terça-feira, 27 de maio de 2014

Os partidos radicais avançam com força no Parlamento Europeu

Segunda, 26 de maio de 2014


Os partidos radicais avançam

com força no Parlamento

Europeu



A Europa que emerge da crise que marcará o início deste século tirou neste domingo um velho diabo

do armário com a ascensão imparável dos radicais em vários países, mas por fim deu a vitória, por


uma margem muito apertada, ao democrata-cristão luxemburguês Jean-Claude Juncker, e sobretudo

concedeu uma ampla maioria às forças pró-europeias. Ganharam Juncker e sua mensagem de




austeridade e reformas, a qual agora promete agregar um toque social. Após ter dominado com clareza


as instituições na última década e meia, a Grande Recessão teve seu preço no Partido Popular

Europeu, que perdeu dezenas de assentos, mas situa de novo os conservadores como primeira força do




Parlamento europeu apesar dos efeitos devastadores da crise, que até agora havia varrido todo tipo de


Governos, quase sem exceção. A Eurocâmara não passou por essa centrífuga política, ainda que sim




por outras perigosíssimas: com a Frente Nacional francesa como mascarão de proa, e com uma presença

ampla de Norte a Sul (em Dinamarca e Finlândia, mas também em Grécia e Itália), e de Leste a Oeste

(Hungria, Alemanha, Reino Unido), os populismos confirmaram nas urnas a fulgurante subida apontada

nas pesquisas, e complicaram a governabilidade do projeto europeu.

A abstenção, o outro grande perigo, foi menos feroz do que se esperava: de novo alta, ainda que menos

do que apontavam todos os prognósticos. Ao final a participação foi de 43,1%, uma alta pela primeira vez

desde 1979.

Nem o fulgurante impulso dos populismos nem a abstenção embaçam o triunfo pela diferença mínima de


Juncker nem o sabor agridoce que deixa para seus adversários: as eleições são sempre uma espécie

de tribunal de última instância, e os eleitores decidiram que o social-democrata alemão Martin Schulz




ficasse a vários corpos do candidato conservador. A esquerda segue assim com sua particular travessia

no deserto.


Isso em relação à disputa Juncker-Schulz. Porque a foto panorâmica das eleições é distinta: o bloco de




esquerdas (social-democracia, esquerda radical e Verdes) conseguia à noite certa vantagem a respeito

da centro-direita (PPE e outros partidos conservadores), com os liberais na metade do caminho entre

uns e outros, e os populistas claramente em alta, especialmente na França, Itália e Reino Unido. “Esse

auge da eurofobia é desanimador; é uma depressão política amadurecendo”, afirmou a este jornal uma


alta fonte comunitária. Além do crescimento da Frente Nacional, do UKIP britânico e companhia —que




em nenhum caso põe em perigo a maioria pró-europeia—, se o restante dos números se confirmar isso

deixa as coisas muito abertas na Eurocâmara, à espera do jogo das alianças habitual em Bruxelas, com a

possibilidade de uma grande coalizão à la alemã ganhando força.

Segundo as primeiras pesquisas, além dos populares (211 assentos, o que os permite indicar Juncker

como presidente da Comissão Europeia) e dos socialistas, que sobem em relação a 2009 (193),

perderam espaço os liberais (74), os Verdes subiram ligeiramente (58 deputados) e a esquerda radical

ganhou terreno (47 eurodeputados) entre os cinco partidos mais votados. Mas as eleições europeias não

são como as demais: nas semanas posteriores à votação há sempre uma dança das cadeiras capaz de

engordar ou emagrecer os principais grupos parlamentares, o que pode modificar a fisionomia da foto

final e dar uma virada para as maiorias que apenas vislumbravam à noite.


O auge dos eurofóbicos é uma sacudida e indica que o grau de incerteza ainda é altíssimo



O veredicto —ainda provisório até a conclusão deste texto— das urnas deixa um punhado de leituraschave.


O bipartidarismo está em crise mas não se entrega: Juncker ou Schulz terão que se aliar ou




buscar parceiros para governar, mas ambos partidos serão imprescindíveis e, mesmo em queda, seguem

somando mais de 60% dos assentos. Mas cuidado. Se a política é a forma em que uma sociedade se

ocupa da incerteza, o auge dos eurofóbicos é uma sacudida em toda a regra e indica que o grau de

incerteza ainda é altíssimo. O populismo, com seus remédios simples para problemas complexos e

acariciando o gatilho de seu tenebroso arsenal anti-imigração, mostra as garras com uma pujança que

marcará algumas das agendas políticas fundamentais dos próximos anos. Os partidos eurocéticos,

eurofóbicos e demais somam pouco mais de 20% dos votos, com resultados impactantes em vários

países. As repetições da história: a história da Europa no século XX demonstra que as grandes crises e

determinadas receitas econômicas “provocam que a democracia se volte contra a democracia”, afirmou

um diplomata.


A sede em Bruxelas do Parlamento era à noite um ir e vir incansável de jornalistas, políticos e




funcionários. O PP era considerado ganhador desde as primeiras pesquisas; Schulz era visto como “forte”

e “capaz de encontrar uma maioria” de governo. Em meio a essa confusão, as análises coincidiam em


ser qualquer coisa menos complacentes. Charles Kupchan, do CER, considera o auge do populismo

como “uma severa, feia e sonora reprimenda ao projeto europeu”. E o sociólogo José María Maravall




avisou que a ascensão dos radicais deveria vacinar a Europa contra a tentação de uma grande coalizão.

