domingo, 29 de maio de 2016

STF está envolvido no processo do golpe, afirma professor da UnB

Para Marcelo Neves, golpe é fundado numa ideologia, numa criação ilusória de que se está atuando de acordo com a Constituição, quando, na verdade, está se atuando para corroer a Constituição
por Marco Weissheimer publicado 29/05/2016 15:19, última modificação 29/05/2016 15:22
CRISELLI MONTIPÓ/REPRODUÇÃO/UNIBRASIL
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Marcelo Neves: golpe envolve parlamentares,TCU, grande mídia e Judiciário, incluindo o Supremo Tribunal Federal
Sul 21 – Em dezembro de 2015, Marcelo da Costa Pinto Neves, professor titular de Direito Público da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília e visiting scholarda Faculdade de Direito da Universidade de Yale (EUA), divulgou um parecer classificando o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, acolhido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), como “inconsistente e frágil, baseando-se em impressões subjetivas e alegações vagas”. “Os denunciantes e o receptor da denúncia”, disse ainda o constitucionalista, “estão orientados não em argumentos jurídicos seguros e sustentáveis, mas sim em avaliações parciais, de caráter partidário ou espírito de facção”. “Denunciantes e receptor afastam-se não apenas da ética da responsabilidade, mas também de qualquer ética do juízo, atuando por impulsos da parcialidade, do partidarismo e da ideologia, em prejuízo do povo brasileiro”, acrescentou.
Passados cerca de seis meses, a abertura do processo de impeachment foi aprovada na Câmara e o mesmo encontra-se atualmente tramitando no Senado, com o afastamento da presidenta Dilma por um período de até seis meses. Enquanto isso, o vice Michel Temer assumiu o governo, trocando não só todo o ministério e escalões intermediários do governo, mas também o programa do governo eleito pelas urnas em 2014. Impeachment ou golpe? Em entrevista ao Sul21, Marcelo Neves não tem dúvidas em apontar a segunda opção. “É um golpe fundado numa ideologia, numa criação ilusória de que se está atuando de acordo com a Constituição, quando, na verdade, está se atuando para corroer a Constituição, prejudicando o funcionamento normal da ordem constitucional”, afirma o professor da UnB. Para ele, o processo golpista envolve parlamentares, o TCU, a grande mídia e o Judiciário, incluindo o próprio Supremo Tribunal Federal que, em tese, deveria zelar pelo cumprimento da Constituição:
“Acho que o STF está envolvido neste processo, pois está muito parcial. Ele tem tomado medidas que, às vezes, são muito duras para setores do governo e muito parcimoniosas, lenientes e favoráveis a grupos pertencentes à política tradicional brasileira. Além disso, o STF tem se manifestado e prejulgado casos que ainda vai avaliar”.
O sr. é autor de um parecer, divulgado em dezembro de 2015, que classificou o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff como frágil e inconsistente. Passados quase seis meses da divulgação desse parecer e com o processo de impeachment já tramitando no Senado, como definiria a situação política que estamos vivendo hoje no país?
A situação do impeachment foi uma criação para destituir a presidente que não tem nenhum fundamento. Toda a estrutura desse processo configura o que tem se chamado de golpe, um golpe parlamentar com a ajuda do Judiciário e da grande mídia, que não tem nada a ver com a prática de crime de responsabilidade pela presidente da República. Há vários elementos que apontam no sentido oposto. O afastamento da presidente tem a ver, principalmente, com a tentativa de abafar as investigações para que elas não atingissem certos políticos hegemônicos da tradição brasileira. Recentes gravações mostram que a presidente vinha permitindo as investigações sem interferência, deixando o Ministério Público e a Polícia Federal com autonomia para atuar. A questão é que isso incomodava muitos grupos. Um ponto fundamental foi esse.
Outro, evidentemente, é que as políticas sociais incomodavam grupos tradicionais das elites brasileiras. Esses foram os elementos fundamentais. Crise econômica, nós já passamos mais graves no governo Sarney e no governo Fernando Henrique. Isso não justificou o impeachment desses presidentes porque, no presidencialismo, uma política econômica frágil e mal conduzida em certo momento não é suficiente para a destituição do chefe de governo. Isso ocorre no sistema parlamentarista.
