domingo, 27 de março de 2016

Defensores do golpismo escondem o que desejam fazer com o país - Márcio Pochmann para Rede Brasil Atual

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Defensores do golpismo escondem o que desejam fazer com o país

Projeto neoliberal dos conservadores quer atacar direitos sociais, estancar a mobilidade social e dar vazão às privatizações que podem comprometer a soberania do país
por Marcio Pochmann, para a RBA publicado 27/03/2016 12:25, última modificação 27/03/2016 12:27
ELAINE PATRÍCIA CRUZ/AGÊNCIA BRASIL
golpistas da fiesp.jpg
Ocupação da Paulista por defensores do impeachment: apoio da Fiesp e agenda neoliberal contra direitos
Nas três eleições diretas para presidente, o projeto neoliberal vencedor no Brasil (1989, 1994 e 1998) não chegou a ser apresentado em quanto tal para o veredito da sociedade. Nos programas políticos de governo apresentados nos debates eleitorais, palavras ou expressões como ‘privatização’, ‘redução dos direitos sociais’, ‘transferências de renda para os ricos’, ‘encolhimento de oportunidades’ e ‘estancamento da mobilidade social’ jamais foram explicitadas.
Após quatro sucessivas derrotas eleitorais (2002, 2008, 2010 e 2014), o projeto neoliberal procura novamente voltar a dominar o governo na forma de um golpe explicito à jovem democracia brasileira. Sem conseguir conquistar o voto popular, os defensores do golpismo escondem o que desejam realmente fazer com o país e o conjunto dos seus cidadãos.
Para tanto, os fins parecem justificar o uso de qualquer meio. De um lado, os defensores do golpe à democracia adotam como esteio legitimador do impedimento do governo Dilma, a condução do processo pelo atual presidente da Câmara dos Deputados, cuja ética política, compromisso público e lisura administrativa são, no mínimo, questionados, se é que existentes.
De outro, percebe-se que a linha dos argumentos adotada pelo impeachment foca o uso inadequado dos recursos públicos pelo governo Dilma, prática que não pode ser considerada crime, tendo sido usual desde o atual vice-presidente no exercício temporário da função de presidente, passando por presidentes anteriores até os atuais governadores. Além disso, expressa subliminarmente, o questionamento ao papel do Estado reformulado a partir de 2003.
Em síntese, a reorganização das políticas públicas buscando fazer valer plenamente a Constituição Federal de 1988, especialmente no que toca incluir todos os brasileiros nas oportunidades geradas pela economia nacional. Por isso que a via adotada de crescimento econômico desde o início dos anos 2000 se revelou fundamental para abrir um inédito caminho para tornar o país menos desigual.
Mas isso, obviamente, em uma nação constituída e experimentada na iniquidade de várias ordens causou mal-estar, justamente naqueles minoritários segmentos privilegiados por antigos monopólios sociais, políticos e econômicos que resultam das práticas tradicionais do Estado patrimonialista. Nesse sentido que a centralidade da oposição golpista é o gasto público, adotando como argumento a necessidade de diminuir consideravelmente o tamanho do Estado.
Informam sub-repticiamente que o gasto público não cabe na economia nacional, necessitando reduzi-lo, bem como transferir para o setor privado, as empresas estatais como a Petrobras, a Caixa Econômica Federal, entre outras. Da mesma forma buscam antecipar que os direitos sociais estabelecidos pela Constituição Federal de 1988, como salário mínimo, aposentadoria e pensões, entre outros, prejudicam o desempenho da economia nacional.
Assim, a aprovação do impedimento do governo Dilma imporá a uma parte significativa da população o retorno ao caminho da exclusão, restabelecendo a sociedade da inclusão dos 2/3 no Brasil. Tal como o espírito da sociedade dos brancos vigente no final do século 19, que aceitou abolir a escravidão sem a necessária inclusão dos ex-escravos e suas gerações, segue o objetivo golpista neste início do século 21.
Parcela importante da população poderá continuar a fazer parte do Brasil, porém, sem usufruir de suas oportunidades, na medida em que o Estado tenderá ao exercício dos monopólios sociais, econômicos e políticos aos privilegiados de sempre. Quem viver verá, infelizmente.

Dessa vez, o sangue vai jorrar! - Conversa Afiada Paulo Henrique Amorim



Dessa vez, o sangue vai jorrar!

