David Harvey quer, além dos
protestos, um projeto
Por
David Harvey
– on 03/06/2014Categorias: Crise Financeira, Destaques, Mundo
Ao apresentar seu livro mais recente, geógrafo alerta: mera denúncia do capitalismo é ineficaz – e pode
favorecer saídas de ultra-direita
Entrevista a Jonathan Derbyshire, da Prospect Magazine | Tradução: Vila Vudu
A onda de protestos de rua que se espalha pelo mundo desde janeiro de 2011 tem produzido, em seu
rastro, um debate revelador. No Brasil, por exemplo, o primeiro aniversário das “jornadas de junho”
será lembrado pelo lançamento de livros e filmes. O mais estrepitoso deles é o de um documentário
produzido pela “Folha de S.Paulo” – o mesmo jornal que recomendou à prefeitura da cidade e à Políica
Militar, em 13 de junho de 2013, vetar1 manifestações na avenida Paulista, para o bom fluxo do tráfego
de automóveis… Se a mesma Folha tenta agora celebrar o movimento é porque procura “capturá-lo”,
conduzindo-o para pautas opostas à reivindicação de direitos sociais e igualdade – que tanto incomodava
seus editorialistas há um ano.
Mas há espaço para esta captura? O geógrafo e antropólogo David Harvey pensa que sim – e está
empenhado em articular uma contra-ofensiva. Lançada no início de abril, em inglês, sua obra mais
recente – “17 Contradições e o fim do Capital” – parece dedicada a isso. Harvey falou sobre o livro em
enteveista ao jornalista inglês Jonathan Derbyshiere. Vale a pena seguir o raciocínio deste marxista
heterodoxo, formulador histórico de reivindicações, propostas e conceitos relacionados ao Direito à
Cidade.
Um dos traços surpreendentes do cenário internacional, começa Harvey, é a “miséria de pensamento
novo e novas políticas”. Confrontadas pela crise econômica – que já entrou no sexto ano e para a qual
não há saída à vista –, as classes dominantes não parecem preocupadas em buscar opções. Seu
discurso de aparente preocupação em face da desigualdade não se materializa em ações concretas:
parece mera peça de retórica. Por que tal paralisia?
É evidente, diz o geógrafo, que as elites globais sentem-se seguras de seu poder. Percebem que faltam
alternativas. Há, é certo, muitos protestos. Mas não parecem a ponto de passar de uma fase primitiva
– a da crítica ao sistema – e evoluir para o que pode de fato ameaçá-lo: a proposição de projetos póscapitalistas.
Harvey teme, aliás, que os protestos sejam capturados por forças retrógradas e mesmo fascistas, caso
não evoluam. Somadas, crise e a falta de perspectivas geram, frisa ele, um ambiente de desesperança
mórbida. Nos EUA, por exemplo, “70% da população ou odeia trabalhar, ou é totalmente indiferente ao
trabalho que faz”. As respostas são múltiplas. Certos grupos buscam um futuro “distante da cultura da
mercadoria”. Mas outros, ao contrário, refugiam-se no consumismo ou na negação completa da política.
Estes podem ser mobilizados para sentimentos e saídas retrógradas – como buscar de uma autoridade
salvadora, ou atirar sobre o estrangeiro (o “outro”) o peso de suas frustrações.
A nova obra de Harvey é, tudo indica, a maneira concreta que o autor encontrou de encarar este risco
sem resvalar para o pessimismo. “Há muita ebulição nos campos da dissidência cultural; há algo em
movimento e é fonte de alguma esperança”, diz ele em certo ponto da entrevista a Derbyshire. Mas esta
esperança não se realizará por si mesma. Para tanto, é preciso “resistir contra um retrocesso de direita,
atrair parte significativa do descontentamento que está nas ruas e empurrá-lo numa direção progressista,
não em direção neofascista”. Por isso mesmo, o livro propõe, em sua parte final, dezessete ideias para a
prática política – mais especificamente, para “o novo modo de fazer política”, que, segundo Harvey, está
emergindo diante de nossos olhos.