As chamadas pedaladas fiscais não configuram caso de crime de responsabilidade. Já existem muitos estudos sobre isso. Além disso, essas pedaladas foram praticadas abundantemente antes pelo próprio presidente Fernando Henrique Cardoso, que abusou de decretos para a abertura de créditos suplementares. Na época, o Tribunal de Contas da União só encaminhava recomendações para que as contas fossem saneadas. Nunca houve sequer reprovação das contas, quanto mais um impeachment que implica crime de responsabilidade. Então, o TCU também está envolvido nesta trama, na construção deste casuísmo para enfraquecer a presidente e permitir esse impeachment que, na verdade, fere a Constituição porque a tipificação do crime de responsabilidade inexiste.
No presidencialismo, a destituição de um presidente exige que se caracterize o crime de responsabilidade ou o crime comum, que iria para o Supremo. Mas não há caracterização de crime comum nem de crime de responsabilidade. Então, o que vem se dizendo sobre o golpe justifica-se amplamente.
O sr. concorda, então, que estamos vivendo um golpe em curso ou mesmo já efetivado?
Sim, é um golpe que está em curso e que pode se consumar. Não é um golpe clássico, no sentido estrito do termo, com o emprego de violência. É um golpe fundado numa ideologia, numa criação ilusória de que se está atuando de acordo com a Constituição, quando, na verdade, está se atuando para corroer a Constituição, prejudicando o funcionamento normal da ordem constitucional.
Quais são as possíveis consequências dessa quebra da ordem constitucional para a vida do país no médio e longo prazo?
O que pode ocorrer, caso se consume um abuso desse tipo, é termos sempre um perigo pairando sobre qualquer governo contrário aos interesses das elites dominantes. Esse governo não vai conseguir se manter no poder, pois sempre se poderá recorrer a esse precedente. O grande perigo é que essa prática se torne uma rotina na nossa vida política, tendo como alvo presidentes que tenham uma postura transformadora, vinculada a movimentos populares. Isso cria mais instabilidade inconstitucional no país.
O sr. mencionou a participação do Judiciário neste processo de construção do golpe, juntamente com parlamentares e a grande mídia. O STF, que é a nossa última trincheira constitucional, também foi arrastado para essa crise ou está envolvido ativamente nela. Qual sua avaliação sobre a conduta do STF neste processo do golpe?
Acho que o STF está envolvido neste processo, pois está muito parcial. Ele tem tomado medidas que, às vezes, são muito duras para setores do governo e muito parcimoniosas, lenientes e favoráveis a grupos pertencentes à política tradicional brasileira. Além disso, o STF tem se manifestado e prejulgado casos que ainda vai avaliar. Isso tem acontecido com vários ministros, como Gilmar Mendes, Celso de Mello e Cármen Lúcia, que se manifestaram dizendo que o que está acontecendo não é golpe. Estão se manifestando sobre algo que eles podem ter que vir a julgar. Isso fere todas as normas de imparcialidade. Eles não poderiam se manifestar sobre o assunto exatamente porque eles poderão ter que julgar se há vícios no processo do impeachment. Eles estão prejulgando ao falar antecipadamente. Isso poderia, em certos casos mais graves, levar até mesmo ao impeachment de um ministro do Supremo se a gente estivesse atuando, realmente, de acordo com as regras do Estado de direito.
Considerando que o STF é o guardião da Constituição, a quem a sociedade pode recorrer quando ocorre uma quebra da ordem constitucional e aquele que deveria ser o principal defensor do Estado de direito se comporta dessa maneira?
Acho que aí vamos precisar dos movimentos populares. Isso tem que vir mais de baixo. A mobilização popular pode pressionar e provocar uma modificação da situação atual e reorientar algumas posições. Como a coisa está ficando tão descarada com as recentes gravações, isso também vai aumentando o constrangimento dos poderes públicos. É possível que até mesmo o Supremo se veja constrangido a mudar suas posições e ser mais rigoroso com esses grupos de elites tradicionais, em relação aos quais eles não tomam nenhuma providência em processos que duram de cinco a dez anos. Políticos como Sarney e Renan têm um poder muito grande no Judiciário porque eles definem normalmente quem entra lá. Você não pode ir para o Supremo sem beijar a mão de Sarney. Isso torna muito difícil esses ministros fazerem alguma coisa contra esses políticos que controlam as nomeações para os altos postos do Judiciário.