Ali Kamel não é o Golbery nem o Gaspari é o Rubem Fonseca
publicado 27/03/2016
bessinha maquinista
Quer dizer que os Golpistas acham que vão dar o Golpe.

Um Golpe de Estado com base num impeachment sem crime de responsabilidade da Presidenta!

E a galera vai aceitar!

Ninguém vai reclamar.

Vai ver a Dilma ser deposta no jornazional…

E fica tudo… normal.

Quem vai liderar o Golpe?

O FHC Brasif; o Padim Pade Cerra, uma das maiores fortunas da América Latina e, agora, finalmente, inscrito na Lista da Odebrecht; o Aecím Liechenstín, mais delatado que o Pedro Corrêa, e salvo pela sóbria administração do Dr Janot; o empresário Gilmar, que também despacha no Supremo, quando não é enxotado de Lisboa; a Globo de Paraty; o Moro, os delegados aecistas, que a Conceição Lemes descreve com pena implacável; e os procuradores que morrem de medo da delação do Marcelo Odebrecht!

Esses é que vão dar o Golpe!

E a galera vai aceitar.

Vão dar o Golpe para entregar o poder ao Temer ou ao Cunha!

E a galera vai aceitar!

Vão dar o Golpe para o Temer e o Cunha, na Presidência da República, aplicarem o Consenso de Washington Diaraque.

Aqui já se aplicou o Domínio do Fato Diaraque.

Agora, o Temer quer aplicar o Consenso de Washington Diaraque, redigido pelo Wellington Moreira Franco, que não resiste a um grito de “pega ladrão !”, do Paulo Dote.

Segundo o Estadão, em comatoso estado, o programa do Golpe é assim, conforme descrito nesse domingo 27/03:

- cortar o dinheiro do Bolsa Família;

- revisão da abrangência de todos os programas sociais;

- revisão da CLT;

- cortar os programas ProUni e Fies;

- tornar o SUS mais eficiente, ou seja, mandar os pobres de volta para a sarjeta;

- abertura comercial desenfreada, ou seja, deixar os produtos americanos entrarem à vontade;

- e a joia da coroa: privataria forte.

Ou seja, entregar a Petrobrax à Chevron do Cerra!

E a galera vai aceitar!

Um programa como essa “Ponte para o Futuro” do Wellington, na verdade, é uma ponte para os Estados Unidos.

Tentar repetir 1964, quando o Governo americano mandou uma frota descer o Atlântico para dar apoio ao Golpe contra Goulart.

É essa a ponte do Wellington!

Chamar o Governo Obama (ou Trump) para o Golpe!

(Esse Mino, esse Mino… Não é ele quem suspeita que o Moro seja da CIA?)

E a galera vai aceitar!

Que pretensão: o Wellington deve pensar que é o Wellington!

Quá, quá, quá!

E a galera vai aceitar!

E o que o ex-piauiense Wellington faz com o Nordeste?

Lança ao mar?

Todos os governadores do Nordeste já disseram NÃO ao Golpe.

Se preciso for, põem a Polícia Militar na rua para garantir a Democracia.

Como é que faz, Moreirinha, gato angorá dos militares?

O Golpe só vale em São Paulo e em Diamantino?

Quero ver o Requião deixar ter Golpe em Curitiba!

Os brizolistas deixarem ter Golpe em Porto Alegre!

A Jandira deixar ter Golpe no Rio!

Ainda bem que o Rui Falcão, presidente do PT, advertiu seus simpatizantes, num texto na internet: “queremos a paz, mas não tememos a guerra”.

Mino Carta sempre disse que esse pais só toma jeito quando houver um banho de sangue.

É o jeito que ele pode vir a tomar.

Os golpistas acordaram o legalismo do brasileiro.

Um legalismo que ultrapassa e transcende o próprio PT.

Os metalúrgicos da Ford e da Volkswagen no ABC já estão de olho na ponte do Moreirinha.

Uma das lendas urbanas, como disse o Ministro Aragão na Carta Capital, é que o povo não está nem aí.

Faz parte do cardápio dos historialistas do Globo e da Companhia das Letras supor que você pode dar Golpe à vontade, que a galera vai aceitar, numa boa.

Que o Feiticeiro, o Golbery, e o Bestalhao, o Geisel, Fundadores da Democracia, botaram e tiraram a ditadura quando bem entenderam e o povo… nem aí!

2016 não é 1964.

Ali Kamel não é Golbery, nem o Historialista é Rubem Fonseca!

Dilma não é Jango.