No diálogo com Derbyshire, Harvey aborda ainda a polêmica em torno da institucionalização dos novos
movimentos (ele defende a construção de híbridos de movimentos e partidos, como o Syriza grego); a
presença de um setor anti-Estado nas manifestações; a relação entre determinismo e marxismo (Marx, diz
Harvey, nunca afirmou que o capitalismo desabaria sobre si próprio inevitavelmente); o pepel do Occupy
(e de Thomas Piketty) na denúncia da desigualdade; o divórcio cada vez mais profundo entre capitalismo
e democracia. Eis, a seguir, a entrevista (A.M.)
–
No início do livro, o senhor observa, como outros também observaram, que há algo de diferente
na mais recente crise do capitalismo, a crise financeira global de 2008. “Seria de esperar que
todos” – o senhor escreveu lá – “tivessem diagnósticos concorrentes a oferecer sobre o que está
errado, e que houvesse uma proliferação de propostas de o que fazer para corrigir tudo. O que
mais surpreende hoje é a miséria de pensamento novo e de novas políticas.” Por que não há nem
diagnósticos nem propostas nem ideias novas?
Uma hipótese é que a concentração de poder de classe que se vê hoje é de tal modo gigantesca, que
não há por que a classe capitalista precise ou queira ver qualquer tipo de pensamento novo. A situação,
por mais que seja disruptiva para a economia, não é necessariamente disruptiva para a capacidade de os
ricos acumularem mais riqueza e mais poder. Assim sendo, há claro interesse em manter as coisas como
estão. O que é curioso é que havia também, é claro, muito interesse em manter as coisas como estavam
nos anos 1930s, mas ele foi atropelado por Roosevelt, pelo pensamento keynesiano etc.
Isso posto, o senhor aceita, no livro, que há elementos na classe capitalista, na classe intelectual,
que reconhecem a ameaça – isso que o senhor chama de “contradições” do capitalismo. Exemplo
notável é a discussão da desigualdade.
Credito ao movimento Occupy ter lançado e posto em circulação essa nova narrativa. O fato de que
temos em Nova York um prefeito completamente diferente do que havia antes e que disse que vai
fazer tudo que puder para reduzir a desigualdade, a própria possibilidade dessa discussão é coisa que
brotou diretamente do movimento Occupy. É interessante que todos sabem do que você está falando,
sempre que se fala do “1%”. A questão do 1% foi afinal posta na agenda e se tornou objeto de estudos
em profundidade, como, por exemplo, o livro de Thomas Piketty, O Capital no século 21. Joseph Sitglitz
também tem um livro sobre desigualdade e vários outros economistas estão falando do assunto. Até o
FMI já está dizendo que há um perigo específico que surge quando a desigualdade alcança determinado
nível.
Até Obama já anda dizendo isso!
Mas Obama nada diria sobre isso se o movimento Occupy não tivesse aberto a trilha. E quem está
oferecendo alguma resposta ao problema? De que modo alguma coisa está sendo realmente mudada?
Se se consideram as políticas reais, vê-se que as desigualdades continuam a se aprofundar. Há
reconhecimento apenas retórico do problema, mas não há reconhecimento político, em termos de
políticas ativas e redistribuição ativa.
O senhor falou de Occupy. No livro, o senhor critica muito duramente os setores dos novos
movimentos que vê como, predominantemente, ultra-liberais e anti-Estado.
Tenho uma regra que por definição nunca falha: o modo de produção dominante, seja qual for, e sua
articulação política, criam a forma de oposição contra eles. Assim, as grandes fábricas e grandes
corporações – General Motors, Ford etc., – criaram uma oposição baseada no movimento trabalhista
e nos partidos da social-democracia. O rompimento dessa ordem – e vivemos hoje precisamente o
momento desta – criou um tipo de oposição dispersa que precisa usar algumas linguagens específicas
para suas reivindicações.
Parte da esquerda não dá sinais de perceber que muito do que diz é consistente com a ética neoliberal,
ao invés de lhe fazer oposição… Parte do anti-estatismo que se encontra hoje na esquerda casa-se
perfeitamente com o anti-estatismo do capital empresarial corporativista.
Preocupa-me muito que não se ouça pensamento da esquerda que diga “Vamos nos afastar dessas
narrativas e observar o quadro completo.” Espero que meu livro contribua para que tenhamos isso.