“Seria uma grande declaração de debilidade, quando o projeto precisa de um governo que assuma

responsabilidades: a UE é um estranho animal político em que a responsabilidade dos líderes se esfuma

e o povo é incapaz de atribuir culpas e de castigar alguém de forma coerente. Por isso os radicais

crescem”.



quarta-feira, 21 de maio de 2014

Tafta: EUA e UE negociam em segredo um dos tratados mais importantes da história

Tafta: EUA e UE negociam em segredo um dos tratados mais importantes da história

O tratado que a União Europeia discute com os Estados Unidos desde meados de 2013 só emergiu agora na campanha eleitoral para as eleições europeias.


Eduardo Febbro
Divulgação


Paris – Sob os critérios das multinacionais, por trás das cortinas, em segredo, sem que os cidadãos conheçam seu conteúdo nem possam opinar ou decidir sobre ele: esse é o indolente marco no qual a União Europeia e os Estados Unidos estão negociando um dos tratados de livre comércio mais inéditos da história humana: o Tafta, Trans-Atlantic Free Trade Agreement. Apesar de sua importância e dos interesses colossais que estão em jogo, o tratado que a União Europeia discute com os Estados Unidos desde meados de 2013 só emergiu agora na campanha eleitoral para as eleições europeias que serão realizadas entre 22 e 25 de maio. O Tafta é, contudo, um dos mais amplos e decisivos acordos comerciais da história: diz respeito a 800 milhões de pessoas e a duas potências que, juntas, representam mais de 40% do PIB mundial e um terço das trocas comerciais do planeta.

Trata-se, em resumo, de constituir um gigantesco mercado transatlântico regido por normas comuns entre dois sócios que, ainda que pertençam à esfera ocidental, não funcionam nem com os mesmos valores, nem com a mesma jurisprudência. O Tafta – também é conhecido como TTIP, PTCI ou GMT – aponta para a criação de normas convergentes no campo social, técnico, ambiental, de segurança, para a solução de diferenças, acesso a medicamentos, justiça, comércio, legislação trabalhista, proteção de dados digitais, regulação das finanças e educação. O problema central reside em saber a partir de que parâmetro se fixarão essas regras comuns, ou seja, do europeu, muito mais protetor, ou do norte-americano.
 
O tratado de livre comércio entre Washington e Europa tem dois vícios maiores: um é o fato de ser negociado às escondidas, de costas para a opinião pública; o outro é que sua filosofia prevê que as legislações dos dois blocos respondam às normas de livre comércio estabelecidas pelas grandes empresas europeias e norte-americanas.

Seus partidários, reunidos sob as bandeiras da direita liberal, argumentam que o Tafta trará crescimento e desenvolvimento, que sem ele a Europa se tornará um anão comercial. Os defensores do Tafta sustentam que, uma vez aplicado, o acordo faria Estados Unidos e Europa ganharem 0,05 pontos de crescimento por ano. Seus adversários, principalmente os ecologistas, tudo o que está à esquerda do Partido Socialista e a extrema-direita da Frente Nacional alegam justamente o contrário. A presidenta da Frente Nacional, Marine Le Pen, qualifica o tratado como “uma máquina de guerra ultra liberal, antidemocrática, antieconômica e antissocial”. O eurodeputado ecologista Yannick Jadot vê nas negociações em curso “o fim do projeto europeu, o fim de nossa capacidade para decidir nossas opções, a impugnação de nossa soberania”.

Esta negociação transatlântica está ocorrendo na mais absoluta opacidade. O que se conhece até agora veio à luz pela internet e por acaso. Isso leva Raquel Garrido, candidata da Frente de Esquerda para as próximas eleições europeias, a dizer que “a oligarquia avança de costas para os povos”. O cientista político belga, Raul Marc Jennar, escreveu um ensaio sobre o Tafta (“Le grande marché transatlantique. La menace sur les peuples d’Europe” – O grande mercado transatlântico. A ameaça sobre os povos da Europa). Para Jennar, esse tratado tem uma meta clara: consiste em confiar às empresas privadas a possibilidade de decidir normas sociais, sanitárias, alimentares, ambientais, culturais e técnicas. Substituir o Estado é a intenção declarada das grandes multinacionais.

É lícito reconhecer que não faltam razões aos críticos o Tafta. Há pontos decididamente polêmicos. Um dos componentes mais polêmicos do acordo que veio a público até agora é o chamado ISDS (Investor-State Dispute Settlement). Este mecanismo que tende a solucionar os conflitos envolvendo empresas outorga a estas últimas o direito de atacar um Estado cuja política representa um obstáculo para seu desenvolvimento comercial. Em caso de litígio, por exemplo, um tribunal multinacional privado como o ICSID pode aceitar uma queixa de uma multinacional contra França, Alemanha ou a União Europeia. O ICSID é um organismo dependente do Banco Mundial baseado em Washington que tem em seu currículo algumas decisões polêmicas.

Dois exemplos: em 2012, o ICSID condenou o Equador a pagar cerca de 2 bilhões de dólares à empresa Occidental Petroleum porque o país parou de “colaborar” com a petroleira. Em 2010 e 20111, a multinacional Philip Morris recorreu a este mesmo sistema de arbitragem para reclamar de Uruguai e Austrália uma indenização de vários bilhões de dólares porque estes dois países haviam lançado uma campanha contra o tabaco.