Toda a estrutura está corrompida. O Judiciário também está corrompido, neste sentido. Agora, a natureza das gravações que estão surgindo pode aumentar o constrangimento desses poderes e, em certo momento, inverter o jogo, pois pode ficar mais difícil justificar certas decisões.
Há alguns dias, o sr. advertiu para o risco do surgimento de um Estado policial no Brasil em função do perfil de Alexandre de Moraes, novo ministro da Justiça de Michel Temer. Qual a dimensão desta ameaça, na sua opinião?
O perfil do atual ministro da Justiça é um perfil muito mais de repressão. A ligação dele com os cargos públicos sempre foi ligada à dimensão repressiva e nunca à dimensão dos direitos. Então, evidentemente, vai haver uma fragilização dessa dimensão dos direitos e uma ênfase na repressão. Isso já foi dito explicitamente e está registrado em gravações. Em uma delas, o ex-ministro do Planejamento Romero Jucá disse que já tinha falado com os militares para reprimir o MST. Ou seja, há toda uma ordenação de um aparelho repressivo mais eficiente contra os movimentos sociais. Não há pessoa com perfil mais adequado à essa orientação do que o atual ministro.
Na sua avaliação, a Constituição de 1988 deixou alguma fragilidade institucional que está ajudando a desestabilizar a relação entre os poderes e a própria democracia brasileira?
Acho que o problema básico não é a Constituição como texto elaborado. A Constituição sempre deixa um campo aberto para as práticas constitucionais. O problema é a forma como ela foi construída. É claro que é possível pensar novos mecanismos de participação como, por exemplo, para a escolha de ministros do Supremo. Mas isso, me parece, não é o mais importante. O que é mais importante está ligado à prática de funcionamento das instituições. Em um país onde existem algumas pessoas muito privilegiadas, que eu chamo de sobrecidadãos, que estão acima da lei, e uma massa de pessoas, que eu chamo de subintegrados ou subcidadãos, que não têm acesso aos direitos básicos, é muito fácil para os primeiros manipular a Constituição. Então, eu penso que é mais o momento da realização, da prática, que acaba deformando a Constituição.
O modelo americano de escolha é muito parecido com o nosso, mas o Senado tem um papel muito sério. Quando um ministro é indicado pelo presidente para assumir a Suprema Corte americana, professores e especialistas são convidados para avaliar esse nome. Há um amplo debate público e funciona relativamente bem. No Brasil, essa indicação virou apenas um jogo particularista de esquemas políticos para colocar uma pessoa que vai corresponder não a uma determinada visão de mundo, mas sim a determinados particularismos de grupos. Aí, realmente, a deformação e a deturpação da Constituição se tornam o problema mais grave no nosso caso.
O “ativismo jurídico” tornou-se uma expressão muito repetida hoje no debate político e jurídico brasileiro. Qual sua avaliação sobre o sentido dessa expressão?
Esse ativismo judicial que seria uma tendência à judicialização da política tem sido entendido como se o Direito se ampliasse no campo político. Essa é uma interpretação um pouco infeliz porque, na verdade, em grande parte o que há é uma politização do judiciário. Não é que o Judiciário, com critérios jurídicos, se amplia e se torna forte para controlar o poder político. No caso brasileiro, há uma dimensão mais grave neste fenômeno: o Judiciário é politizado e acaba se vinculando aos interesses de grupos políticos. Isso é muito mais grave e representa uma ameaça para o próprio funcionamento da democracia. São pessoas com poder vitalício, adquirido sem eleição e sem periodicidade, podando e prejudicando o funcionamento do processo democrático.
O sr. defende a possibilidade de eleição no Poder Judiciário?
Não. Acho que isso seria problemático. O que defendo é que o Judiciário reconheça as suas funções e seus limites, ficando ligado à Constituição e aos critérios constitucionais. Em alguns países como a Suíça, em nível municipal, e os Estados Unidos, os juízes são eleitos pela comunidade. Acho que no Brasil isso seria um tanto catastrófico em função da forma pela qual o nosso sistema eleitoral é conduzido.

