parte, é um

mito que os trabalhadores chineses atuais são escravos do Estado ou tenham níveis de

exploração mais duros do que a média dos países capitalistas de todo o mundo, assim

como é um mito de que a “ditadura do partido” domina a vida de um bilhão e trezentas mil

pessoas, a menos que se aceite que estas pessoas são seres inferiores alienados pela

propaganda e pela repressão.

O que existe na China é um regime autoritário, baseado num intercâmbio de interesses

entre o Partido Comunista Chinês, que controla o aparato de Estado e exerce uma plena



hegemonia cultural – em termos de valores, produção científica e artística - e a ampla

maioria do povo chinês, cuja vida melhorou muito nos últimos trinta anos, após as reformas

dirigidas pelo Presidente Deng Hsiau-ping.

A China nunca teve uma democracia em moldes ocidentais e, se é verdade que seu modelo



não cabe ser replicado a partir dos valores democráticos (ocidentais-iluministas), também

é verdade que o seu regime não se manteria sem um alto grau de consenso, inclusive

privilegiadamente em amplos setores das classes trabalhadoras. Se este regime manter-seá,

ou não, à longo prazo, dependerá dos maiores ou menores benefícios concretos que ele

vai aportar na vida milhões de chineses nas próximas décadas. Mas o que creio ser certo é

que se na China for adotado, em algum momento, um regime ocidental capitalista típico, o

país vai é aumentar a miséria, o crime, exclusão e a violência social.

Da tomada do poder em 1950, até a Revolução Cultural na década de sessenta, a China

lançou os fundamentos de uma Revolução Industrial Manufatureira com base numa



exploração intensiva do campo. A partir desta base manufatureira, que se consolidou e

ampliou com as reformas de Deng na década de 80 - superados os desatinos voluntaristas



da guarda vermelha maoista - exportando manufaturas aos bilhões e de baixo custo, a China

acumulou reservas trilionárias. Este modelo se esgotou, não só pela resistência dos países

importadores, como também pelas freqüentes violações às regras da OMC, após ter incluído



na nova sociedade de classes trezentos milhões de chineses.

Passa a China, agora, para uma nova etapa: disputar o comércio mundial com produtos



de valor agregado mais nobres, associar-se com capitais locais nos países que tenham

regimes de cooperação de Estado para Estado, expandir suas empresas estatais e privadas

para relocalizá-las em outros territórios, com muita terra, água e energia. Esta nova etapa

da nação e do Estado chinês é que pode servir de oportunidade para países como Brasil,

a Índia, a África do Sul e para os demais países que pretendam promover cooperações



interdependentes sem submissão.

Essa cooperação só poderá ser consolidada tendo como interlocutores os BRICS, geridos



por governos legítimos em Estados democráticos fortes, aparelhados para planejar e induzir

o seu desenvolvimento econômico e social, com empresas privadas e públicas de alta

qualificação tecnológica e gerencial.

A China, como qualquer mega-país, não estabelecerá relações de cooperação que não



atendam os seus interesses históricos e as necessidades sociais do seu povo ou que

prejudiquem a sua vocação hegemônica. Compete a cada país defender e preservar, sem

romantismos, “seu poder e seus interesses” – como diz Edward Said - , transformando,



pelos menos por agora, a utopia longínqua de um mundo “irmão” baseado no socialismo,

pela utopia concreta de uma soma de países interdependentes, que preservem as melhores

possibilidades para enfrentarem - através de cooperações negociadas soberanamente- a

miséria e a exclusão.

Em 8 de agosto de 1966 o “Pekin Informa” n.33, publicou a seguinte nota: “A luta levada

a cabo pelo proletariado contra o pensamento, a cultura, os hábitos, os costumes antigos,

transmitidos por todas as classes exploradoras durante milênios, durará necessariamente

um período extremamente longo. Assim, os grupos, comitês e congressos da revolução

cultural, não devem ser organizações temporárias, mas organizações de massa

permanentes, destinadas a atuar durante longo tempo.”

Levada a sério esta visão do PC chinês, naquela oportunidade, poder-se-ia concluir que os

velhos hábitos e costumes antigos ganharam na China de Deng Hsiao-ping e que a contrarevolução



venceu. Mas, se a contra-revolução venceu e tirou da miséria trezentos milhões

de chineses até os dias de hoje e tirará mais duzentos milhões até o ano de 2023, não foi

bom a contra-revolução ter vencido? Ou, quem sabe, não era uma contra-revolução? Os

velhos, as crianças antes famintas, os jovens antes pobres e desempregados, as milhões

de mães que não mais viram seus filhos se esvaírem na febre e na miséria são concretos.