Lula está vivo!

Em 1964 não tinha internet nem blogueiro sujo!

E a galera não vai aceitar.

Em tempo: Mino está excepcionalmente otimista. Acha que, antes do derramamento de sangue, mais próximo do que nunca, ele admite, mas antes disso o Golpe se estrumbicará.

Como essa composição do genial Bessinha!

Em tempo2: no livro "O Quarto Poder", que se vale do excelente trabalho "1964- A Conquista do Estado", de René Armand Dreifuss, há pormenorizada descrição do papel do general Golbery e de seu escriba de preferência, Rubem Fonseca, no IPES, organização financiada pelos americanos para derrubar Jango. Hoje há vários IPES por aí afora, a começar por Curitiba.


Paulo Henrique Amorim

sábado, 26 de março de 2016

No fascismo, o mito substitui a razão - Fernando Brito para Tijolaço

No fascismo, o mito substitui a razão

baco
O texto é de 2014 e o autor é português, mas sua leitura é absolutamente necessária em tempos como os que estamos vivendo.
As afirmações, quando não os berros, prescindem de raciocínio ou, até, de racionalidade.
São mitômanos e o mito é “o produto de uma determinada classe social dominante que acaba por ser incorporado pelos membros da classe dominada, mesmo quando vai contra os seus próprios interesses.
Foi publicado originalmente no blog Chuva Ácida, de Joinville, ao qual peço licença para “”furtar” o ótimo texto.

Barthes e os petralhas, esquerdistas, comunas…

José António Baço
O tema de hoje é a vulgata que todos estamos habituados a ver repetida aqui no blog ou nas redes sociais. “Cuba”, “Venezuela”, “bolivarismo”, “esquerdista”, “petralha”, “comuna” e por aí vai. Quem profere expressões como essas julga ser portador de uma verdade inquestionável. Ou seja, as pessoas acreditam nos poderes mágicos de palavras que, uma vez emitidas, lançam um anátema inescapável sobre o interlocutor.
O fato é que todas essas palavras são cifradas e fazem parte de uma formação que o pensador francês Roland Barthes denominou “mito”. Uma advertência: a popularização da palavra levou a uma distorção do seu sentido. Barthes mantém o conceito no seu significado tradicional filosófico, ou seja, o de um discurso alegórico ou narrativa lendária que pretende dar um fundamento de natureza para a construção dos valores básicos dos povos.
O semiólogo transporta esse conceito para os tempos modernos, pois, em seu entender, o quotidiano das sociedades contemporâneas está repleto de mitos – os pequenos e os grandes – que devem ser decifrados e revelados. Uma tese que ganha corpo com a revolução digital. Apesar de ter mais de meio século, a teoria do mito mantém o seu fulgor e é uma ferramenta teórica que permite descortinar, de maneira eficiente, as contradições que marcam a evolução da sociedade atual.
O mito é o meio para um fim: a imposição de uma certa ideologia (entendida aqui no sentido marxiano, como uma consciência deformada) para a legitimação de uma ordem estabelecida. O mito encontra-se espalhado por todo o tecido social, seja no direito, na moral, na educação, na família ou na política. Mas é nos veículos de comunicação de massa – os grandes vetores de produção simbólica dos nossos tempos – que ele se torna mais cintilante.
O mito tem a função de naturalizar a história e engessar o mundo, de forma a impedir a transformação. Neste contexto, o pensador faz uma denúncia da ideologia burguesa e pequeno-burguesa (o pequeno-burguês é o indivíduo por quem ele nutre uma profunda antipatia), que cria uma espécie de falsa natureza. Mas o que se entende por naturalização da história? É fazer com que os indivíduos aceitem determinados factos como naturais, negligenciando as suas implicações sociais e históricas.
O mito é, portanto, o produto de uma determinada classe social dominante que acaba por ser incorporado pelos membros da classe dominada, mesmo quando vai contra os seus próprios interesses. Produzir essa aceitação – pela naturalização – é a sua função. Enfim, mito e ideologia são parentes muito próximos: entrelaçam-se, confundem-se e são categorias incontornáveis para desmascarar o processo de legitimação da sociedade burguesa.
O mito tem que ser invisível e natural, porque a sua identificação apontaria sempre para uma tentativa de manipulação. Barthes diz que o mito não é nem uma mentira nem uma confissão: é uma distorção. A sua função, na passagem da história à natureza, é despolitizar os fatos, transformando-os em coisas simples, inocentes. Não interessa a interdição, mas a exposição. É por isso que todos os dias a vulgata citada no início deste texto é repetida ad nauseam.
Barthes diz que o mito e a direita andam atrelados. E quando está no campo de atuação da direita, o mito toma posse de tudo, da justiça, da moral, da literatura, da estética, etc. E o mais importante: o mito precisa de uma certa fraseologia e os slogans têm um papel insubstituível neste contexto. A frase feita ajuda a apreender e a justificar o mundo de uma maneira muito mais simples, permitindo uma constatação imediata e sem maiores reflexões.