Dilma: 'Cunha não só manda: ele é o governo Temer' - Rede Brasil Atual

Dilma: 'Cunha não só manda: ele é o governo Temer'

Em entrevista à Folha de S.Paulo, presidenta diz que não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha
por Redação RBA publicado 29/05/2016 12:21, última modificação 29/05/2016 15:34
ROBERTO STUCKERT FILHO/PR/FOTOS PÚBLICAS
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Dilma: 'Impeachment abriu porta para política ultraliberal em economia e conservadora em todo o resto'
São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff disse que o processo de impeachment aberto contra ela teve como objetivo paralisar as investigações da Operação Lava Jato e para ser posta em andamento uma "política ultraliberal em economia e conservadora em todo o resto". "Com cortes drásticos de programas sociais. Um programa que não tem legitimidade pois não teve o respaldo das urnas", afirmou Dilma à Folha de S.Paulo.
Dilma disse que o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é a pessoa central do governo interino de Michel Temer. "Isso ficou claríssimo agora, com a indicação do André Moura (deputado ligado a Cunha e líder do governo Temer na Câmara). Cunha não só manda: ele é o governo Temer. E não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha." Para que o governo Temer seja viável, Dilma afirma: "Vão ter de se ajoelhar".
A respeito dos fatores que levaram ao seu afastamento, Dilma disse que o economista e prêmio Nobel Joseph Stiglitz fez um diagnóstico perfeito sobre o Brasil: "A crise econômica é inevitável. O que não é inevitável é a combinação danosa de crise econômica com crise política. O que aconteceu comigo? Houve a combinação da crise econômica com uma ação política deletéria. Todas as tentativas que fizemos de enviar reformas para o Congresso foram obstaculizadas, tanto pela oposição quanto por uma parte do centro politico, este liderado pelo senhor Eduardo Cunha".
A presidenta lembra das "pautas-bomba", com gastos de R$ 160 bilhões e diz que estava por trás disso a criação de um ambiente de impasse, propício ao impeachment. "Cada vez que a Lava Jato chegava perto do senhor Eduardo Cunha, ele tomava uma atitude contra o governo. A tese dele era a de que tínhamos que obstruir a Justiça."
Mas Dilma acredita na reversão desse processo. "Vários senadores, quando votaram pela admissibilidade disseram que não estavam declarando (posição) pelo mérito. Então eu acredito. Sobretudo porque as razões do impeachment estão ficando cada vez mais claras. E elas não têm nada a ver com seis decretos ou com Plano Safra (medidas consideradas crimes de responsabilidade)", disse.

Traição

Dilma fala sobre a traição do vice Michel Temer como a pior de todas, e que ela não ocorreu no dia da votação do processo de impeachment, mas em março, "quando as coisas ficaram claríssimas". "Você sempre acha que as pessoas têm caráter. Eu diria que ele não foi firme. Tem coisas que você não faz."
Famosa por sua bravura, a presidenta disse que não chorou no dia em que foi afastada: "Eu não choro, não. Nas dores intensas, eu não choro. Cada um é cada um, né?".

Pato

Para Dilma, Temer deveria defender a volta da CPMF e lembra que seu governo defendeu a volta da contribuição "sem pudor". "Nós passamos um ano terrível em 2015 e fizemos todo o esforço para não ter corte em programa social. Nós nunca entramos nessa do pato "(símbolo criado pela Fiesp para protestar contra aumento de impostos). Aliás, o pato tá calado, sumido. O pato tá impactado. Nós vamos pagar o pato do pato, é?

Mulheres derrubam a cerca do Supremo! "Contra o estupro da Democracia" (Viu, Gilmar (PSDB_MT)?) - Conversa Afiada



Mulheres derrubam a cerca do Supremo!

"Contra o estupro da Democracia!" (Viu, Gilmar (PSDB-MT)?)
publicado 29/05/2016
fora gilmar
Neste domingo (29), em Brasília, mulheres organizaram a "Marcha das Flores - 30 Contra Todas" e cercaram o Supremo Tribunal Federal contra Michel Temer e o estupro da Democracia.

Gilmar (PSDB-MT), precisa desenhar, Gilmar?

A marcha carregou e depositou as flores na estátua da justiça e as mulheres ocupam a frente do STF.



















Em tempo com vídeo demolidor: fora Gilmar, protetor de estuprador!



Em tempo 2, da Mídia Ninja:


Enquanto isso temos como ministro do Supremo, Gilmar Mendes.
Não podemos esquecer que foi ele o responsável pelo habeas corpus do médico estuprador Roger Abdelmassih, preso no Paraguai, que foi condenado a 278 anos de prisão pela Justiça criminal de São Paulo em novembro de 2010, acusado de 52 estupros de suas próprias pacientes.

