sábado, 29 de junho de 2013

Solução é voltar às bases (Patrícia Benvenuti)

Solução é voltar às bases

Protestos mostram distanciamento entre partidos políticos e população

28/06/2013

Patrícia Benvenuti,
da Redação

Entender o turbilhão de manifestações que tomaram conta do país nas últimas semanas não será uma tarefa fácil. Para os partidos de esquerda, o desafio deverá passar pela elucidação das novas formas de organização, que têm na internet seu principal catalisador.
Para o professor de Literatura Latino-americana da Universidade de Tulane (EUA) Idelber Avelar, os recentes acontecimentos mostraram que há um descompasso entre a realidade das ruas e a burocracias partidárias. Segundo ele, os partidos falharam em perceber a força do movimento que surgia junto com as mobilizações do Movimento Passe Livre (MPL). “As burocracias partidárias, principalmente a do PT, erraram no cálculo, e aí depois começaram a bater cabeça e tentar correr atrás do prejuízo”, afirma.
No caso específico do Partido dos Trabalhadores, o professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) Laurindo Leal Filho analisa que um dos principais erros é a falta de diálogo com a sociedade. De acordo com ele, a solução para esse problema passa pelo retorno dos partidos a suas bases. “É fundamental que os partidos políticos de esquerda voltem para suas bases, abram canais de participação e estimulem o debate político. E que também pressionem o governo a abrir esse debate com a sociedade”, propõe.
O membro do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) Valter Pomar compartilha das críticas. Para ele, o distanciamento das organizações com o cotidiano da população potencializa um sentimento antipartidário, que se tornou comum durante os protestos das últimas semanas. Mais do que combatida, essa rejeição precisa ser analisada em seus significados. “No caso do PT, é um alerta: ou mudamos de política e de conduta ou parcelas crescentes da população vão nos jogar na vala comum”, garante.
Não basta, porém, levar aos jovens à estrutura burocrática dos partidos, como adverte o professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) e pesquisador de redes digitais Sérgio Amadeu. “É um movimento de microlideranças, de solidariedade de vários grupos. Não adianta ter apelo de autoridade”, avisa o especialista, que vai além: “O que precisa é ter disposição de diálogo, conversar em rede, inclusive sinalizar com propostas que possam atender aos interesses desses jovens”.
Preocupado com o avanço dos setores de direita nas manifestações, o jornalista e presidente do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges, acredita que os partidos podem, agora, ajudar a combater a ameaça conservadora. Segundo ele, o momento é oportuno para que as siglas de esquerda e o governo se unam em prol de reformas estruturais. “As manifestações mostraram um descontentamento da sociedade brasileira? Sim, então vamos mais à esquerda, vamos promover mais mudanças no Brasil”, recomenda.
Foto: Marcelo Camargo/ABr

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