Realidades e fantasmas convergem em uma grande discussão que, até o momento, se plasmou em torno de quatro ciclos protagonizados por Karel De Gucht, a comissária europeia encarregada do comércio, e Mike Forman, o representante norte-americano. O senador socialista Henri Weber situa o Tafta como uma espécie de batalha mundial pelas normas: “se os norte-americanos e os europeus se entenderem, suas normas se imporão como normas mundiais. Do contrário, será Pequim ou os países emergentes que fixarão as suas”.

Entre os segredos da negociação do tratado transatlântico há muito mais do que comércio em jogo. Está em questão o modo pelo qual os países vão se relacionar, um modelo para construir uma sociedade. Por um lado, está o modelo norte-americano, o qual o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz chama de “fundamentalismo mercantil”. Por outro, o europeu, que o filósofo e ensaísta Patrick Viveret quer resguardar porque, escreve: “a Europa deve seguir sendo o continente do bom viver”. Os lobbies financeiros trabalham arduamente para derrubar um dos já escassos territórios onde viver bem, ter muitas férias, gozar da proteção do Estado, do amparo de certos valores humanos e republicanos, trabalhar sem morrer na tentativa, é a espinha dorsal sobre a qual repousa a vida de milhões de indivíduos.
 
Tradução: Louise Antônia León

Tafta: EUA e UE negociam em segredo um dos tratados mais importantes da história

Tafta: EUA e UE negociam em segredo um dos tratados mais importantes da história

O tratado que a União Europeia discute com os Estados Unidos desde meados de 2013 só emergiu agora na campanha eleitoral para as eleições europeias.


Eduardo Febbro
Divulgação


Paris – Sob os critérios das multinacionais, por trás das cortinas, em segredo, sem que os cidadãos conheçam seu conteúdo nem possam opinar ou decidir sobre ele: esse é o indolente marco no qual a União Europeia e os Estados Unidos estão negociando um dos tratados de livre comércio mais inéditos da história humana: o Tafta, Trans-Atlantic Free Trade Agreement. Apesar de sua importância e dos interesses colossais que estão em jogo, o tratado que a União Europeia discute com os Estados Unidos desde meados de 2013 só emergiu agora na campanha eleitoral para as eleições europeias que serão realizadas entre 22 e 25 de maio. O Tafta é, contudo, um dos mais amplos e decisivos acordos comerciais da história: diz respeito a 800 milhões de pessoas e a duas potências que, juntas, representam mais de 40% do PIB mundial e um terço das trocas comerciais do planeta.

Trata-se, em resumo, de constituir um gigantesco mercado transatlântico regido por normas comuns entre dois sócios que, ainda que pertençam à esfera ocidental, não funcionam nem com os mesmos valores, nem com a mesma jurisprudência. O Tafta – também é conhecido como TTIP, PTCI ou GMT – aponta para a criação de normas convergentes no campo social, técnico, ambiental, de segurança, para a solução de diferenças, acesso a medicamentos, justiça, comércio, legislação trabalhista, proteção de dados digitais, regulação das finanças e educação. O problema central reside em saber a partir de que parâmetro se fixarão essas regras comuns, ou seja, do europeu, muito mais protetor, ou do norte-americano.
 
O tratado de livre comércio entre Washington e Europa tem dois vícios maiores: um é o fato de ser negociado às escondidas, de costas para a opinião pública; o outro é que sua filosofia prevê que as legislações dos dois blocos respondam às normas de livre comércio estabelecidas pelas grandes empresas europeias e norte-americanas.

Seus partidários, reunidos sob as bandeiras da direita liberal, argumentam que o Tafta trará crescimento e desenvolvimento, que sem ele a Europa se tornará um anão comercial. Os defensores do Tafta sustentam que, uma vez aplicado, o acordo faria Estados Unidos e Europa ganharem 0,05 pontos de crescimento por ano. Seus adversários, principalmente os ecologistas, tudo o que está à esquerda do Partido Socialista e a extrema-direita da Frente Nacional alegam justamente o contrário. A presidenta da Frente Nacional, Marine Le Pen, qualifica o tratado como “uma máquina de guerra ultra liberal, antidemocrática, antieconômica e antissocial”. O eurodeputado ecologista Yannick Jadot vê nas negociações em curso “o fim do projeto europeu, o fim de nossa capacidade para decidir nossas opções, a impugnação de nossa soberania”.

Esta negociação transatlântica está ocorrendo na mais absoluta opacidade. O que se conhece até agora veio à luz pela internet e por acaso. Isso leva Raquel Garrido, candidata da Frente de Esquerda para as próximas eleições europeias, a dizer que “a oligarquia avança de costas para os povos”. O cientista político belga, Raul Marc Jennar, escreveu um ensaio sobre o Tafta (“Le grande marché transatlantique. La menace sur les peuples d’Europe” – O grande mercado transatlântico. A ameaça sobre os povos da Europa). Para Jennar, esse tratado tem uma meta clara: consiste em confiar às empresas privadas a possibilidade de decidir normas sociais, sanitárias, alimentares, ambientais, culturais e técnicas. Substituir o Estado é a intenção declarada das grandes multinacionais.

É lícito reconhecer que não faltam razões aos críticos o Tafta. Há pontos decididamente polêmicos. Um dos componentes mais polêmicos do acordo que veio a público até agora é o chamado ISDS (Investor-State Dispute Settlement). Este mecanismo que tende a solucionar os conflitos envolvendo empresas outorga a estas últimas o direito de atacar um Estado cuja política representa um obstáculo para seu desenvolvimento comercial. Em caso de litígio, por exemplo, um tribunal multinacional privado como o ICSID pode aceitar uma queixa de uma multinacional contra França, Alemanha ou a União Europeia. O ICSID é um organismo dependente do Banco Mundial baseado em Washington que tem em seu currículo algumas decisões polêmicas.