‪#‎EstuproNuncaMais‬

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Franklin: esse Golpe não dura! Temos Supremo? - Frankiln Martins para Conversa Afiada



Franklin: esse Golpe não dura!

Temos Supremo?
publicado 27/05/2016

Créditos: Fotos Públicas
Franklin Martins: Esse Golpe foi organizado pela mídia

O jornalista Franklin Martins começou o seu engajamento na política aos 20 anos como estudante de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (à época Universidade do Brasil), ao ser eleito presidente do DCE da Universidade e, logo depois, vice-presidente da União Metropolitana dos Estudantes. Com a ditadura, aderiu à luta armada como militante do grupo comunista MR-8 e da Dissidência Universitária da Guanabara. Ganhou notoriedade ao ser um dos articuladores do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrik, em 1969. A ação possibilitou a libertação de 15 guerrilheiros presos. Exilado em Cuba, Chile e França, voltou com a anistia 10 anos depois. Atuou como repórter em vários veículos até chegar à TV Globo como comentarista em 1996. Em 2002, foi indicado ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal durante o mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva onde ficou até dezembro de 2010. 

Em palestra no Sindicato dos Engenheiros do Rio, SENGE-RJ, Franklin Martins avaliou o momento político nacional, em especial o afastamento da presidenta Dilma Rousseff. Para ele, a ascensão de Temer é fruto de um golpe de estado. “Esse golpe foi organizado pela mídia, é um bombardeio de informação enviesada e partidarizada”, garante. Apesar de reconhecer que o ato foi uma grande derrota para o projeto político do PT e de Lula, Franklin acredita que o povo saberá encontrar os mecanismos para fazer prevalecer os seus interesses. “Temer vai tentar impor um programa de retrocesso que o povo brasileiro não aceitará”. E completa: “O futuro é nosso”.

Como está vendo a deposição de Dilma?

Esse processo de golpe de Estado nos impactou fortemente. Estou vivendo o meu segundo golpe. No primeiro, eu tinha 15 anos. Esse agora eu tenho quase 70. A primeira reação, repetindo o Chico Buarque, é golpe de novo não. Estou convencido que não é mais o mesmo tipo de golpe de Estado. O Brasil é um país muito mais maduro, consciente, organizado e disposto a lutar pelos seus direitos. Este golpe não vai ter a longevidade da ditadura. O primeiro ponto é a democracia. Queremos resolver através do voto. É assim que formaremos maiorias e minorias políticas e organizaremos as nossas instituições. Isso é uma conquista da luta contra a ditadura, da Constituinte e do processo político posterior. É isso que os golpistas estão atacando. Vamos ser claros: eles não estão só atacando os 54 milhões de eleitores de Dilma, estão atacando os 110 milhões de eleitores. Nós estamos vivendo um retrocesso, atingindo aquilo que está na base da agenda política que é o voto. Esse golpe foi organizado pela mídia. É um bombardeio de informação enviesada e partidarizada.

O que acha da reforma política e da regulação da mídia?

O Brasil é grande na sua diversidade e precisa reduzir as desigualdades regionais. Os avanços nos últimos anos foram excepcionais, mas algumas coisas ficaram pendentes, entre elas a reforma política e a regulação da comunicação. A votação proporcional não dá certo, porque estimula o dono do mandato ao invés do partido que o elegeu. Por isso, o Congresso é cada vez mais dominado pelo dinheiro. Virou um grande balcão. Não existe chance de melhorar nas próximas eleições desta forma. A reforma política não acontece porque quem vota ela é este Congresso elitista. A regulação da mídia é urgente. As rádios e televisões são concessões. Todas os setores da economia onde vigora o sistema de concessões têm obrigações. Isso vale para a energia, transporte público urbano, aviação. Todos têm regulação que precisa ser cumprida, caso contrário perdem a concessão. Na radiodifusão não. O nosso código geral de telecomunicações é de 1962. Ele não responde pelos problemas atuais. Naquela época tinham dois milhões de aparelhos de TV, hoje todas as casas têm. Sem regulação é a lei da selva. Sempre ganha o forte. É indispensável democratizar. Não é censura. Os governos Lula e Dilma ficaram devendo nessa área. É muito difícil aprovar isso no Congresso porque os deputados têm medo de ser bombardeados pela imprensa. Os blogs e portais estão gerando informação a partir da internet. Os grupos midiáticos não têm o monopólio total, só na radiodifusão. Mas, é pouco.