Talvez uma boa resposta também venha deles. Para o futuro.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Acordo comercial ampliará poder da indústria de transgênicos no mundo

Acordo comercial ampliará poder da indústria de transgênicos no mundo

Jornal Brasil de Fato

A Monsanto pretende ter o controle corporativo do mundo de alimentos, saúde e meio ambiente. De todos, o fator preocupante é o do alimento
12/12/2013
Da Adital
A indústria multinacional de agricultura e biotecnologia Monsanto está prestes a mudar os rumos da produção e comercialização de sementes. Baseada no Acordo de Associação Transpacífico (TPP), um grande projeto de livre comércio que inclui 12 países, entre eles Chile, Peru e México, a empresa pode recorrer às leis do acordo para ter livre a rotulagem de alimentos transgênicos, limitando o plantio e a comercialização apenas para a empresa.
De acordo com o TPP, cujos integrantes somam 40% do PIB mundial, um padrão global de empresas será criado sobre os governos dos países envolvidos por meio de um sistema de tribunais. Esses tribunais poderão limitar, por exemplo, o acesso a medicamentos genéricos baratos em favor de medicamentos de marca, e permitir que empresas de cigarro processem governos por regulamentações na área da saúde.
Baseada nisso, a Monsanto pretende ter o controle corporativo do mundo de alimentos, saúde e meio ambiente. De todos, o fator preocupante é o do alimento. Se o controle global for efetivado, sementes que antes eram distribuídas igualitariamente serão distribuídas por apenas algumas corporações transnacionais, controlando não apenas a comida, mas também a saúde e a fonte de renda dos agricultores.
Outro fator preocupante são os produtos transgênicos, que também são defendidos pela Monsanto. A modificação genética mais preocupante envolve insensibilidade a herbicidas à base de glifosato (produtos químicos que matam plantas ditas "daninhas”). Muitas vezes conhecido como Roundup, após o produto mais vendido Monsanto ter esse nome, glifosato envenena tudo em seu caminho, exceto plantas geneticamente modificadas para resistir a ele. O glifosato é um parceiro essencial para os organismos geneticamente modificados, que são o principal negócio da indústria de biotecnologia a expansão.
Três países estão hesitantes e se eles desistirem, todo o acordo irá por água abaixo. Se enviarmos um enorme e forte apelo para líderes no Chile, Nova Zelândia e Austrália. Por isso uma campanha está coletando assinaturas nas Internet para impedir a investida corpor abra sua champanhe. Para assinar e compartilhar acesse: http://www.avaaz.org/po/no_champagne_for_monsanto_loc/?byoCdeb&v=32298
Campanha defende a soberania e a segurança alimentar doBrasil
Um projeto de Lei, o (PL) n° 268/2007 de autoria do deputado Eduardo Sciarra (PSD/PR) ameaça a soberania e a segurança alimentar e nutricional do Brasil. Promovedor da comercialização de sementes conhecidas como ”terminator”, o projeto permitirá a produção e comercialização de sementes transgênicas suicidas, ou seja, sementes que após a colheita não voltam a germinar, obrigando os agricultores a comprar sementes a cada safra. Essas sementes, além de serem estéreis, possuem alto risco de tornar também estéreis as que estejam sendo cultivadas em propriedades próximas.
No Dia Mundial da Alimentação, representantes das organizações e movimentos que apoiam a campanha entregaram uma petição e todas as assinaturas ao presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, deputado Décio Lima. Dentre os apoiadores, estão: ActionAid Brasil, ANA – Articulação Nacional de Agroecologia, AS-PTA, Centro Ecológico,Centro Sabiá, CONTAG, Cooperativa AECIA, Cooperativa Econativa, CTA – ZM, FASE - Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional, FBSSAN - Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, FESANS/RS, Grupo ETC, GEA - Grupo de Estudo em Agrobiodiversidade,Movimento dos Pequenos Agricultores, MMTR-NE, MST, Multirão Agroflorestal, Plataforma Dhesca Brasil, Rede de Mulheres Negras para Segurança Alimentar, Rede Ecovida de Agroecologia, Terra de Direitos e Via Campesina Brasil.
Com informações de Wikileaks, resistir.info e The Ecologist.
Foto: Reprodução

TEÓLOGOS ALERTAM SOBRE A "FARSA" DO DESINDIVIDAMENTO

Terça, 10 de dezembro de 2013
TEÓLOGOS ALERTAM SOBRE A "FARSA" DO DESINDIVIDAMENTO


O "desindividamento" dos países da América Latina é "uma farsa que oculta os disfarces

que a dívida externa assumiu nesses países", alertou o professor de Teologia Sistemática

da Faculdades EST, Valério Schaper.