Dois exemplos: em 2012, o ICSID condenou o Equador a pagar cerca de 2 bilhões de dólares à empresa Occidental Petroleum porque o país parou de “colaborar” com a petroleira. Em 2010 e 20111, a multinacional Philip Morris recorreu a este mesmo sistema de arbitragem para reclamar de Uruguai e Austrália uma indenização de vários bilhões de dólares porque estes dois países haviam lançado uma campanha contra o tabaco.

Realidades e fantasmas convergem em uma grande discussão que, até o momento, se plasmou em torno de quatro ciclos protagonizados por Karel De Gucht, a comissária europeia encarregada do comércio, e Mike Forman, o representante norte-americano. O senador socialista Henri Weber situa o Tafta como uma espécie de batalha mundial pelas normas: “se os norte-americanos e os europeus se entenderem, suas normas se imporão como normas mundiais. Do contrário, será Pequim ou os países emergentes que fixarão as suas”.

Entre os segredos da negociação do tratado transatlântico há muito mais do que comércio em jogo. Está em questão o modo pelo qual os países vão se relacionar, um modelo para construir uma sociedade. Por um lado, está o modelo norte-americano, o qual o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz chama de “fundamentalismo mercantil”. Por outro, o europeu, que o filósofo e ensaísta Patrick Viveret quer resguardar porque, escreve: “a Europa deve seguir sendo o continente do bom viver”. Os lobbies financeiros trabalham arduamente para derrubar um dos já escassos territórios onde viver bem, ter muitas férias, gozar da proteção do Estado, do amparo de certos valores humanos e republicanos, trabalhar sem morrer na tentativa, é a espinha dorsal sobre a qual repousa a vida de milhões de indivíduos.
 
Tradução: Louise Antônia León

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Anistia Internaccional quer mundo de olho no Brasil em protestos durante Copa

Segunda, 12 de maio de 2014


Anistia Internacional quer mundo de

olho no Brasil em protestos durante

Copa



"'Cartão Amarelo' é tanto uma campanha de esclarecimento quanto uma petição online que deve ser assinada ao redor do




mundo.

O documento final com as assinaturas será entregue na forma de um grande cartão amarelo no início de junho à


presidente Dilma Rousseff e ao presidente do Senado, Renan Calheiros, em Brasília."

A reportagem é de Jefferson Puff, publicada por BBC Brasil, 09-05-2014.

A Anistia Internacional lançou na quinta-feira uma campanha global em 20 países tendo como foco a repressão policial

e a condução jurídica dos protestos no Brasil durante a Copa do Mundo.

"Cartão Amarelo" é tanto uma campanha de esclarecimento quanto uma petição online que deve ser assinada ao redor do




mundo.

O documento final com as assinaturas será entregue na forma de um grande cartão amarelo no início de junho à presidente


Dilma Rousseff e ao presidente do Senado, Renan Calheiros, em Brasília.

Renata Nader, assessora de direitos humanos da ONG internacional, explica que há dois grandes objetivos com a




campanha.


"De um lado a postura da polícia durante as manifestações, que reagiu com uso excessivo e desnecessário da força,




inclusive com armas não letais, como balas de borracha, que deixaram sequelas permanentes em algumas pessoas, como

a perda da visão", diz.


Em nota enviada à BBC Brasil, o Ministério da Justiça ressaltou que defende o direito de manifestação e minimizou a




tramitação de projetos de lei no Congresso.


"O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tem destacado que o governo federal, em parceria com os governos




estaduais, defende o direito constitucional à livre manifestação de todos e continuará trabalhando para garantir o direito à

liberdade de expressão e de informação, sem no entanto, permitir abusos ou a prática de crimes, seja por manifestantes,

seja por autoridades policiais", diz a nota.

"Do ponto de vista legislativo, existem projetos de lei no Congresso, de autoria de parlamentares, e estão sendo discutidos

com o objetivo de aperfeiçoar a defesa desses direitos", complementa.


Esquema de segurança



Quanto ao esquema de segurança que o governo federal e os Estados que receberão jogos estão montando, que deve


consumir quase R$ 2 bilhões e levar mais de 170 mil homens às ruas, Nader também se mostra preocupada.




"Claro que vemos com muita preocupação esta estrutura de segurança que está sendo montada para os grandes eventos.

Não pela escala, porque em outros países também há grandes operações em situações como essa. Aqui o que preocupa

é o nosso histórico. O histórico de momentos do uso da Força Nacional e do Exército, em operações no Rio de Janeiro, por

exemplo, com saldo de mortes e excessos", diz.


Ela diz que a campanha mostra como o "mundo estará de olho no Brasil" durante a Copa, e como abusos, excessos e




violações de direitos humanos para reprimir protestos não serão tolerados.

