segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Qual é a Polícia Federal de que o Brasil precisa? - Tereza Cruvinel para Brasil 247

Para cientista, gestão Cardozo tem acertos, mas falhou diante de abusos institucionais - Rede Brasil Atual

MINISTRO DA JUSTIÇA

Para cientista, gestão Cardozo tem acertos, mas falhou diante de abusos institucionais

Enquanto associação de delegados da Polícia Federal se diz preocupada com 'independência', magistrados e cientistas políticos destacam que autonomia da PF não justifica abusos contra Constituição
por Hylda Cavalcanti, da RBA publicado 29/02/2016 18:13, última modificação 29/02/2016 18:47
WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL
José Eduardo Cardozo
Ministro estava no cargo desde início de 2011
Brasília – A notícia da saída do cargo do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, hoje (29), teve repercussões diferentes entre setores diversos da sociedade Enquanto a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) divulgou nota externando preocupação com a “autonomia da PF”, juristas e magistrados reiteraram posicionamento que vinham fazendo há meses, de que a questão que reside nos motivos da saída de Cardozo não são a busca por menor ou maior autonomia da instituição. E sim, a falta de controle de vazamentos seletivos, de retorno a perguntas sobre como foram feitas determinadas investigações e iniciativas que deixaram transparecer abusos a direitos fundamentais garantidos na Constituição.
Segundo o que circulou no noticiário, o ministro, que já vinha falando antes em deixar a pasta que ocupava desde o início do primeiro governo Dilma Rousseff, pediu para sair depois de ter sido bombardeado nos últimos dias por críticas dos integrantes do PT. Principalmente nas ações de acompanhamento das "investigações" dirigidas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua família e na condução da Operação Lava Jato como um todo.
Mas a questão que envolve Cardozo não significa dizer que o governo adotará um filtro para a ação da Polícia Federal e demais órgãos controlados pelo Ministério da Justiça. E sim pruridos da ausência de providências sobre determinados abusos.
Para o cientista político e advogado Geraldo Ferreira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – que tem a investigação Lava Jato como tema de estudo para sua tese de doutorado, na Universidade de Brasília (UnB) –, os governos de Lula e da presidenta Dilma Rousseff foram e têm sido republicanos, no sentido amplo da palavra, de respeitar e dar liberdade às instituições. "Mas daí a deixar essas instituições cometerem ações que ultrapassam os limites estabelecidos constitucionalmente é um outro caminho", criticou Ferreira.
Alguns casos observados nesse sentido chegaram a criar saia justa para o ministro, como a intimação feita a Luiz Cláudio Lula da Silva, na sua residência, no final do ano passado, por volta das 23h – horário considerado inadequado para esse tipo de abordagem e no dia do aniversário do ex-presidente. Na ocasião, Cardozo afirmou que tinha pedido explicações formais à Polícia Federal sobre os motivos que levaram a esse tipo de ação para tomar depoimento de alguém não indiciado em nenhum crime.
A falta de resposta sobre a justificativa da PF soou estranho para vários repórteres que procuraram informações no ministério. E não foi o único caso.

Autonomia funcional

Em nota divulgada hoje, a ADPF afirma ver com "extrema preocupação" a saída de Cardozo do Ministério da Justiça. "Os delegados federais reiteram que defenderão a independência funcional para a livre condução da investigação criminal e adotarão todas as medidas para preservar a pouca, mas importante, autonomia que a instituição Polícia Federal conquistou", enfatiza o documento. A carta acrescenta que a entidade permanece "compromissada em fortalecer a Polícia Federal como uma polícia de Estado, técnica e autônoma, livre de pressões externas ou de orientações político-partidárias".
Especialistas do meio jurídico e acadêmico, no entanto, observam a própria PF recorrendo a "pressões externas" ao utilizar os meios de comunicação para difundir investigações e suspeitas inconclusas, de cunho sigiloso, de modo a criar um ambiente de comoção sobre a opinião pública. E precipitar a "fabricação" de juízos de valor.
No livro A Outra História da Lava-Jato, do jornalista Paulo Moreira Leite, que faz um análise das ações da operação a partir do parecer de vários juristas, magistrados e especialistas, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos afirma que mais do que uma "judicialização da política", assiste-se hoje a uma "espetacularização da Justiça", com a assídua contribuição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). "A política vem sendo filtrada pelos processos civis e criminais em andamento, estando subordinados ao desenlace, como em filme, agora de suspense, os destinos de bom número de personagens da vida pública", enfatiza.
Também o jurista Rubens Casara ressalta, em artigo publicado no ano passado intitulado "O Processo Penal do Espetáculo", e destacado na mesma obra, que "a espetacularização dos julgamentos, situação evidente depois da Ação Penal 470 (a do mensalão), cria um ambiente de mocinho e bandido que ilude a população e compromete os direitos de defesa dos acusados, que se tornam alvo de um discurso construído, não raro, para agradar às maiorias de ocasião, forjadas pelos meios de comunicação de massa".
Em seu site, o jornalista Luis Nassif observa que o fluxo de disseminação de denúncias por autoridades via meio de comunicação cria um "efeito manada" na opinião pública. "Hoje em dia tem-se um Judiciário acuado pela besta – o sentimento de manada da opinião pública e um clima em que cada qual cuida apenas do seu quintal", avalia, referindo-se à inépcia de autoridade de colegiados superiores como Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça e Procuradoria-Geral da República – em coibir os abusos.
Nassif aponta em declarações do próprio Sérgio Moro, responsável pela operação, uma motivação parcial: "Quando o juiz sustenta que a corrupção deriva de uma economia fechada, expressa uma visão ideológica (que emana de organizações internacionais movidas por uma visão liberalizante da economia)".