A reportagem foi publicada no portal da Agência Latino-Americana e Caribenha de

Comunicação (ALC), 02-12-2013.



Acrescentado ao volume da dívida o valor dos juros que ela gera "o endividamento

brasileiro é o mais oneroso do mundo", apontou a auditora fiscal e coordenadora da

organização brasileira Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lúcia Fatorelli, em entrevista

ao Instituto Humanitas (IHU) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.



Em dezembro do ano passado, a dívida externa brasileira alcançou 442 bilhões de dólares

(cerca de 995 bilhões de reais) e a dívida interna atingiu o patamar de 2,8 trilhões de reais,

82% do PIB do país. "É verdade que parte dessa dívida é privada, porém, possui a garantia

do governo brasileiro e, dessa forma, constitui uma obrigação que deve ser computada em

sua integralidade", explicou Maria Lúcia.



O endividamento dos países em desenvolvimento foi tema de encontro que reuniu em São

Leopoldo, dias 15 a 17 de novembro, professores da Faculdades EST e do ISEDET, de

Buenos Aires. A iniciativa foi do Programa de Incidência sobre a Dívida Ilegítima e Justiça

Ecológica, vinculado à Federação Luterana Mundial (FLM).

Os disfarces da dívida e a sua extensão no corpo da sociedade e da igreja, admoestou

Schaper, exigem da Teologia uma radicalização dos seus posicionamentos éticos. “É



preciso alertar a sociedade e as igrejas para que retomem e acentuem o tema da justiça

econômica”, frisou.

Na entrevista ao IHU, a auditora fiscal explicou que a dívida pública é um dos principais



alimentos do capitalismo, que favorece a concentração de renda no setor financeiro,

aumentando ainda mais o seu poder.

"O custo da dívida é transferido diretamente para a sociedade, em particular os mais

pobres, tanto por meio do pagamento de elevados tributos incidentes sobre tudo o que

consomem, quanto pela ausência ou insuficiência de serviços públicos a que têm direito -

saúde, educação, assistência social, previdência - e, ainda, entregando patrimônio público

mediante as privatizações e a exploração ilimitada de riquezas naturais, com irreparáveis

danos ambientais, ecológicos e sociais", arrolou Maria Lúcia.



O grande paradoxo é que o Brasil representa a sétima economia do mundo e ocupa o 85.

lugar no Índice de Desenvolvimento Humanos (IDH) medido pela ONU. Assim, diz a



auditora, o Brasil é "um dos países mais injustos do mundo".

Há 30 anos a FLM mantém o compromisso reflexivo a respeito do endividamento. Ela



advoga a anulação da dívida ilegítima e reivindica a formulação de um novo modelo

econômico-financeiro e de desenvolvimento.

Um dos coordenadores do Programa da FLM, o pastor argentino Angel Furlan, explicou



que o projeto pretende conscientizar, buscar a incidência pública, incentivar auditorias

e apoiar tanto iniciativas populares quanto governamentais a favor da anulação de toda

dívida ilegítima.


Por que no meio da dor os negros dançam, cantam e riem? Leonardo Boff

Por que no meio da dor os negros dançam, cantam e riem?

Por que no meio da dor os negros dançam, cantam e riem?

Ficamos admirados que se dedique um dia inteiro de orações por Mandela com missas e ritos. Eles sentem Deus na pele, nós ocidentais na cabeça. Por isso dançam.






Milhares de pessoa em toda a África do Sul misturam choro com dança, festa com lamentos pela morte de Nelson Mandela. É a forma como realizam culturalmente o rito de passagem da vida deste lado para a vida do outro lado, onde estão os anciãos, os sábios e os guardiães do povo, de seus ritos e das normas éticas. Lá está agora Mandela de forma invisível mas plenamente presente acompanhando o povo que ele tant ajudou  a se libertar.