A inclusão social está ameaçada?

Só é possível ter democracia, moeda estável, crescimento, com inclusão social. Senão, nada disso é possível. Fragiliza. Temos que defender a agenda que estamos construindo, defender a democracia.

E a Soberania Nacional

Nós não precisamos que os nossos ministros tirem os sapatos nos aeroportos dos Estados Unidos. Não precisamos consultar a Casa Branca para instituir um novo modelo de exploração do Pré Sal. Não precisamos ter o ok dos EUA para construir uma política de relacionamento, de integração regional, de solidariedade com a África. Ou seja: o Brasil não é o quintal dos EUA. Tem ainda uma questão geopolítica: o Brasil descobriu as maiores jazidas de óleo e gás dos últimos 30 anos. Eles estão nos atacando da forma que podem, não enviaram marines para cá, mas estão de olho na exploração.

O que acha de nossas elites? 

As elites são dinheiristas predadores, não têm projeto de país. O povo para eles é um acidente geográfico. Elas sempre governaram para um terço das pessoas. Ao contrário do governo Lula que provou que é possível governar para todos. O povo não é um estorvo, uma carga, é energia, possibilidade de crescimento. Ele precisa ter condições de se desenvolver. As elites perderam quatro eleições seguidas e querem aplicar seu projeto com Temer e se impuseram ao país. Nós sofremos uma derrota muito forte. Estamos com desafios imensos pela frente. Esse ministério do Temer é cheio de filhos de políticos, é a cara da sessão da Câmara que derrubou Dilma. O seu governo é uma improvisação absoluta, não sabe o que fazer com o país.

O que fazer agora?

Vamos fazer política, construir maiorias, tentar reduzir o isolamento. É preciso oxigenar, gerar pensamentos com o que vem de novo. Nos últimos meses, a sociedade despertou. Hoje ela quer mais, a garotada tem pautas diferentes. Existe um Brasil novo pulsando, acho que vai reforçar a luta. Eu olho para o governo Temer e para a TV Globo e digo: nós perdemos, não vamos subestimar, a democracia foi seriamente atingida. Mas, sinceramente, o futuro é nosso.

Esse golpe era irreversível? 

O futuro ao Deus pertence. Esse governo é fruto de um golpe. Ele rasgou o instituto do voto sem que Dilma tenha cometido nenhum crime de responsabilidade. Ela foi tirada do poder, posto um vice que vai aplicar um programa que foi derrotado nas eleições. É gravíssimo, mas acredito que o povo brasileiro vai resistir, vai defender a democracia. Esse golpe não prevalecerá por muito tempo.

Caminhamos para uma crise maior?

Esse governo vai sofrer uma instabilidade muito grande porque não é fruto do voto. É fruto de um golpe articulado pelas grandes corporações de mídia, pelos partidos de oposição, pelo Congresso, pelo Ministério Público, parte do judiciário que omitiu-se. O que vai sair do governo Temer? Não vai ter nenhum céu de brigadeiro não. Acho que vai tentar impor um programa de retrocesso que o povo brasileiro não aceitará.

Qual é recado para a sociedade?

O povo saberá encontrar os mecanismos para fazer prevalecer os seus interesses.

E o Supremo continuará omisso?

Nós temos Supremo?

E o papel da imprensa independente?

A imprensa independente sempre teve, nos momentos de grandes dificuldades, um papel muito importante, muito relevante. Ela tem que ser cada vez mais competente, profissional e mais leve que a mídia tradicional.

Quais são os pontos fundamentais para uma agenda nacional no país?

Depois da redemocratização, a partir da nova Constituição e da luta democrática, o país construiu uma agenda nacional de seis pontos. Primeiro ponto, a democracia, o voto. Segundo, a necessidade de uma moeda estável, terceiro é crescimento econômico, não basta ter moeda. O país tem que crescer para abrir oportunidades. Quarto é inclusão social, o Brasil é um país profundamente injusto do ponto de vista social. O quinto ponto é a redução das desigualdades regionais. Não pode concentrar todo o crescimento em São Paulo ou no Rio. Ele tem que ser distribuído para todo o país. Isso é até bom para paulistas e fluminenses, pois impede o inchaço das grandes cidades. Em sexto, a construção de uma política de soberania nacional. O Brasil não é o quintal dos EUA. Queremos boas relações com eles, mas não com o caráter de subordinação. Devemos construir relações fortes com a América Latina, a África, ter relações com outras grandes nações no mundo que não sejam os Estados Unidos. O Brasil tem de defender os seus interesses e seus valores. Esta agenda de seis pontos está ameaçada pelo golpe que levou Temer ao poder.