Tom político-partidário

Na mesma linha, o deputado Wadih Damous (PT-RJ), advogado e ex-presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio de Janeiro, embora não tenha comentado a saída do ministro da Justiça, já ressaltou várias vezes a questão do tom político-partidário dado à condução da operação.
De acordo com o deputado, o contraditório assegura às partes do processo (autor e réu) acesso de todos os atos processuais nele produzidos para que tenham a possibilidade de contrariá-los. "Sem o contraditório, não há ampla defesa. Trata-se de princípio constitucional. A delação premiada é inconstitucional porque viola esse direito ao confronto. No processo não pode haver procedimentos secretos. Se houver, são nulos por desrespeito à Constituição. E a Constituição não pode ser cumprida pela metade", assegurou Damous.
O parlamentar também criticou o fato da Lava Jato só ser sigilosa no processo. "Fora dele, todos ficam sabendo do teor da delação pelas manchetes dos jornais, logo após o depoimento. A obrigação de sigilo, que a própria lei da delação premiada estabelece, tornou-se meramente simbólica. Desrespeita-se a obrigação legal e fica por isso mesmo. Assim, o que o delator disse ganha estatuto de verdade absoluta e é tratado como prova. A prova sem processo."
"Está claro que não se trata de uma questão de reprimir ou inibir uma investigação que o país inteiro quer ver chegar ao final, mas sim passar a acompanhar melhor o trabalho das instituições que tendem a seguir por um caminho errado, muitas vezes beirando o inconstitucional. E foi isso o que faltou ao ministro Cardozo, que fez um trabalho exemplar em vários outros setores cobertos pela pasta", acentuou Geraldo Ferreira.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Lula, nos 36 anos do PT: “Se quiserem me derrotar, vão ter que me enfrentar na rua”;ouça a íntegra do discurso - Viomundo

Lula, nos 36 anos do PT: “Se quiserem me derrotar, vão ter que me enfrentar na rua”;ouça a íntegra do discurso