Para usar um exemplo típico dos dias de hoje, quando se diz que estamos a caminhar para a ditadura comunista parece a constatação de uma realidade inequívoca. Feita a afirmação, referendada por um slogan repetido de forma incessante, não é preciso haver constatação e a historicidade é alijada. Mas na verdade estamos frente a um processo de dominação onde o dominado é quem repete essas expressões.

Mino Carta: Moro será da CIA?

http://www.conversaafiada.com.br/politica/mino-sera-moro-da-cia

terça-feira, 22 de março de 2016

Pretexto para impeachment atingiria outros 16 governadores, diz jurista - Rede Brasil Atual

POR LEGALIDADE

Pretexto para impeachment atingiria outros 16 governadores, diz jurista

Durante ato de juristas, professores e estudantes de Direito em defesa da legalidade, o advogado-geral da União engrossou o discurso da presidenta rechaçando a "judicialização" da política
por Redação RBA publicado 22/03/2016 18:20, última modificação 22/03/2016 19:00
AGÊNCIA BRASIL
francisco-cavalcanti.jpg
Para ex-desembargador atrasos em repasses do Tesouro aos bancos, as "pedaladas", não sustentam processo
São Paulo – “Desde o dia seguinte à eleição tentam encontrar pretextos para um impeachment. E pretexto para impeachment é golpe”, afirmou o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, durante ato realizado hoje (22) por juristas, professores e estudantes de Direito, no Palácio do Planalto. Durante a cerimônia, os presentes entregaram para à presidenta Dilma Rousseff o chamado “Manifesto pela Legalidade”.
A ação promovida pelo juiz federal de primeira instância Sérgio Moro, que determinou grampo telefônico de ligações envolvendo a presidenta, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – e seus advogados –, foi rechaçada pelos presentes. “Neste momento turbulento, além de se tentar um golpe, se tenta engrossar protestos com violação de direitos básicos. Não é possível que num Estado democrático de direito o sigilo seja tratado dessa forma”, reagiu Cardozo. “Se pudesse resumir o que está escrito em nossa Constituição, eu diria: não passarão”, concluiu.
Após o pronunciamento de Cardozo, a presidenta afirmou que a "judicialização" da política atenta contra as vias republicanas. “Pode-se descrever um golpe de Estado com muitos nomes, mas ele será sempre o que é: a ruptura da legalidade, atentado à democracia.”
O ex-desembargador Francisco de Queiroz Bezerra Cavalcanti, hoje professor titular de Direito na Universidade Federal de Pernambuco, disse que se "impeachment for pedaladas", referindo-se à tese que baseia o processo contra a presidenta, pelo menos vários governadores deveriam ser afastados pela mesma razão. Cavalcanti foi um dos convidados a discursar no evento. O jurista observou que os atrasos nos repasses do Tesouro a bancos públicos, apelidados de "pedaladas", não sustentam um processo.
"Se entendermos que é suficiente, temos que afastar pelo menos 16 governadores", disse. Para Cavalcanti o juiz responsável pela Lava-Jato errou ao tirar o sigilo das escutas no mesmo instante em que soube que Lula tinha sido nomeado ministro.