As utopias morreram?

Por que elas morreram? Continuam existindo.

terça-feira, 24 de maio de 2016

AJUSTE FISCAL Para oposição, medidas de Temer são 'elitistas, irresponsáveis e retrógradas’ Deputados e senadores julgam “absurdas” medidas propostas pelo presidente interino. Os apoiadores dizem que são necessárias para conter a crise, mas não apresentaram argumentos técnicos - Rede Brasil Atual

AJUSTE FISCAL

Para oposição, medidas de Temer são 'elitistas, irresponsáveis e retrógradas’

Deputados e senadores julgam “absurdas” medidas propostas pelo presidente interino. Os apoiadores dizem que são necessárias para conter a crise, mas não apresentaram argumentos técnicos
por Hylda Cavalcanti, da RBA publicado 24/05/2016 19:10
JANE DE ARAÚJO/AGÊNCIA SENADO
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Vanessa: 'É isso que esse presidente interino, que não teve um único voto, está fazendo: trabalhando contra as famílias brasileiras”
Brasília – Senadores e deputados repercutiram durante toda a tarde as medidas econômicas anunciadas hoje (24) pelo governo interino de Michel Temer e seu provável impacto. Opositores fizeram críticas isoladas a cada uma das sete medidas, que consideraram, em sua maioria, um retrocesso para o país. E foram rebatidos com poucos argumentos técnicos e justificativas de que “é preciso melhorar a economia”. “Melhorar o país como um todo é uma coisa, mas nossa obrigação é fazer isso com responsabilidade”, disse a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Uma das mais enfáticas na crítica às medidas, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) afirmou ser mais grave dentre as sete iniciativas anunciadas (a maior parte ainda dependente de apreciação pelo Congresso), a que limita os gastos públicos até o limite da inflação.
“Significa dizer que não haverá mais aumento salarial para os servidores públicos, não haverá mais contratações, não haverá mais aumento de beneficiários do Bolsa Família e não haverá reajuste do Bolsa Família. É isso que esse presidente interino, que não teve um único voto, está fazendo: trabalhando contra as famílias brasileiras”, disse a parlamentar.
Segundo Vanessa, o que pretendem fazer na reforma da Previdência (objeto de um grupo de estudo pelos próximos 30 dias) não é apenas alterar as regras sobre idade mínima para aposentadoria, mas "retirar conquistas das mulheres trabalhadoras, que historicamente se aposentam antes dos homens, porque todos sabem que realizam uma tripla jornada".
O deputado Jorge Solla (PT-BA) comentou possíveis resultados negativos a serem observados no Sistema Único de Saúde (SUS) com o anúncio de que o Executivo encaminhará Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para limitar ao índice da inflação o crescimento dos gastos em Saúde e Educação. Para o deputado, a medida representará, “inevitavelmente”, mais unidades de saúde fechando as portas. “É a materialização da redução do SUS que o ministro da Saúde propôs na semana passada e, depois, envergonhado, fez de conta que recuaria”, disse.