Momentos como estes nos fazem recordar de nossa mais alta ancestralidade humana. Todos temos nossas raízes na Africa, embora a grande maioria o desconheça ou não lhe dê importância. Mas é decisivo que nos reapropriemos de nossas origens, pois elas, de um modo ou de outro, na forma de informação, estão inscritas no nosso código genético e espiritual.

Refiro-me aqui tópicos de um texto que há tempos escrevi sob o título:”somos todos africanos” atualizado face à situação atual mudada. De saída importa denunciar a tragédia africana: é o continente mais esquecido e vandalizado das políticas mundiais. Somente suas terras contam. São compradas pelos grandes conglomerados mundiais e pela China para organizar imensas plantações de grãos que devem garantir a alimentação, não da Africa, mas de seus países ou negociadas no mercado especulativo. As famosas “land grabbing” possuem, juntas, a extensão de uma França inteira. Hoje a Africa é uma espécie de espelho retrovisor de como nós humanos pudemos no passado e podemos hoje ainda  ser desumanos e terríveis. A atual neocolonização é mais perversa que a dos séculos passados.

Sem olvidar esta tragédia, concentremo-nos na herança africana que se esconde em nós. Hoje é consenso entre os paleontólogos e antropólogos que a aventura da hominização se iniciou na África, cerca de sete milhões de anos atrás. Ela se acelerou passando pelo homo habilis, erectus, neanderthalense até chegar ao homo sapiens cerca de noventa mil anos atrás. Depois de ficar 4,4 milhões de anos em solo africano este se propagou para a Asia, há sessenta mil anos; para a Europa, há quarenta mil anos; e para as Américas há trinta mil anos. Quer dizer, grande parte da vida humana foi vivida na África, hoje esquecida e desprezada.

A África além de ser o lugar geográfico de nossas origens, comparece como  o arquétipo primal: o conjunto das marcas, impressas na alma de todo ser humano. Foi na África que este elaborou suas primeiras sensações, onde se articularam as crescentes conexões neurais (cerebralização), brilharam os primeiros pensamentos, irrompeu a criatividade e emergiu a complexidade social que permitiu o surgimento da linguagem e da cultura. O espírito da África, está presente em todos nós.

Identifico três eixos principais do espírito da África que  podem nos inspirar na superação da crise sistêmica que nos assola.

O primeiro é o amor à Mãe Terra, a Mama Africa. Espalhando-se pelos vastos espaços africanos, nossos ancestrais entraram em profunda comunhão com a Terra, sentindo a interconexão que todas as coisas guardam entre si, as águas, as montanhas, os animais, as florestas e as energias cósmicas. Sentiam-se parte desse todo. Precisamos nos reapropriar deste espírito da Terra para salvar Gaia, nossa Mãe e única Casa Comum.

O segundo eixo é a matriz relacional (relational matrix no dizer dos antropólogos). Os africanos usam a palavra ubuntu que significa:”eu sou o que sou porque pertenço à comunidade” ou “eu sou o que sou através de você e você é você através de mim”. Todos precisamos uns dos outros; somos interdependentes. O que a física quântica e a nova cosmologia dizem acerca de interconexão de todos com todos é uma evidência para o espírito africano.

À essa comunidade pertencem os mortos como Mandela. Eles não vão ao céu, pois o céu não é um lugar geográfico, mas um modo de ser deste nosso mundo.  Os mortos continuam no meio do povo como conselheiros e guardiães das tradições sagradas.       

O terceiro eixo são os rituais e celebrações. Ficamos admirados que se dedique um dia inteiro de orações por Mandela com missas e ritos. Eles sentem Deus na pele, nós ocidentais na cabeça. Por isso dançam e mexem todo o corpo enquanto nós ficamos frios e duros como um cabo de vassoura.

Experiências importantes da vida pessoal, social e sazonal são celebrados com ritos, danças, músicas e apresentações de máscaras. Estas representam as energias que podem ser benéficas ou maléficas. É nos rituais que ambas se equilibram e se festeja a primazia do sentido sobre o absurdo.

Notoriamente é pelas festas e ritos que a sociedade refaz suas relações e reforça a coesão social. Ademais nem tudo é trabalho e luta. Há a celebração da vida, o resgate das memórias coletivas e a recordação das vitórias sobre ameaças vividas.