Sem atalhos

As diferentes formas de articulações que atentam contra democracia foram exemplificadas pela presidenta Dilma. “Não importa se a arma do golpe é um fuzil, uma vingança ou a vontade política de alguns de chegar mais rápido ao poder. Esse tipo de sinônimo, esse tipo de uso inadequado de palavras é o mesmo que usavam contra nós na época da ditadura para dizer que não existia preso político. Negar a realidade não me surpreende, por isso o nome é um só, é golpe.”
Dilma saiu em defesa das instituições e da legalidade em instâncias superiores. “A Justiça fica enfraquecida e a Constituição é rasgada quando são gravados diálogos da presidenta sem a devida, necessária e imprescindível autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). Confio que a Suprema Corte saberá garantir com imparcialidade, serenidade e sabedoria, todos os direitos e garantias”, disse.
A natureza política das recentes ações de setores do Judiciário foram criticadas por juristas como Menelick de Carvalho Netto, professor de Direito Constitucional da Universidade de Brasília (UnB). “É a Constituição que está em risco se uma maioria puder fazer o que quiser, quando quiser, a hora que quiser e com apoio da imprensa. A democracia requer limites e respeito a processos”, afirmou, "puxando" um coro com a plateia: “A verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura”.
O subprocurador-geral da República João Pedro de Sabóia Bandeira de Mello Filho relacionou as ações pró-impeachment a uma intenção de retrocesso em direitos sociais. “Os processos estão sendo manipulados com a finalidade claramente eleitoral de colocar no governo pessoas que vão fazer um retrocesso nas conquistas dos mais pobres. Querem flexibilizar a legislação trabalhista, querem acabar ou pelo menos diminuir programas sociais, enfim, querem que o pobre fique eternamente passando fome. Ora, nós que lutamos pelo direito como instrumento de justiça social não vamos assistir de braços cruzados”, afirmou.

A democracia vencerá - Marcelo Zero para Brasil 247

http://www.brasil247.com/pt/colunistas/marcelozero/222088/A-democracia-vencer%C3%A1.htm