"Por outro, a maneira como leis existentes foram usadas para deter manifestantes e as novas propostas que surgiram,

como a lei de terrorismo, endurecimento de penas para manifestantes, e até punição ao uso de máscaras", complementa.



terça-feira, 13 de maio de 2014

‘É FUNDAMENTAL UM PROGRAMA DE PAÍS QUE APONTE PARA ALÉM DAS ELEIÇÕES’

‘É FUNDAMENTAL UM PROGRAMA DE PAÍS QUE APONTE PARA ALÉM DAS ELEIÇÕES’

Escrito por Valéria Nader, da Redação

Terça, 06 de Maio de 2014

O Brasil se aproxima da Copa de 2014 e também das eleições presidenciais. Por esses dias, quanto

mais se chega perto desses esperados acontecimentos, mais se embaralha o cenário político.

Especialmente quando se está diante de uma imprensa, e dos grupos econômicos e políticos que a

monopolizam, que trazem uma avaliação tão parcial e distorcida da realidade.

Aos olhos dessa mídia e setores que a controlam, de um lado está a candidatura petista, irresponsável

frente aos cânones liberais do fiscalismo e monetarismo, além de populista em seu discurso própopulação

desfavorecida; de outro, textos e subtextos não escondem a quase aclamação aos candidatos

que nem mesmo se atêm a subterfúgios em sua defesa do mais retrógrado conservadorismo.

Os discursos dos candidatos mais notáveis ao cargo de presidente não agregam, por sua vez, nada de

positivo a esse cenário. Do lado do governismo, procura-se encarnar o “bem”, em contraposição ao

“mal” que adviria da eleição dos candidatos de oposição, representantes da direita tradicional. Já para

estes, circularia do outro lado do espectro político a incompetência administrativa e uma hipócrita

adesão aos pobres.

Em meio a esse faz-de-conta, alguns fatos podem ser tomados como bastante evidentes: a queda da

popularidade e apoio à candidatura petista e uma adesão geral, de todas as maiores candidaturas, sem

exceção, e a despeito da efervescência dos clamores populares, aos apelos do mercado.

É para avaliar este contexto, e aprofundar o entendimento dos acontecimentos neste momento préeleitoral,
que o Correio conversou com o historiador Mário Maestri, para quem “as administrações


petistas seguiram respeitando caninamente o grande capital e apostando na revolução do ‘mercado

social capitalista’, onde todos obteriam tudo, ou quase tudo, pagando tudo”.

O atual estado de mal humor da população, “raramente conhecido”, associa-se, para o historiador, à

disparidade entre “o país dos sonhos, formado por multidões de membros da classe média”, e as duras

condições de vida com que tem de fato se deparado a população.

Quanto à atual queda de apoio ao governo, Maestri acredita que tem resultado em mais exigências do
capital, ainda mais além do já muito que recebe, para manter seu apoio, mesmo relativo: privatização


do petróleo, dos portos, dos aeroportos, das estradas; juros altos; financiamento público do capital

privado, arrocho salarial etc. Sonha em abocanhar a Petrobrás, a Caixa Econômica Federal, o

BNDES”. Trata-se, porém, de “crise de governo, e não de dominação”, em função de uma tendência ao

continuísmo, visto que “os candidatos da direita tradicional e da dissidência governista não encantam a

uma população que sonha com mudanças substanciais”.

Abaixo, a entrevista completa, onde o historiador fala também a respeito do atual estado da classe

trabalhadora do país, das perspectivas que se abrem para novas manifestações populares durante a

Copa e também das chances de avanço das forças progressistas e de um novo projeto de país nas

próximas eleições.
Correio da Cidadania: Qual sua visão da situação social e política atual do Brasil?

Mário Maestri: Vivemos tensão social crescente, para a surpresa da senhora presidenta e do bloco


dominante no governo, que anunciam baixo desemprego [em relação às taxas tradicionais]; aumento

[tímido] do valor dos salários; subvenção [misérrima] de segmentos populares pobres e paupérrimos.

Eles literalmente dormiram entoando gentis cirandas sobre país onde todos eram “classe média” e

acordaram abraçados no tigre da crise, que morde de maneiras jamais vistas.

Consolida-se realidade até hoje literalmente desconhecida. Populares cortam as ruas e as estradas,
apenas ainda sem a organização dos piqueteros argentinos. As incessantes violências policiais;


as interrupções dos trens e metrôs; o desabastecimento de água e de luz; os alagamentos urbanos

periódicos; os desalojamentos etc. resultam em manifestações explosivas, lutas de rua, incêndio de

viaturas e ônibus, literalmente a cada dia.

Ignoradas no passado como fato viral quotidiano, essas lutas expressam o desgosto de segmentos

populares e difundiram-se em forma irregular das megalópoles, com destaque para o Rio de Janeiro

e São Paulo, para o resto país, defrontando as forças policiais. As explosões da ira popular atingem

veículos da grande mídia e estabelecimentos bancários, em sinal de politização e de absorção de atos

marginais das grandes manifestações de 2013. Atos midiatizados ao extremo pelas redes televisivas,

com o claro objetivo de deslegitimar as mobilizações populares.

Também a classe trabalhadora organizada tem dado e vencido inúmeras e importantes greves, como o

movimento dos garis do Rio de Janeiro ou as paralisações nas arenas futebolísticas. Em Porto Alegre,

motoristas e cobradores pararam totalmente o transporte público, enquanto a Justiça do Trabalho

multava duramente sindicato rejeitado pelos grevistas.

Palpita entre a população nacional um mal-humor raramente conhecido, de profundidade difícil de

aquilatar.
Correio da Cidadania: A que devemos essa situação inusitada?

Mário Maestri: Na última década, o país conheceu modificações profundas. A população assalariada


estendeu-se e fortaleceu-se e recuaram as formas de produção e existência pré-capitalistas e prémercantis.