Apraz-me trazer o testemunho pessoal de um dos nossos mais brilhantes jornalistas, Washington Novaes:”Há alguns anos, na África do Sul, impressionei-me ao ver que bastava se reunirem três ou quatro negros para começarem a cantar e a  dançar, com um largo sorriso. Um dia, perguntei a um jovem motorista de táxi:"Seu povo sofreu e ainda sofre muito. Mas basta se juntarem umas poucas pessoas e vocês estão dançando, cantando, rindo. De onde vem tanta força?" E ele: "Com o sofrimento, nós aprendemos que a nossa alegria não pode depender de nada fora de nós. Ela tem de ser só nossa, estar dentro de nós."

Nossa população afrodescendente nos dá a mesma amostra de alegria que nenhum capitalismo e consumismo pode oferecer.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Senado uruguaio aprova liberação de cultivo e venda de maconha no país

Senado uruguaio aprova liberação de cultivo e venda de maconha no país

Jornal Brasil de Fato

Texto segue para sanção do presidente José Mujica, principal defensor da medida; país é o primeiro a legalizar produção
11/12/2013
Do Opera Mundi,
O Senado do Uruguai aprovou nesta terça-feira (10/12), por 16 votos contra 13, a liberação da venda e do cultivo de maconha no país. Agora, o texto segue para sanção do presidente José “Pepe” Mujica, que é um dos maiores defensores da medida. A Câmara de Deputados já havia aprovado o projeto em 31 de julho deste ano.
A lei não deve ter vigência imediata, dado que é necessário que seja primeiro, regulamentada. De acordo com o jornal El País, o prazo para regulamentação é de 120 dias a partir da assinatura de Mujica. Por isso, as atividades de plantio e venda da maconha devem começar somente em abril de 2014.
Pelo projeto, prevê-se controle estatal do comércio da substância. Além disso, ela deverá ser vendida a US$ 1 (R$ 2,31) o grama. Em outubro, ao El País, o secretário da Junta Nacional de Drogas, Julio Calzada, explicou o porquê do preço. “O custo da maconha no momento da distribuição deve ser equiparado ao conseguido no mercado legal”, disse. “Estamos falando hoje que o preço da maconha prensada paraguaia, que é normalmente vendido aqui, fica cerca de um dólar por grama.”
O texto prevê que o cultivo para consumo próprio será permitido até o limite de seis plantas por pessoa, com produção total de 480 gramas por ano. Somente maiores de idade e residentes no Uruguai – com comprovação – poderão consumir maconha e comprar até 40 gramas por mês. Fica ainda proibido qualquer tipo de publicidade da substância.
“Contribuição”
Em entrevista à agência AFP em agosto, Mujica falou que a liberação pode ser uma “contribuição real à humanidade”, por fazer do Uruguai um “local de testes com uma série de medidas para confrontar o problema e fornecer ferramentas para combater o vício em drogas”.
No entanto, ainda de acordo com a agência, a medida não é popular. Uma pesquisa de opinião conduzida em setembro mostrou que 61% dos entrevistados não apoiam o projeto.
A liberação da substância também preocupa vizinhos como Argentina e Brasil. Uma comissão, liderada por um deputado brasileiro e pelo diretor da Secretaria Nacional Antidrogas do país foi ao Uruguai argumentar contra a medida, mas não teve sucesso.

Análise: Por que os EUA e a União Europeia sustentam a rebelião na Ucrânia?

Análise: Por que os EUA e a União Europeia sustentam a rebelião na Ucrânia?