O livro conclui num lugar interessante – com algo como um programa, 17 “ideias para a prática
política”. Mas não aparece a pergunta (embora possa estar implícita no que o senhor acabou de
dizer), sobre qual é a organização apropriada para realizar aquele programa. Não se sabe onde
encontrá-lo. Não é óbvio que o encontraremos.
Uma das coisas que temos de aceitar é que está emergindo um novo modo de fazer política. No
presente, ainda é muito espontaneísta, efêmero, voluntarista, com alguma relutância a deixar-se
institucionalizar. Como poderá ser institucionalizado é, creio eu, questão aberta. E não tenho resposta
para isso. Mas é claro que, de algum modo, terá de institucionalizar-se ou ser institucionalizado. Há novos
partidos começando a emergir – o Syriza na Grécia, por exemplo. O que me preocupa é o que comento
no livro como um estado de alienação em massa, que está sendo capitalizado amplamente pela direita.
Há sim, portanto, alguma urgência em tratar da questão de como nós nos institucionalizaremos como
força política, para resistir contra um retrocesso de direita e atrair parte significativa do descontentamento
que está nas ruas e empurrá-lo numa direção progressista, não em direção neofascista.
O senhor descreve seu livro como uma tentativa para expor as contradições, não do “capitalismo”,
mas do “capital”. O senhor pode explicar essa diferença?
Essa diferença vem de minha leitura de Marx. Pensa-se quase sempre que Marx teria criado alguma
espécie de compreensão totalizante do capitalismo, mas ele não fez nada disso. Marx não arredou pé
da economia política e manteve seus argumentos sempre na linha de como opera o motor econômico
de uma economia capitalista. Se você isola o motor econômico, você consegue ver quais serão os
problemas daquela economia.
Não implica dizer que não haverá outros tipos de problemas numa sociedade capitalista – é claro que
há racismo, discriminação por gênero, problemas geopolíticos. Mas a questão que me preocupava ao
escrever esse livro era outra, mais limitada: como funciona o motor da acumulação de capital?
Já estava bem claro desde o estouro da crise, em 2007/8 que havia alguma coisa errada com o próprio
motor. E dissecar o que esteja errado com o motor já será um passo na direção de política mais ampla.
Esse motor econômico é muito complicado. E Marx criou um meio para compreender o motor econômico,
servindo-se de ideias como “contradição” e “formação-de-crises”.
Mais uma questão de definição: o que é capital?
Capital é o processo pelo qual o dinheiro é posto em ação para que se obtenha mais dinheiro. Mas é
preciso muito cuidado, se só se fala de dinheiro, porque em Marx há uma relação muito complexa, como
aponto no livro, entre “valor” e “dinheiro”. O processo é de busca de valor para criar e apropriar-se de
mais valor. Mas esse processo assume diferentes formas – a forma dinheiro, de bens e mercadorias,
processos de produção, terra… Ele tem manifestações físicas mas, no fundamento, não é coisa: é um
processo.
Voltemos à noção de “contradição”, que é a categoria analítica central no livro. O senhor fez uma
distinção entre os choques externos pelos quais pode passar uma economia capitalista (guerras,
por exemplo) e contradições, no seu sentido da palavra. Assim, por definição, contradições são
internas ao sistema capitalista?
Sim. Se você quiser redesenhar o modo de produção, é preciso, então, responder as questões postas
pelas contradições internas.
O senhor identifica três classes de contradições, que o senhor chama de “fundacionais”,
“mutantes” e “perigosas”. Comecemos pela primeira categoria: o que torna certas contradições
“fundacionais”?
Não importa onde esteja o capitalismo e o modo de produção capitalista, você sempre encontrará essas
contradições em operação. Em qualquer economia – seja a China contemporânea, o Chile ou os EUA –
a questão do valor de uso e do valor de troca, por exemplo, lá estará, sempre. Há algumas contradições
que são traços permanentes de como o motor econômico está montado. E há outras que mudam
constantemente ao longo do tempo. Eu quis distinguir as que são relativamente permanentes e as outras,
que são muito mais dinâmicas.