Nesse novo mundo onde tudo se paga, os aumentos salariais médios ultrapassaram de

pouco os ganhos anuais da produtividade, quando ultrapassaram, ganhos facilmente perdidos por

qualquer surto inflacionário, mesmo setorial.

No contexto de universalização de meios de antecipação da renda para facilitar o consumo

[cartões de crédito; empréstimos populares; crédito consignado], o mercado engoliu guloso, direta

ou indiretamente, mais e mais, serviços imprescindíveis, antes fornecidos em forma gratuita ou

subvencionada pelo Estado – luz, telefonia, transportes, segurança etc.

As administrações petistas seguiram respeitando caninamente o grande capital e apostando na

revolução do “mercado social capitalista”, onde todos obteriam tudo, ou quase tudo, pagando

tudo. Anunciaram o advento de país dos sonhos, formado por multidões de membros de classe média

que andariam de avião e teriam planos de saúde, enquanto enorme parcela da população suava para

pagar o ônibus; morria na fila do SUS; via esvair-se seus magros salários e aposentadorias antes que o

mês acabasse!

Simplesmente, deu no que tinha que dar. Degradação geral das condições de vida da população quanto

à saúde, ao transporte, à educação, à segurança, ao lazer, aos serviços, à mobilidade, à moradia Tudo

exacerbado pelo gigantismo urbano, fenômeno já nacional.
Correio da Cidadania: Essa nova realidade tem produzido consciência e organização popular?

Mário Maestri: A população trabalhadora vive sob enorme stress, sem conseguir consolidar avanços


gerais de organização e consciência. Para isso contribuiu a desmoralização dos sindicatos e partidos
populares, engolidos pelas benesses da colaboração com o Estado e o capital. Desmoralização para


a qual a grande mídia, a enorme e geral corrupção política e a privatização do Estado contribuem

incessantemente.

A população trabalhadora vive situação contraditória, entre a resistência, a submissão, a integração.

Por um lado, expressa a raiva em múltiplas e novas formas de resistência e dissidência. Por outro,

procura lenitivo para a dor social nas igrejas evangélicas e, robotizada nos comportamentos, sacrificase
no altar do consumo compulsivo e forçado. Organiza Rolezinhos e bailes funks, aos milhares.


Mergulha com gosto na alienação que não raro se esforça para superar.
Correio da Cidadania: Você enxerga chances de virada nesse cenário, como, por exemplo, a

mobilização popular transformar a crise econômico-social em crise política?

Mário Maestri: Já vivemos crise no bloco político burguês comandado pelo PT. A queda de apoio


ao governo permite que o capital exija ainda mais além do já muito que recebe, para manter seu

apoio, mesmo relativo: privatização do petróleo, dos portos, dos aeroportos, das estradas; juros altos;

financiamento público do capital privado, arrocho salarial etc. Sonha em abocanhar a Petrobrás, a

Caixa Econômica Federal, o BNDES.

Porém, trata-se de crise de governo, e não de dominação. Não há ameaça à gestão do Estado e às

instituições. Mais ainda, favorece no geral a tendência ao continuísmo o fato de que o candidatos

da direita tradicional e da dissidência governista não encantam a uma população que sonha com

mudanças substanciais e rejeita o mesmo prato com nomes diversos. Entretanto, é verdade o crescente

e acelerado desencanto da população com o governo dilmista

O coelhão que tentaram tirar da cartola mostrou-se menos confiável que Jânio Quadros e Collor

de Mello. Salvo a aceleração da queda do consenso em torno da presidenta, já bastante forte, a
principal tendência é o repeteco, em outubro, possivelmente em segundo turno, com próximo governo


comandado pela senhora Dilma Rousseff ainda mais subserviente ao grande capital e, paradoxalmente,

cada vez menos petista.
Correio da Cidadania: A movimentação social que se abriu no país desde as grandes

manifestações de 2013 pode vir a efervescer novamente este ano, por ocasião da Copa, antes,

portanto, das eleições?

Mário Maestri: O Mundial pode servir de gota d’água desbordando a crise. Acidentes


produzidos pela imprevidência pública e voracidade privada, como enchentes, epidemias, apagão,
desabastecimento de água, ações do crime organizado, etc., podem potenciar o stress popular. Ainda


mais que é geral a consciência da monumental corrupção e queima de recursos que a Copa constitui,

no contexto das abismais carências populares.

Diversas categorias profissionais, entre elas as polícias militares, pretendem servir-se da proximidade

da Copa para obterem conquistas que perseguem com dificuldade, ao igual do que feito na África do
Sul. O mesmo pode ser feito pelo crime organizado, para avançar pauta de reivindicações. E não é


de se descartar totalmente que facções da direita tradicional apostem na desconstrução da copa ou em

desestabilização controlada para golpear o governo Dilma Rousseff, Lula da Silva e o petismo.

Nos últimos tempos, a questão social tem voltado a ser tratada mais e mais como questão de

polícia. Com a proximidade da Copa, em dimensão que já lembra os tempos da ditadura militar,

o governo federal conta com que a euforia da competição galvanize a população e prepara-se para

sufocar manifestações residuais com enorme e faraônico aparato judicial, policial e militar. Se as

mobilizações engrossarem, mesmo medianamente, o reflexo repressivo pode ter consequências difíceis

de aquilatar, não apenas para as eleições.
Correio da Cidadania: Um tal cenário abriria perspectivas maiores para o avanço das

forças progressistas?