Jornal Brasil de Fato

A oposição prometeu realizar uma “marcha” com um milhão de pessoa

11/12/2013
Achille Lollo,

de Roma (Itália)
Os dois principais partidos da oposição, nomeadamente Bloco Nossa Ucrânia/Autodefesa Popular, (de Viktor Juscenko) e o Partido da Pátria/Bloco Eleitoral (de Julia Tymosenko), decidiram enfrentar diretamente o presidente Viktor Jankovic e o primeiro-ministro Mykola Azarov, após o presidente anunciar na televisão que o governo havia finalizado as negociações com a União Europeia, postergando, mais uma vez, a eventual entrada no bloco dos países europeus.
Além disso, Viktor Jankovic ressaltava que era mais conveniente em termos econômicos e geoestratégicos para a Ucrânia reforçar o relacionamento com a Rússia.
Para os líderes da oposição, Viktr Juscenko e a riquíssima Julia Tymosenko – que, oficialmente, continua presa por fraude à receita – esta foi a grande ocasião para obrigar o presidente Viktor Jankovic a demitir o primeiro-ministro, Mykola Azarov e, consequentemente, promover novas eleições.
De fato, a oposição alimentou nos jovens pobres o mito da riqueza dos países da União Europeia que qualquer um deles podia adquirir ao conseguir emigrar com um passaporte europeu. Ao mesmo tempo, também manipulavam os jovens dizendo que Jankovic e Azarov haveriam rejeitado a proposta de entrar a fazer parte da União Europeia, antes de tudo, para vetar a imigração dos jovens ucranianos na Europa.
Além disso, para acirrar ainda mais os ânimos dos manifestantes, as lideranças da oposição diziam que o presidente Jankovic havia dito não à União Europeia por imposição do presidente russo Vladimir Putin.
Argumentos que provocaram uma dura reação popular e que foi muito bem aproveitada pelos canais de televisão europeus e estadunidenses para pressionar o governo da Ucrânia a libertar Julia Tymosenko, condenada por crimes financeiros quando era presidente da Companhia Geral de Energia.
Neste contexto, a manipulação do clima político foi excepcional, conseguindo empolgar os eleitores dos dois partidos da oposição e, assim, construir facilmente uma rebelião popular, que ao juntar um milhão de pessoas nas ruas de Kiev pretendia exigir a demissão do presidente Viktor Jankovic.
Uma espécie de ruptura institucional, que deveria repetir o golpe branco de 2004, chamado de “Revolução Laranja”, que ocorreu com a direta sustentação dos serviços secretos dos EUA e dos principais países da União Européia, nomeadamente: Alemanha, França Grã Bretanha e Países Baixos.
Aliás, a estreita ligação da CIA com a líder do Partido da Pátria/Bloco Eleitoral, Julia Tymosenko, e o envolvimento da Freedom House em sua campanha, bem como o uso de fundos secretos para comprar os votos a favor de seu partido, foi um dos argumentos explorados pelo jornalista Georgij Gongadze, cujo assassinato, aos 17 de setembro de 2000, permitiu a Julia Tymosenko, ao então presidente Leonid Kuchma e a outros oligarcas – escandalosamente enriquecidos com as privatizações das empresas públicas – livrarem-se das pesadas acusações que o jornalista havia gravado em suas reportagens.
Importância geopolítica
Depois da Rússia, a Ucrânia é a nação mais densamente povoada da região – com cerca de 46 milhões de habitantes, dos quais um terço de etnia russa – e com mais centrais nucleares (11) construídas pela então União Soviética. Aliás, o atual presidente Viktor Jankovic assinou com a Rússia um novo protocolo para a construção de mais 12 centrais nucleares, além de ampliar o acordo para o fornecimento do urânio enriquecido.
Um negócio que, juntamente ao fornecimento do gás, é o cerne das opções geoestratégicas do atual governo da Ucrânia, a partir do momento em que foi a empresa russa Gazprom que construiu na Ucrânia todos os terminais de distribuição para abastecer os países europeus. Por isso o governo de Kiev paga, ainda hoje, o gás a preço de favor (50 dólares em vez de 230 dólares por mil metros cúbicos).
Por outro lado, na Ucrânia há muitas empresas russas de aviação, metalúrgicas e mineração que os oligarcas ucranianos pretendem nacionalizar para depois privatizar com a ajuda de transnacionais ocidentais. Um processo que se iniciou, em 1996, para depois se expandir no ano 2000 quando Viktor Jankovic foi presidente e Julia Tymosenko se assenhoreou do cargo de primeiro-ministro – até ser demitida por extrema incompetência.
Paralelamente, a azarada decisão do Departamento de Estado de apoiar a fraudulenta aventureira Julia Tymosenko foi consequência política da necessidade de os EUA ampliar sua influência geoestratégica na Ucrânia e, portanto, estar cada vez mais perto da região do Cáucaso, onde a Geórgia, a Ossétia do Sul, a Inguchétia e a Abcásia querem romper com o protecionismo da Rússia para negociar com as transnacionais do Ocidente seu potencial de gás e de petróleo. Nesse contexto, somente um governo filo-ocidental, tal como Viktor Jankovic e Julia Tymosenko propõem, pode exigir da Rússia a saída da base naval de Sebastopol e entregá-la à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
É claro que para realizar todas essas mudanças institucionais e geoestratégicas a Ucrânia deve, antes de tudo, sair pacificamente da órbita da Rússia.
Foto: Lenelenka