segunda-feira, 21 de março de 2016

Golpe e Fascismo - Marcio Sotelo Felippe

Golpe e Fascismo
Nos regimes fascistas, a violência do Estado e a violação de direitos tem apoio de massa. Rubens Casara lembrou isto neste espaço com preciso senso de oportunidade.
É um traço característico do fascismo. O fascismo não era apenas violência ou terrorismo de Estado, ou, como sustentavam nos anos 30 os soviéticos, uma ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários do grande capital. Para além disso, buscava também um determinado “consenso”, dominar pela captura da consciência de uma parte do povo para dirigi-la contra outra parte. Para tanto era preciso desumanizar o diferente, visando transformar a sociedade em um organismo, de tal modo que o que estivesse fora de um determinado padrão, fosse social, econômico, político, étnico ou de conduta, deveria ser tratado como uma espécie de “doença” do meio social e portanto aniquilados ou completamente subjugados.
Essa domínio de novo tipo era uma reação ao bolchevismo. Pela primeira vez um Estado extinguia a propriedade privada dos meios de produção e conseguia manter essa estrutura, diferentemente da Comuna de Paris, que pouco durou. Os instrumentos clássicos de domínio político pelo uso da força quando a ordem burguesa era ameaçada podiam não ser suficientes. Era preciso mais, era preciso tornar a sociedade um todo “harmonioso”, era preciso dominar desde logo a partir da consciência.
Assim, na Alemanha nazista, o regime mais clássico e aperfeiçoado de fascismo, o mal, a “doença social”, eram os comunistas, os judeus, os homossexuais, os ciganos, as pessoas com deficiência, mas também qualquer indivíduo cujas convicções ou modo de ser representassem uma ameaça à ordem burguesa. Na sociedade ideal nazista só haveria um tipo étnico, uma convicção política, uma espécie de ser humano “purificado”, uma sexualidade e somente uma visão de mundo.
A forma de dominação fascista consistia, pois, além da violência do Estado, nisto de levar uma parte da sociedade a odiar a outra e vê-la como ameaça a si e ao bem-estar social. Além de ser uma forma absoluta de dominação porque ia diretamente à consciência, legitimava toda sorte de violência, arbitrariedade e violação de direitos para a exclusão social do diferente ou sua aniquilação. Para que um cenário desse tipo se consolide é preciso uma maciça propaganda e doutrinação em que a matéria-prima é o ódio social.
É isto que se vê na sociedade brasileira hoje. A tragédia do fascismo com seu componente necessário de ódio social. Em maio de 2013, um seminário realizado pela EMERJ (Escola da Magistratura do Rio de Janeiro) já debatia o processo de fascistização que despontava e que agora atinge patamares intoleráveis. Na mesma ordem de conceitos que desenvolvi acima, transcrevo aqui uma parte de minha intervenção naquela ocasião e remeto o leitor ao volume 67 da Revista da EMERJ:
“Sempre que de algum modo o diferente é tratado como inimigo, excluído do povo, desqualificado em sua humanidade, associado a desvalores, mau, falso, injusto por natureza, sujo, sempre que alguém procura uniformizar o meio social como um organismo por tal método, estamos diante de uma atitude fascista. A chave é essa: alguns são “o povo” e devem ser protegidos; outros não são o povo, não tem direitos e podem ser excluídos, seja pela violência, seja pelo Direito, seja pelo Estado” [1].
Para tudo isto é preciso a matéria-prima do ódio. O fascista é antes de mais nada um ser que odeia. Constrói-se um fascista fazendo com que o seu descontentamento econômico, o seu ressentimento social e a sua contrariedade transformem-se em ódio contra tudo que ele pensa ser uma ameaça à sua condição ou ao que o seu imaginário representa para si mesmo. É por isso que o fascismo grassa nas camadas médias, perdidas entre o pavor da proletarização e o anseio de ser burguês de verdade.
Por força do ódio multiplicam-se as manifestações de intolerância contra o excluído que ascende socialmente, contra quem expressa sua sexualidade de forma diferente de certo padrão que se supõe “normal”, contra quem milita em favor de outra estrutura social e é identificado como a esquerda. Multiplicam-se as manifestações de ódio contra tudo que é diferente da ordem social burguesa branca.
Mas neste específico momento chega ao ápice a intolerância contra a esquerda, que a doutrinação genericamente denomina como “petismo”.
Uma mirada nas manifestações de 13 de março permite ver claramente esse processo de fascistização: o inimigo, a doença que precisa ser exterminada para que o organismo social seja saudável tem o nome de petismo. Como o ódio suspende os juízos racionais, pode-se criar no imaginário das camadas médias um ser irreal, capaz de todas as perfídias, completamente mau e detentor do monopólio da corrupção, portador de uma natureza humana degenerada. Esse ser irreal, essa abstração desprovida de qualquer racionalidade, tornou-se concreto representado na figura do ex-presidente Lula. Ele não é como todos os seres humanos, dotado de algumas virtudes e alguns defeitos. Não é como todos os outros políticos, que se pode ver com desconfiança mas tolerar. Lula é diferente. É mostrado como a encarnação absoluta do mal.
A racionalidade instrumental do fascismo precisa do irracional da massa. A massa branca da avenida Paulista votou por décadas em Maluf sabendo que era corrupto, assistiu passivamente a compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique e não bate panelas para Cunha ou para ladrões de merendas. Nunca se indignou diante da miséria de parte da população. A corrupção somente movimenta essa massa branca quando contingências permitem associá-la à esquerda; e aí se reproduz o clássico esquema fascista de dominação pela captura da consciência, manipulação e propaganda maciça que permitem legitimar a violência e os mecanismos repressivos. Porque contra o mal tudo é permitido e tudo convém.
O que isto tudo significa, na verdade, é mais um capítulo da velha luta de classes. O fascismo não é um fenômeno cultural ou singelamente político, mesmo que contenha necessariamente tais aspectos. A sua causa reside na luta pela apropriação da riqueza e manutenção de privilégios. O que ora está em jogo é quem perde e quem ganha na apropriação de patrimônio e renda. Se tiver golpe, haverá o assalto definitivo ao pré-sal, a perda da Petrobrás, a destruição da CLT, o aniquilamento de direitos e políticas públicas de interesse das camadas populares porque a crise diminuiu a possibilidade de acumulação.
Nessa perspectiva, o mandato da presidenta importa pela defesa da legalidade democrática e pela sua eficácia estratégica, nunca pelo que modo como ela governa. Quem ganhar acumula força. E o que eles querem é dar o passo decisivo para o domínio político e social completo, para reduzir a esquerda à insignificância, porque é ela o obstáculo efetivo como força social. Vai ter golpe ou não vai ter golpe significa isto: quem vai ser a força social hegemônica nas próximas décadas.
Para a parcela lúcida e racional da sociedade é o momento de combater o bom combate, pela justiça, igualdade e solidariedade social. No mais, lembrando o que disse Unamuno aos fascistas, se vencerem, não convencerão. Porque para convencer é preciso a razão. Se vencerem, em algum momento resgataremos a razão.
Marcio Sotelo Felippe é pós-graduado em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Paulo. Procurador do Estado, exerceu o cargo de Procurador-Geral do Estado de 1995 a 2000. Membro da Comissão da Verdade da OAB Federal.

REFERÊNCIAS
[1] http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista67/revista67_453.pdf (Revista da Emerj, no. 67)