Mário Maestri: Não creio. As classes dominantes no Brasil são singularmente fortes, coesas e


mantêm pleno domínio da Justiça, do parlamento, do exército, das forças policiais, dos sindicatos

etc. Contam igualmente com o controle total dos meios de comunicação e com vasta hegemonia

político-ideológica. O mundo do trabalho no Brasil é singularmente frágil e não possui organizações

classistas.
O movimento Occupy ou dos indignados galvanizou a Espanha e os Estados Unidos, sobretudo, e

terminou evacuado sem glória pelo ralo dos movimentos sem direção e programa. O movimentismo


tem fôlego curtíssimo. Se as classes trabalhadoras e populares não criam direções sociais e políticas,

as classes exploradoras absorvem as explosões sociais frustrando avanços políticos, organizativos e

programáticos. O Egito é exemplo paradigmático desta realidade.

Se as classes trabalhadoras e populares não conseguirem criar direções consequentes para sua defesa

e para a luta pela superação do atual período, a sociedade seguirá afundando na barbarização social em

que o Brasil e o mundo engolfaram-se nas últimas décadas. Barbarização que começa a se precipitar

singularmente no Brasil.
Correio da Cidadania: O que é ou quais são os representantes da esquerda hoje no país, e como

poderiam enfrentar as eleições que se avizinham?

Mário Maestri: Como no resto do mundo, também no Brasil é dramática a necessidade de partido


e programa de classe para organizar os segmentos trabalhadores e populares. Porém, por razões

nacionais e internacionais, não contamos com um núcleo político-organizacional, pequeno que seja,

apontando nessa direção. E sua construção mostra-se extremamente complexa.

Vivemos sob a influência da contrarrevolução mundial iniciada nos anos 1990. No mundo dito

socialista, ela impôs a restauração do capital; no mundo capitalista, a regressão de conquistas históricas

e dissolução e decomposição de partidos, de organizações, de sindicatos etc. do mundo do trabalho.

A derrota histórica dos trabalhadores motivou grave regressão subjetiva, que tem como maior

expressão a perda de confiança do mundo do trabalho em seu programa como solução da crise

que vive. O mundo do trabalho não acredita na superação socialista da ordem capitalista. Essa

regressão histórica objetiva e subjetiva determina profundamente as organizações que se propõem

revolucionárias.
Correio da Cidadania: Como vê, nesse contexto, a perspectiva de ação política de partidos como

PSOL, PCB e PSTU?

Mário Maestri: A crise da esquerda marxista no Brasil exige uma análise detalhada e cuidadosa. Em


forma muito aproximativa e pontual, podemos dizer que, em formas diversas, todas essas organizações

foram profundamente tocadas pela regressão do mundo do trabalho ou nasceram nesse contexto

terrivelmente difícil.

O PSOL encontra-se no último caso. Após o impulso da luta contra a destruição petista da previdência

pública, rejeitou a proposta de direção do partido pelos núcleos e, portanto, de construção junto às

lutas sociais, e centrou-se na participação nas instituições burguesas e na conquista de senadores, de

deputados, de vereadores etc. São esses últimos que dominam hoje o partido. O projeto do PSOL

é a reforma, e não a superação do Estado burguês, com o qual mantém ligação umbilical. Mantém

diferenças de quantidade com o PT, mas não de qualidade. Sua atual chapa à presidência sintetiza essa

realidade.

O PSTU-LIT é organização brasileira de raízes argentino-morenistas, fundado há quatro

décadas. Construiu-se através do sindicalismo superestrutural e oficial brasileiro, incrustado no Estado

burguês. A legalização de sua central radicalizará essa dependência umbilical. Sua inserção sindical

superestrutural expressa-se na incapacidade de conquistar consenso eleitoral.

Sem raízes sólidas entre os trabalhadores, o PSTU-LIT vergou-se às terríveis pressões democráticoburguesas,

abandonando o programa do mundo do trabalho: combate a unidade sindical; abraça as

reivindicações setoriais [cotas raciais]; colabora subjetivamente com o imperialismo nos seus ataques

a Cuba, à Bolívia, ao Equador, à Venezuela. Radicalizando esse viés contrarrevolucionário, sustentou

politicamente a campanha imperialista na Líbia e, agora, propõe frente única com o imperialismo, do

qual exige mais armas para a contrarrevolução na Síria! [http://www.pstu.org.br/node/20077]

O PCB propôs progressista política de reconstrução partidária, que se propunha a necessária

reagrupação da esquerda classista no Brasil. No entanto, não consegue romper as amarras com o

passado. Propõe superação do popular-nacionalismo, mas o abraça ao reivindicar o espólio do antigo
partidão. Em recente declaração sobre 1964, rejeitou com uma mão o colaboracionismo pecebista,

fortemente responsável por aquela derrota; e, com a outra, resgatou a política corrigida do PCB após


o golpe. Política que entregou a luta anti-ditatorial à direção da “burguesia democrática” representada

pelo MDB. [“O PCB e o Golpe de 1964 – 1º de abril de 2014].

Uma operação de resgate do espólio envenenado do PCB que lança pela janela o que houve de melhor

naquele partido no pré-1964, expulso pelos prestistas sem direito à discussão, após o golpe, ou seja,

militantes como Apolônio de Carvalho, Carlos Marighela, Joaquim Câmara Ferreira, Mário Alves,

Jacob Gorender e centenas de outros, que ousaram defrontar a burguesia, mesmo com propostas

incorretas. Vacilação político-ideológica que levou ao apoio à candidatura burguesa de Dilma Rousseff

no segundo turno, em 2010. Apoio, salvo engano, que espera ainda ser autocriticado. ["Derrotar Serra

nas urnas e depois Dilma nas ruas. PCB – 13 de outubro de 2010.”]
Correio da Cidadania: Mas não seria um avanço uma frente de esquerda, em outubro deste

ano?

