Debatendo o filme Leviatã
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17 de fev (Há 2 dias)
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Soninha
Falamos sobre o filme, mas não abordamos a relação entre o título Leviatã com a formação (origem) do Estado, ou o contrato dos súditos em aceitarem um soberano absolutista para evitar a guerra de todos contra todos, na concepção de Hobbes. Gostaria de conversar com vc sobre o filme nesse sentido, ou seja, até que ponto o prefeito significa o poder regional no sentido do poder municipal ( que compõe o Estado) e que deve impedir qualquer manifestação contrária à sua soberania. Escrevendo de outra forma: o Estado Russo agora capitalista continua ou resgata de forma mais elaborada o contrato (decidido quando os homens viviam em sua forma "natural, sem propriedade" que segundo Hobbes atrela a população ao poder do soberano para evitar conflitos (a luta de todos contra todos, a liberdade de reivindicar e defender o que considera seu) ou para administrá-los e assim garantir a "paz", isto é: a propriedade, individualismo possibilitando o desenrolar das "parcerias público-privadas". O Leviatã é esse Estado, não somente absolutista do séc XVII que deve ser preservado (o Hobbes foi contra a decapitação de Carlos I e contra Cromwell e queria o fim da guerra civil). Para evitar a luta "natural" em defesa de seus interesses pessoais os súditos (até do séc XXI) devem obedecer e compactuar com um prefeito corrupto porque ele representa o soberano local que evita conflitos, transformações e garante privilégios.
A carcaça do animal marinho gigantesco do filme pode simbolizar também o Leviatã que era representado (na obra O Leviatã) também por um monstro marinho que na melhor das hipóteses defendia os peixes menores para que fossem devorados dos maiores e portanto evitava a guerra. As consequências desse pacto entre população e governantes é exatamente a injustiça social e o abuso de poder verificado no enredo do filme. Em suma, a fúria do mar, os barcos encalhados, a carcaça, a bebida excessiva, a falta de perspectiva gerando o suicídio talvez representassem o resultado desse contrato que se transforma em excesso de poder e que se não evita os conflitos (porque é impossível), os destrói violentamente, injustamente, com a colaboração de toda a sociedade e instituições (com evidência para o poder Judiciário).
Boa Noite
Márcia
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17 de fev (Há 2 dias)
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Oi Márcia, acabei de chegar e vi que você acabou de me ligar, depois eu te telefono. Bem, sobre a relação entre o título e o enredo do filme, acho que você tem razão na sua interpretação sobre o contrato social hobbesiano, na medida em que os súditos delegam totalmente o poder de decisão ao soberano representado pelo prefeito corrupto. Nesse sentido, aquele casal policial também exerce essa submissão ao poder local, uma vez que, eles (o marido e a mulher) assumem o ponto de vista da autoridade e hierarquia, abrindo mão de tomar posição a favor do Kolya, embora o policial não acreditasse na versão oficial. Após a prisão do Kolya a “ordem” passa a vigorar na cidade, onde, cada um desempenha o papel que lhe cabe para manter a “harmonia social”, inclusive o padre na sua medíocre espiritualidade e o prefeito, em algum momento, se refere às “parcerias público-privadas”. Talvez, você tenha razão também na simbologia do animal marinho (apesar de que acho meio injusto as baleias representarem o Leviatã), o belo mar furioso, os barcos encalhados, sendo uma ameaça constante da natureza, ou do “estado de natureza” que o contrato social não é capaz de conter totalmente. A ideia de que o contrato social tem que ser atualizado, em função dos conflitos sociais, também acho pertinente. Talvez, o advogado represente alguma coisa próxima de um ideário republicano em oposição ao soberano local que detinha imenso poder sem legitimidade, a não ser a subordinação total daquelas pessoas, com baixa escolaridade e sem perspectiva de futuro, que viviam na comunidade. Aí, acho que há um conflito na relação soberano/súdito, na forma de exercer o poder, talvez, o advogado estivesse mais próximo de um tipo de dominação racional-legal, como o Weber analisa a dominação nas sociedades modernas, acho que há uma pista no sentido de um conflito incipiente de poder tradicional na figura do prefeito corrupto e um poder baseado nas leis, mas a tradição e o provincianismo vencem. Não consigo perceber “o estado de natureza da guerra de todos contra todos” na relação entre as pessoas da comunidade, na verdade o conflito foi instaurado pela gana de poder e ambição do próprio prefeito corrupto (soberano?).
Soninha
De: Marcia D'Angelo [mailto:marcia.dangelo19@ gmail.com]
Enviada em: terça-feira, 17 de fevereiro de 2015 01:07
Para: undisclosed-recipients:
Assunto: O Leviatã de Thomas Hobbes
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12:45 (Há 3 minutos)
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Ainda o filme Leviatã
Analisando sob o ponto de vista da Psicanálise, da Antropologia e até da História podemos concluir que a imagem da carcaça, dos barcos encalhados na parte mais "tranquila" do mar, na praia (talvez sinalizando que na praia a natureza é menos furiosa ou até certo ponto mais permissiva a objetos estranhos permanecerem) represente o que ainda não foi superado na cultura russa (e não somente nela) sob o ponto de vista político, econômico, social, cultural e até espiritual.
Possivelmente os valores autoritários, antidemocráticos que até remontam a uma sociedade feudal, gerando indivíduos que não são sujeitos mas objetos da História possam ser identificados nessas imagens, cujos resquícios ainda são perceptíveis na mentalidade das pessoas da pequena e provinciana cidade.
Portanto, esses valores representados pelas imagens que até identificam o filme Leviatã estão principalmente na praia, na porção menos revolta do mar. As imagens estão atoladas na praia, morreram na praia como o "Socialismo Real" na URSS. Para removê-los é necessário muita coragem, organização, conscientização, politização e força dos habitantes locais, talvez tarefa para futuras gerações ou sistemas. E a questão da posse da propriedade é o fundamento principal.
Márcia
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