Sufoco para a Saúde

Solla afirmou que a inflação dos custos da saúde tem sido há mais de uma década superior ao índice de inflação geral da economia (IPCA foi de 10,6%), principalmente em razão de o setor necessitar de incorporação tecnológica constante, nos equipamentos, fármacos e especialização da mão de obra – o que se reflete nos custos. “Temos uma tabela do SUS que precisa ser reajustada, mas essa PEC segue no caminho contrário, de sufocar completamente o SUS”, disse, acrescentando que, se a PEC passar no Congresso, "quem mais sofrerá será a fatia mais pobre da população".
Gleisi Hoffmann avaliou as medidas como “uma catástrofe para sociedade". "Menos para a elite rentista, preguiçosa e escravagista que ainda há no Brasil”, completou a senadora. Sua maior crítica é relativa à decisão do Executivo de acabar com o Fundo Soberano (fundo criado para receber recursos da exploração do pré-sal, cujo saldo atual é de R$ 2 bilhões, e que tinha como objetivo destinar recursos para a Educação).
“Esse dinheiro veio do pré-sal e ficaria no fundo para mais adiante seguir para investimento em Educação. Não vai mais. Pior, esses R$ 2 bilhões que estão aplicados em sua maior parte, em ações de Banco do Brasil, serão colocados no prego, ou seja, as ações serão vendidas. Na prática, não é o pobre e ninguém da classe média que vai comprar as ações do BB referentes ao Fundo Soberano. Serão os especuladores, os rentistas”, afirmou.
Ela considerou acabar com o fundo soberano como “um golpe de mão” porque leva em conta que o Banco do Brasil teve um primeiro trimestre ruim, por conta da crise econômica. “A tendência é fazer, com essa medida, com que o discurso do governo ilegítimo seja reforçado pelas vozes ‘do mercado’ de que o BB tem de ser vendido, privatizado”, destacou.
Outra medida que Gleisi avaliou ser prejudicial aos trabalhadores e pequenos empreendedores será o que chamou de seletividade, que passará a ser observada daqui por diante nos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), atendendo somente a grandes grupos empresariais.
“O ministro Meirelles anunciou que R$ 100 bilhões que estão no banco serão revertidos para o Tesouro Nacional. Esse dinheiro está no banco e gira na forma de empréstimo, inclusive nos cartões do BNDES e em outras linhas de crédito como a de modernização de frotas. Na prática, sem linha de crédito para os pequenos empreendedores que possuem o cartão BNDES, os investimentos serão travados”, disse.
Para Carlos Zarattini (PT-SP), a medida que pretende agilizar a abertura da exploração do pré-sal para companhias petrolíferas estrangeiras é, para ele, uma das mais drásticas. Na prática, consiste no apoio oficial, por parte do governo Temer, ao Projeto de Lei (PL 4.567/16), em tramitação na Câmara, que retira da Petrobras a obrigatoriedade de participar da extração de petróleo da camada pré-sal.
“Eles estão colocando em prática mais um objetivo do golpe que afastou a presidenta Dilma Rousseff da presidência. Querem quebrar a participação da Petrobras no pré-sal e entregar tudo para as multinacionais, que sempre desejaram colocar as mãos em uma das maiores reservas de petróleo do mundo”, disse.

Estratégias de combate

Por conta dessa avaliação e da agenda tida como "extremamente retrógrada e negativa", deputados e senadores que integram o chamado Comitê Pró-Democracia, juntamente com a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Democracia (que se posicionam contrários ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff) vão se reunir amanhã (25), no final da tarde. O intuito, mais do que acompanhar e discutir o rito da comissão do impeachment, é discutir também todas as medidas anunciadas. E avaliar formas de enfrentamento durante a tramitação das matérias que as sugerem, no âmbito do Legislativo.
A oposição foi rebatida por uma espécie de "tropa de choque do governo", formado por líderes como os senadores Ronaldo Caiado (DEM-GO), Romero Jucá (PMDB-RR) – que retornou hoje, após desastrosa passagem pelo Ministério do Planejamento – e Ana Amélia (PP-RS). Mas não convenceram.
Caiado repetiu que as propostas pretendem consertar programas que, segundo ele, "tudo o que fizeram foi dividir o país nos últimos anos e maquiar as contas públicas". E considerou as medidas “salutares para ajudar a melhorar a economia nacional”. Jucá reiterou que vai trabalhar para ver todas as propostas aprovadas e, num tom mais agressivo, chegou a afirmar: “Quem quebrou o país não fomos nós, mas o PT”.
Ana Amélia ressaltou que a discussão mais acirrada não levará a nada entre os parlamentares. Disse que é preciso, mesmo em meio a divergências, trabalhar por um debate mais ético e construtivo no Congresso, porque é isso o que a população brasileira deseja.
A sessão de hoje, que seria iniciada às 16h, foi antecipada para as 11h, mas até agora, os parlamentares só votaram os vetos presidenciais que faziam parte da pauta. Não começaram ainda a apreciação da proposta que altera a meta fiscal do governo – tudo por conta do grande número de pronunciamentos e embates entre os representantes de partidos da base aliada e da oposição.