publicado em 28 de fevereiro de 2016 às 11:51
lula 36 anos
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
27/02/2016 21:43
Lula: “Se quiserem me derrotar, vão ter que me enfrentar na rua”
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve da festa de 36 anos do Partido dos Trabalhadores, no Rio de Janeiro, neste sábado (27). A festa contou com a apresentação de Diogo Nogueira e a bateria da Portela, além de homenagem especial ao ex-presidente, a quem foi dedicada a música “Ser Humano”, de Zeca Pagodinho.
Houve ainda homenagem a Carlos Manoel, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro e secretário de finanças do PT fluminense, falecido na última terça-feira (23).
Em mensagem aos militantes, Lula reafirmou que é necessário defender e ajudar o governo federal a retomar um ciclo de crescimento com inclusão social. “O problema é nosso. É meu, é seu, e todos os brasileiros. Temos de assumir essa responsabilidade. Falar o que tem de falar, porque partido não precisa concordar sempre com governo. Mas saber que estamos juntos. Por mais que haja discordância de alguma coisa, o lado da Dilma é o do povo”, ressaltou o ex-presidente, saudado com gritos de: “não vai ter golpe”.
“O povo brasileiro quer emprego, salário, inflação baixa e ter um dinheirinho pra gastar com a família. E nós estamos vivendo um momento difícil. A culpa não é do governo, é de uma conjuntura mundial”, ponderou Lula. “O povo sabe que foi o PT que levou a tantas conquistas na última década. Foi o projeto que mais investiu em educação, que mais pôs comida na mesa do povo, que fez 40 milhões ascenderem socialmente, levou energia a 12 milhões de brasileiros”, relembrou.
O ex-presidente afirmou ainda que, para sair da conjuntura de crise, “temos de olhar ainda mais para o povo pobre. O pobre não é problema. É solução. Se o mundo rico tivesse feito desde 2007 investimentos para ajudar os países pobres a se desenvolver, estariam vendendo para o continente africano, para a america latina, e a gente teria deixado de ser pobres. Mas colocaram 12 bilhões de dólares para salvar o mercado financeiro, e não adiantou”.
Campanha de difamação e 2018
Lula falou ainda sobre a campanha empreendida por parte da mídia e setores do judiciário contra o PT e a honra do próprio ex-presidente. “Não podemos criminalizar qualquer pessoa que seja por causa de manchetes. Hoje, neste país, há um partido que se chama Globo, um partido que se chama Veja. Mas se eles quiserem voltar ao poder, tem de aprender a ser democráticos e respeitar os resultados das eleições”. Lula, que relatou os ataques diários sofridos por ele desde janeiro do ano passado, garantiu que não se intimidará. “se for necessário, se vocês entenderem necessário para defender este projeto, que está sob ataque, em 2018, eu, com 72 anos, volto a disputar a eleição”.
Ouça o discurso do ex-presidente Lula:

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Tico Santa Cruz
Fotos: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Intelectuais e artistas defendem projeto popular e repudiam perseguição a Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, na noite desta sexta-feira (26), de um encontro com intelectuais, artistas e cientistas do Rio de Janeiro para debater os desafios e perspectivas do país.
Convidados pelo escritor Roberto Amaral, ex-ministro de Ciência e Tecnologia e ex-presidente do PSB, eles se posicionaram em defesa do estado democrático de direito e do projeto de crescimento com inclusão social e independência nacional aplicado desde 2003, verdadeiro alvo da onda conservadora em curso desde o fim das últimas eleições presidenciais.
“A presunção da inocência não vale mais nada. Nunca valeu para o preto e pobre, e agora não está valendo para ninguém”, ponderou Eni Moreira, advogada de diversos presos políticos durante a ditadura militar. “Então um sujeito que está mofando na cadeia, pressionado com a possibilidade de prisão de mulher e filhos, assina um contrato de toma lá, dá cá. Uma barganha, como se chama esse mecanismo nos Estados Unidos. A mídia repercute qualquer acusação e nunca mais a imagem das pessoas se recupera. É como no ditado árabe: lance as penas de um ganso ao vento, e depois tente recolhê-las. É impossível”, concluiu.
E a campanha de difamação atinge também apoiadores do projeto popular: o músico Tico Santa Cruz relatou como sofreu ameaças de morte contra seus filhos por fazer a desconstrução do discurso midiático em suas redes sociais. “É necessário fazer a autocrítica, porque se avançamos na distribuição de renda, não avançamos na comunicação”, afirmou, ao defender que as forças progressistas utilizem mais e melhor a internet para alimentar o diálogo propositivo e combater o ódio.
Pedro Celestino, presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, afirmou que o que o que está em jogo são as próximas décadas do desenvolvimento brasileiro: “por isso também atacam o petróleo, falam em terra arrasada na economia, tentam recriar conflito com a Argentina. Hoje, como em 1964. A diferença é só que o elemento de desestabilização não é mais o exército”.
“O ódio despejado sobre nós neste momento é por conta do que aconteceu neste país”, corroborou Lula. “Uma verdadeira revolução em 12 anos. Quantas pessoas foram incluídas? Que quantidade de pessoas foi à universidade? Que quantidade de pessoas passou a comer três vezes por dia?”, completou.
A exemplo dos convidados do encontro, que se colocaram à disposição para seguir defendendo publicamente os valores sociais do projeto político representado por Lula, o ex-presidente também afirmou que pretende continuar viajando o Brasil com esse objetivo.
“E eu também vou brigar na Justiça porque alguém precisa por o dedo na ferida desse tipo de comportamento”, disse ainda, sobre sua determinação de levar às últimas instâncias o combate às mentiras contra sua honra.
“Lembro-me, nestes tempos, o que diziam do Garrincha: pra parar esse aí, só matando a tiro. E agora, o que tentam fazer é justamente um assassinato político”, comparou o cineasta Luis Carlos Barreto, relembrando que Lula é a face pública de uma bem-sucedida política voltada aos mais necessitados.