Algumas contradições fundacionais são mais fundacionais que outras? Um dos traços que mais
chamam a atenção no livro é que tudo, no seu modelo analítico, parece derivar, no fundo, da
diferença entre valor de troca e valor de uso.
Ora… esse é o ponto inicial da análise. Sempre me chamou a atenção que Marx dedicou muito tempo
para demarcar o ponto no qual sua análise começaria. E decidiu começar por aí, porque é o ponto de
partida mais universal. Mas o que mais me impressiona – e trabalho com Marx há muito, muito tempo – é
o quanto as suas contradições são intimamente interligadas. Você percebe que essa distinção entre valor
de uso e valor de troca pressupõe alguma coisa sobre propriedade privada e o Estado, por exemplo.
Outra das suas contradições fundacionais é entre “propriedade privada e o Estado capitalista”.
Quer dizer: a tensão ou a contradição entre os direitos individuais de propriedade e o poder
coercivo do Estado. Agora, imaginemos alguém como Robert Nozick, criado na tradição liberal,
lockeana, que chega e diz que não há aí qualquer contradição. Ao contrário: o papel do estado
“mínimo” é proteger a propriedade privada.
Uma das coisas que digo sobre contradições é que elas estão sempre latentes. Por isso, a existência
de uma contradição não gera, necessariamente, uma crise. Gerará sob certas circunstâncias. Portanto,
é possível construir teoricamente a ideia de que tudo que um Estado “guarda-noturno” faz é proteger
a propriedade privada. Mas sabemos que esse Estado “guarda-noturno” tem muito mais a fazer. Há
externalidades no mercado que têm de ser controladas; há bens públicos que têm de ser fornecidos – e
assim, muito rapidamente, o Estado acaba por se envolver em todos os tipos de atividades, muito além de
apenas cuidar do quadro legal dos contratos e dos direitos à propriedade privada.
O senhor nega que haja qualquer conexão necessária entre capitalismo e democracia. Pode
explicar por quê?
A questão da democracia depende muito de definições. Supostamente haveria democracia nos EUA, mas
é claro que não há. É uma espécie de farsa, de engodo – é a democracia do poder do dinheiro, não do
poder do povo. Em minha avaliação, desde os anos 1970, a Suprema Corte legalizou o processo pelo
qual o poder do dinheiro corrompe o processo político.
Há um aspecto do poder do Estado que avançou para o centro do palco na crise recente e
imediatamente depois, sobretudo durante a crise da dívida na zona do euro: falo do poder dos
bancos centrais. O senhor acha que a função dos bancos centrais mudou de modo significativo
durante a era dos “resgates”?
Evidentemente mudou. A história dos bancos centrais é, ela própria, terrivelmente interessante. Não
tenho certeza de que o que o Federal Reserve fez durante a crise tenha tido qualquer base legal. O
Banco Central Europeu, por sua vez, é caso clássico do que Marx disse, quando comentou a Lei dos
Bancos de 1844, a qual, para ele, teve o efeito de estender e aprofundar a crise de 1847-8 na Grã-
Bretanha.
Há um conceito ao qual o senhor volta várias vezes no livro: o conceito de “conversão em
mercadoria”, ou mercantilização.
O capital trata, sempre, da produção de mercadorias. Se há terreno não-mercadorizado, ali o capital não
entra nem circula. Um dos meios mais fáceis para o capital conseguir penetrar aquele espaço é o Estado
impor ali um sistema de privatização – ainda que privatize algo que é só ficcional. Os créditos de carbono,
por exemplo – trocar direitos de poluir é excelente exemplo de mercadoria criada por processo ficcional,
que tem efeitos muito reais sobre o volume de dióxido de carbono na atmosfera, e assim por diante. Criar
mercados onde antes não havia é um dos meios pelos quais, historicamente, o capital expandiu-se.
O senhor foi pesadamente influenciado pelo trabalho de Karl Polanyi nessa área, não?
Especificamente a obra prima dele, A Grande Transformação. [2]
Polanyi não era marxista, mas compreendia, como Marx também compreendeu, que terra, trabalho e
capital não são mercadorias no sentido ordinário, mas que assumem uma forma de mercadoria.