Mário Maestri: Seria, sim, fundamental uma candidatura presidencial suprapartidária, apoiada no


PCB, PSOL e PSTU-LIT e extensiva a todos os grupos e organizações que quisessem participar e

aceitassem programa classista e anticapitalista. Frente eleitoral que organizasse núcleos populares

suprapartidários de base apontando para além das eleições. A simples aliança das legendas, para

conseguirem mais alguns deputados, seguida, após o pleito, de “bom dia, até mais ver”, será sentida

pela população como outra sopa de letrinhas.

Em um sentido mais geral, creio que um movimento de reagrupação, centralização e rearmamento

político e ideológico da vanguarda trabalhadora e do povo de esquerda será possível, na medida do que

necessitamos, a partir de uma vitória substantiva setorial dos trabalhadores, no mundo ou no Brasil. O

que não nos desobriga de trabalhar duro – e acender uma velinha, por que não! – para facilitar que isso

ocorra.

Contribui indiscutivelmente para que esse projeto avance e frutifique a conformação de uma jovem,

combativa e relativamente numerosa vanguarda, surgida nas lutas que se têm acelerado nos últimos

tempos. Ela se encontra nos grupos e partidos de esquerda e, em boa parte, fora deles.
Valéria Nader, jornalista e economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é

jornalista.


terça-feira, 6 de maio de 2014

O boato, a grande mídia e o linchamento


O boato, a grande mídia e o linchamento

Márcia D`Angelo                São Paulo, 06/05/2014

Mas o mercado não é dinamizado por boatos?

Será que internet pode ser considerada grande mídia? Ou o facebook é uma decorrência dos grandes jornais, revistas, rádios, tvs comerciais, enfim, resultado das notícias produzidas, forjadas, construídas por pessoas físicas ligadas ou linkadas a grandes interesses econômicos e financeiros? Ou será que a configuração de crimes é manipulada e confeccionada pelo grande enfoque que os grandes meios de comunicação comerciais dispensam às “notícias populares” no sentido de repetir dia e noite a criminalidade a ponto de banalizá-la? A violência é causa ou consequência do boato? O caso da Escola Base (Escola de Educação Infantil acusada de abusar de menores) há 4 anos atrás (1994) não foi suficiente para conscientizar os perigos de se condenar inocentes através da ausência de provas?

A calúnia que provocou a destruição de uma instituição honesta, de pessoas inocentes, incriminadas por boatos que insuflaram a população contra elas teve a veemente participação de um delegado e da grande mídia. A calúnia está banalizada além de ficar impune? Será que a cidade do Guarujá entrou para a modernidade através de crime tão hediondo? Onde está o clamor da classe média pela segurança???????????????????????????????????????????????????????????????????

Ou será que a moça linchada ontem, a Fabiane, tinha perfil de sequestradora na linha de Lambroso já que era membro das “classes populares”, que labutava em sua comunidade? A polícia do Rio de Janeiro realmente excluiu da internet o retrato falado de uma suposta sequestradora de crianças há 2 anos no Rio de Janeiro?

Por que a população agora facilmente se organiza para linchar seres humanos? Será que a violência tão vilipendiada pela classe média não está nas frestas, nas lacunas de seu combate, ou seja, na corriqueira repressão policial a qualquer suspeito, (especialmente se for negro e pobre), no marketing da vida bem sucedida a partir de todos os bens materiais supérfluos, na gana ou ansiedade mórbida de encontrar culpados para serem sacrificados pela falta de controle da reação popular?

Qual o símbolo que a Fabiane deixou para nós? Ela foi imolada porque supostamente era parecida com um retrato falado? O dono do blog do jornal do Guarujá necessitava de um mártir ou uma mártir para expor ao mundo as contradições de uma cidade de pobres que abriga segundas residências das elites ou da classe média paulista?

Mata-se por prazer? Mata-se porque não se consegue chegar à essência existencial? Mata-se por ódio àqueles que supostamente podem representar perigo? Mata-se para perenizar o poder das elites? Mata-se para mudar a sociedade no sentido de configurá-la mais cruel, mais desigual, mais fascista ou protofascista, discriminatória, mais meritocrática? Mata-se para criar o que? O ovo da serpente?

Hoje, ontem, amanhã são dias de luto nas belas praias do Guarujá possivelmente frequentadas pelo menos aos domingos pela jovem dona de casa e mãe de dois filhos Fabiane.  Ela foi linchada, imolada, pelos justiceiros representantes em última instância do grande capital (talvez até do médio), da grande mídia, da polícia civil e militar, do Poder Judiciário, das elites e das classes médias tão clamorosas e ciosas de segurança.

FALTA DE  UTOPIA...FALTA DE UTOPIA...FALTA DE UTOPIA...FALTA DE UTOPIA...FALTA DE UTOPIA...FALTA DE UTOPIA...FALTA DE UTOPIA...FALTA DE UTOPIA...FALTA DE UTOPIA...FALTA DE UTOPIA...FALTA DE UTOPIA...FALTA DE UTOPIA...FALTA DE UTOPIA...