Janio e o Judiciário: “quem manda aqui sou eu” O PiG se suja no Congresso, no MP e no Judiciário - Paulo Henique Amorim

Janio e o Judiciário: “quem manda aqui sou eu”

O PiG se suja no Congresso, no MP e no Judiciário
publicado 28/02/2016
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Conversa Afiada reproduz excelente artigo de Janio de Freitas na Fel-lha deste domingo, 28/2, ela mesma exemplo exuberante do jornalismo que fugiu de si mesmo, com medo da internet … :
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2016/02/1744189-o-caminho-e-o-desastre.shtml

O Brasil experimentou uma democracia frustradamente reformista, passou por golpe de estado, sofreu a tragédia da ditadura militar, voltou à democracia caótica, e chegou. Chegou outra vez aos primeiros anos da década de 1950. O golpismo, o "entreguismo" ameaçador e a "república do Galeão" foram os estigmas daqueles anos. O golpismo volta no estilo PSDB; acompanha-o o "entreguismo" apontado na retirada de pré-sal da Petrobras, aprovada pelo Senado; e a versão civil da "república do Galeão", sob o nome insignificante de Lava Jato, evidenciam juntos o estágio em que o Brasil de fato está. 

(…)

… partes do Judiciário e do Ministério Público agem como se respondessem aos direitos civis (e por tabela a quem os defenda): cala a boca já morreu, quem manda aqui sou eu. E mandam mesmo, pela reiteração e pela indiferença, porque as instâncias com autoridade e meios de corrigir as deformações não o fazem, acomodadas no seu próprio poder ou intimidadas pela parcela da sociedade adepta do bordão. E os direitos e a Justiça se esvaem.

Crises políticas não se agravam sem imprensa. Crises econômicas expandem-se menos e menos depressa sem imprensa. Hoje em dia a imprensa brasileira pratica uma solidariedade de modos com as deformações no Congresso, no Ministério Público e no Judiciário. Assola-a nova onda de relaxamento dos princípios éticos, para não falar em qualidade jornalística. E cresce a cada dia uma grande dívida de autocrítica, para relembrar as responsabilidades dos jornalistas profissionais. Com medo da internet, a imprensa brasileira foge de si mesma. 

(…)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O bode de Serra que iludiu o governo - Luis Nassif para GGN

O bode de Serra que iludiu o governo

No início de 2015, quando a base de apoio à Dilma Rousseff erodiu, iniciou-se imediatamente uma caça ao petróleo, digna dos pioneiros texanos. Três craques saíram na frente tentando perfurar o primeiro poço: o presidente da Câmara Eduardo Cunha e os senadores José Serra e Renan Calheiros.
Serra e Calheiros acabaram se aliando em seus trabalhos pioneiros.
Nas votações de ontem conseguiram a adesão do governo com uma versão muito simples da estratégia do bode na sala.
Consistiu no seguinte.
A Petrobras, de fato, tem problemas imediatos para manter o ritmo de investimentos no pré-sal. Está com um alto grau de endividamento agravado pela queda nos preços do petróleo.
Serra apresentou um projeto que tirava da Petrobras a obrigatoriedade e a preferência de ficar com os 30% de cada exploração. Teve início as negociações, e a base aliada foi convencida de que, dando à Petrobras o direito de preferência, tudo estaria resolvido.
Ou seja, em cada leilão, a Petrobras terá direito de preferência sobre seus 30%. Só se abrir mão dele, o leilão será estendido às demais petroleiras.
Resolvido. A Petrobras optará apenas pelos campos que forem vantajosos e empurrará os demais para outras petroleiras - como sustentou Serra e outros senadores. Não explicaram por que petroleiras competentes aceitariam ficar com campos desinteressantes.
A questão central é que em 2018 haverá novas eleições presidenciais. E há enorme possibilidade de entrar um presidente que não tenha o pré-sal em suas prioridades.
Entrando, indicará uma nova diretoria da Petrobras. Para alijar a Petrobras do pré-sal, bastará a nova diretoria não exercer nenhum de seus direitos de preferência. Tudo de acordo com o projeto de lei aprovado ontem no Senado.