Um dos aspectos mais impressionantes e mobilizadores do livro é o relato que o senhor faz dos
custos humanos da conversão em mercadoria – especificamente a conversão em mercadoria
daquelas áreas da experiência humana que antes não eram parte do “nexo dinheiro”. Há aí uma
conexão com o que o senhor chama de “alienação universal”. O que é isso?
Vivemos há tempos num mundo no qual o capital lutou sem parar para diminuir o trabalho, o poder do
trabalho, aumentando a produtividade, removendo o aspecto mental dos serviços e empregos. Quando
você vive em sociedade desse tipo, surge a questão de como alguém pode encontrar algum significado
na própria vida, dado o que se faz como trabalho, no local de trabalho. Por exemplo, 70% da população
dos EUA ou odeia trabalhar, ou é totalmente indiferente ao trabalho que faz. Em mundo desse tipo, as
pessoas têm de encontrar alguma identidade para elas mesmas que não seja baseada na experiência do
trabalho.
Sendo assim, surge a questão do tipo de identidade que as pessoas podem assumir. Uma das respostas
é o consumo. E temos um tipo de consumismo irrefletido que tenta compensar a falta de significação de
um mundo no qual há bem poucos trabalhos com algum significado. Irrita-me muito ouvir políticos dizer
que “vamos criar mais empregos”… Mas que tipo de empregos?
A alienação brota, entendo eu, de um sentimento de que temos capacidade e poder para ser alguém
muito diferente do que é definido por nossas possibilidades. Daí surge a questão de até que ponto o
poder político é sensível à criação de outras possibilidades? As pessoas olham os partidos políticos e
dizem “Aqui, não há nada que preste.” Há, pois, a alienação que empurra para longe do processo político,
que se manifesta em comparecimento declinante nas eleições; há a alienação para longe da cultura da
mercadoria, também, que cria uma carência e o correspondente desejo por um outro tipo de liberdade.
As irrupções periódicas que foram vistas pelo mundo – parque Gezi em Istanbul, manifestações no Brasil,
quebra-quebra em Londres em 2011 – obrigam a perguntar se a alienação pode vir a ser uma força
política positiva. E a resposta é sim, pode, mas não se vê nada parecido nos partidos ou movimentos
políticos. Viram-se alguns elementos disso no modo como o movimento Occupy ou os Indignados
na Espanha tentaram mobilizar pessoas, mas foi coisa efêmera e não amadureceu em ação mais
substancial. Mesmo assim, há muita ebulição nos campos da dissidência cultural; há algo em movimento,
e é fonte de alguma esperança.
Quando o senhor discute as contradições “perigosas”, o senhor oferece o que me parece ser
uma versão do materialismo histórico de Marx. Quero dizer: o senhor pensa, como Marx, que
o presente está grávido de futuro, embora o senhor não pense de modo determinista… Acho
também que o senhor não vê nada de determinismo, tampouco, no próprio Marx. Estou certo?
Não vejo, não, nada de determinismo em Marx. Há quem diga que Marx teria dito que o capital desabará
sob o peso de suas próprias contradições, e que Marx teria uma teoria mecanicista das crises das crises
capitalistas. Mas jamais encontrei uma linha em que Marx tenha escrito coisa semelhante! O que Marx,
sim, disse é que as contradições do capitalismo estão no coração das crises e que crises são momentos
de oportunidade.
Marx também disse que os seres humanos podem criar a própria história, mas que não escolhem as
condições sob as quais criarão a própria história. Para mim, portanto, há um Marx que, embora não
seja liberal, diz que os seres humanos são capazes de decidir coletivamente, de empurrar as coisas mais
para uma direção, que para outra. Marx criticou o socialismo utópico, porque entendia que o socialismo
utópico não lidava com o onde estamos. Marx disse que é preciso analisar onde se está, ver o que é
viável para nós e, na sequência, tentar construir algo radicalmente diferente.
—
1 Em editorial, a Folha propunha que as autoridades proibissem qualquer protesto em via pública que
não fosse anunciado com 30 dias de antecedência; e que simplesmente banissem as manifestações
“potencialmente mais perturbadoras”
[2] http://historialecionada.com/2013/05/01/baixe-o-livro-a-grande-transformacao-de-karl-polanyi/
Nenhum comentário:
Postar um comentário