Um contragolpe necessário - Pedro Maciel para Brasil 247

Um contragolpe necessário

A decisão de apear a Presidente da República, "custe o que custar" e colocar na cadeira o príncipe das minas gerais e o motorista do marighella; prender o presidente Lula e cassar o registro do PT, deixando a esquerda sem liderança e sem um grande partido, está em curso e com êxito.
Seja pela via do impeachment, seja pelo TSE o golpe será dado se não houver um contragolpe a altura do crime que se comete contra a república, contra a democracia e contra a biografia daqueles que deveriam ser tratados como o que são: heróis da pátria.
E esse golpe se desenvolve gracioso, com aparência de legalidade, no campo isento e confiável do Poder Judiciário, com cobertura preferencial da imprensa, os quais, ladinamente, reduzem os doze (12) anos de sucesso e realizações dos governos de centro-esquerda àquilo que ocorre nos escaninhos de um processo da capital do Paraná, tudo sob incompreensível e inaceitável silêncio do Ministro da Justiça, do STF e da própria Presidente da República, a quem aqui no 247 pedi o resgate da coragem da jovem Dilma, em vão.
Bem, em 2008 escrevi "As relações entre o sistema judicial e o sistema político atravessam um momento de tensão sem precedentes cuja natureza se pode resumir numa frase: a Judicialização da política conduz à politização da Justiça, essa é a opinião do Sociólogo português Boaventura Santos. Há Judicialização da política sempre que os tribunais, no desempenho normal das suas funções, afetam de modo significativo as condições da ação política, ou de questões que originariamente deveriam ser resolvidas na arena política e não nos tribunais" (leia aqui).
Há a chamada "Judicialização de baixa intensidade", quando membros isolados da classe política são investigados e eventualmente julgados por atividades criminosas que podem ter ou não a ver com o poder ou a função que a sua posição social destacada lhes confere.
E há uma segunda espécie de "Judicialização", essa de alta intensidade, quando parte da classe política, não se conformando ou não podendo resolver a luta pelo poder pelos mecanismos habituais do sistema político democrático, transfere para os tribunais os seus conflitos internos através de denúncias ao Ministério Público que acaba ajuizando ações diversas contra os adversários dos denunciantes. Esse movimento no Brasil acabou politizando o Poder Judiciário e criminalizando a politica e os políticos.
E há ainda a participação da mídia no processo.
A função da mídia é a espetacularização de fatos e atos. E o objetivo dessa tática é que, através da exposição do procedimento judicial - através dos órgãos de imprensa - desgastar seus adversários, qualquer que seja o desenlace, sejam enfraquecidos ou mesmo o liquidados politicamente, o que é questionável sob o ponto de vista ético e democrático. Quando isso acontece há verdadeira renuncia da classe política, ou parte dela, ao debate democrático. A transformação da luta política em luta judicial e midiática tende a provocar convulsões sérias no sistema político.
Estamos vivendo uma convulsão institucional, pois a Judicialização da política nos trouxe à politização da Justiça e esta consiste num tipo de questionamento da própria "justiça" que põe em causa, não só a sua funcionalidade, como também a sua credibilidade, ao atribuir-lhe desígnios que violam as regras da separação dos poderes dos órgãos de soberania.
Mas o que de pior acontece hoje é a politização do Poder Judiciário e a criminalização da Política. Isso mesmo. Parte do Judiciário passa a agir ideologicamente e Política passa a ser sinônimo de escândalo, de crimes, de malfeitos.
O golpe está em curso e segue o seguinte caminho: Judicialização da Politica >> Politização do Judiciário >> espetacularização dos fatos judicialiados >> criminalização da Politica >> descrédito na sociedade na politica >> golpe de Estado pelo Judiciário.
A luta pela verdade através do Judiciário a esquerda já perdeu, pois o Poder Judiciário é majoritariamente conservador, aristocrático e alinhado ideologicamente com a oposição.
A luta contra o golpe tem de ocorrer através do debate Politico, na sociedade (evidentemente que aqueles que são acusados de crimes têm de defender-se através de seus advogados), a luta pela defesa dos valores republicanos, tão caros aos governos capitaneados pelo PT, não será vitoriosa nos tribunais, ela deve ocorrer nas tribunas do Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas, nas Câmaras de Vereadores, nos sindicatos, associações, no seio da sociedade.
Esconder-se atrás de advogados renomados e teses sofisticadas é para os culpados, pois aqueles que tem na consciência e na alma a certeza do bem que foi feito devem voltar ao campo do jogo democrático que levou a esquerda a quatro incontestáveis vitórias neste século: A POLITICA.
Apenas através dela será possível um contragolpe ao nojento golpe em curso.